Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, setembro 19, 2011

Jogos de ilusão

NOSSOS políticos e os cartolas do futebol não perdem oportunidade para fazer uma grande festa, na qual possam aparecer bem diante do público que criteriosamente escolhem para essas celebrações e, sobretudo, diante das câmeras de TV. Na última Sexta-feira, 16, ambos tiveram mais uma dessas oportunidades. Faltando exatamente mil dias para o início da Copa do Mundo da Fifa e, por isso, aconteceram festejos nas 12 metrópoles que sediarão os jogos no Brasil em 2014. Autoridades de diferentes níveis, políticos em geral e dirigentes esportivos procuraram mostrar ao distinto público que os preparativos para o grande evento estão caminhando no passo adequado.

NAQUILO que interessa diretamente a eles, políticos e cartolas, de fato, as coisas começam a caminhar em passo um pouco menos defasado em relação ao que foi programado. Mas os cidadãos brasileiros, que trabalham e pagam impostos, não têm motivos para festejar, pois, daquilo que a Copa do Mundo da Fifa poderá resultar em benefícios para a população em geral, quase nada foi feito até o presente momento.

APÓS inúmeros desencontros, controvérsias, discussões, embargos por órgãos de fiscalização dos atos da administração pública ou pela Justiça, finalmente saíram do papel e estão em andamento as obras dos 12 estádios esportivos. Foram essas as obras que os organizadores da Copa do Mundo da Fifa de 2014 apresentaram na última Sexta-feira ao País como demonstração de que tudo caminha bem.

E NA maioria dos casos, isso só foi possível com a disponibilização de imensa quantidade de dinheiro público, por meio de participações e financiamentos oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mesmo assim, algumas das obras de estádios esportivos - entre elas as da Cidade de São Paulo (SP) - não estarão prontas para a realização da Copa das Confederações em 2013, que, do ponto de vista da organização, é considerada um ensaio para a Copa do Mundo da Fifa a realizar-se no ano seguinte.

ENTRETANTO, as obras de infraestrutura urbana e de transportes, que interessam diretamente à população - e aos contribuintes, em particular, que arcarão com a maior parte dos custos da realização deste evento do Fifa no País -, estão muito atrasadas. Para justificar o gasto de dinheiro público em ações de apoio ao evento, o governo federal vem afirmando que as obras complementares - programadas para dar mais segurança e conforto aos turistas e jornalistas que virão ao País em grande número em 2014 e facilitar sua movimentação dentro das metrópoles que sediarão os jogos e entre elas - resultarão em benefícios para toda a população.

PORÉM, enquanto os cartolas já têm alguns motivos para comemorar - e eles não precisam de muitos para fazer isso -, a população ainda espera. Quase quatro anos depois da escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo da Fifa e dois anos depois de definidas as 12 cidades-sede, 64% de 81 empreendimentos definidos como essenciais para a realização da competição não saíram do papel. Isso, ressalve-se, está em relatório do próprio governo sobre as obras da Copa de 2014.

DENTRE as 49 obras no setor de locomoção planejadas para as 12 metrópoles, apenas 9 obras foram iniciadas. São monotrilhos, trens e corredores expressos, a um custo total de R$ 12,1 bilhões. O plano do governo prevê para a Cidade de São Paulo (a maior e mais importante metrópole brasileira) obras no total de R$ 2,86 bilhões, mas, até agora, não foi definido nenhum projeto.

QUANTO a aeroportos, há obras em apenas 8 das 13 metrópoles - as sedes dos jogos mais Campinas (SP) por onde circularão os torcedores e os jornalistas. O plano do governo prevê obras em infraestrutura turística em sete portos, ao custo de R$ 898 milhões, mas elas também continuam no papel.

NO último mês de Maio, o governo anunciou que as obras de transporte público para a Copa do Mundo que não fossem licitadas até o final deste ano seriam excluídas da lista e não receberiam tratamento prioritário. Mas, diante do atraso comprovado pelo relatório oficial, admite afrouxar os prazos. "Não é razoável retirar uma obra se a licitação passar de 2011, mas ela for feita em 12 meses. Se couber no prazo-limite (dezembro de 2013), será admitido um novo prazo", disse o ministro de Estado do Esporte, Orlando Silva (PCdoB-SP).

SEM as mínimas condições de fazer o que anuncia, o governo vai adiando prazos, aliviando condições e alegrando os cartolas. Enquanto isso, a população espera. Sentada!