Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, abril 22, 2012

Dando nome aos bois

A CPMI do Cachoeira finalmente ganha corpo, com a reunião das assinaturas necessárias e a indicação de seus integrantes para o ato de instalação. Em boa hora.

FALANDO com Imprensa após homenagem que recebeu na Câmara dos Deputados, disse o ex-presidente da República (1995-2002), Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP): “Acho que o País cansou. Então, talvez seja o momento de o Congresso Nacional crescer, e fazer uma CPMI que vá à raiz das questões”.

NA raiz das questões estão fenômenos como o contraventor Carlinhos Cachoeira, instalado nas dobras do governo do Estado de Goiás, manipulando políticos como o senador goiano, Demóstenes Torres (sem partido), ou a Construtora Delta, cujo proprietário, Fernando Cavendish, grande executor de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), se gaba de dobrar políticos pondo 30 milhões nas mãos deles.

JÁ HÁ tempos que o povo deste grande e bobo País convive com a corrupção entalada na garganta. De repente, parece que um limite é ultrapassado. E acontece o inédito: todos a favor da criação da CPMI, governistas e opositores igualmente sorridentes, mostrando listas de assinaturas. Supõe-se que houve erro de cálculo, a começar pelo ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP), que tocou a ferro e fogo a ideia, porque achava que apanhava políticos da Oposição — em especial o governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), seu desafeto. Mas a euforia petista já refluiu, porque, como se sabe, ninguém sabe como termina uma CPMI.

OUTRA expectativa do Partido dos Trabalhadores (PT) era de que a CPMI do Carlinhos Cachoeira atrapalharia o ritmo do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da questão do Mensalão. Mas já se sabe que não vai ser assim. As duas coisas podem perfeitamente caminhar pari passu. Quem afirma é o novo presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, que foi explícito ao dizer que é preciso andar rápido, porque há o risco de prescrição de alguns delitos daquela quadrilha.

TAMBÉM, há o risco de esse andamento conflitar com o calendário eleitoral, porque, a partir de Julho, ministros do STF serão também ministros do Superior Tribunal Eleitoral (STE). Mas isso não impedirá o julgamento. Cobra-se pressa, no STF, do relator-revisor, ministro Ricardo Lewandowski. Como já foi dito, ninguém quer passar à História como coveiro desse processo. E Lewandowski já manifestou que seu parecer sairá muito em breve.

O JULGAMENTO é necessário, entre outros motivos, para extinguir a alegação esdrúxula de que toda a história não passa de uma farsa. CASO fosse uma farsa, a Procuradoria Geral da República (PGR), que ofereceu a denúncia em 2006, e o STF, que no ano seguinte transformou a denúncia em processo criminal, seriam coadjuvantes. Mas não é assim: trata-se de um julgamento crucial, porque o que aconteceu em 2005 foi a mais audaciosa tentativa de que se tem notícia de comprar um Parlamento. “O cruzamento dos dados bancários e a quebra de sigilos possibilitaram a verificação de repasses de verbas a todos os beneficiários”, disse o então denunciante procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, quem usou o termo “sofisticada organização criminosa” para descrever a operação, citando nominalmente, como envolvidos, José Dirceu (PT-SP), Delúbio Soares (PT-GO) e José Genoíno (PT-SP).

É TUDO isso que passará agora pelo crivo do STF, assim que o ministro Lewandowski entregar o seu relatório. O ministro Ayres Britto explica que colocar para julgar com brevidade não significa pré-julgamento, ou predisposição para condenar. Mas o necessário é que, sem perder a objetividade, as coisas sejam chamadas pelos seus próprios nomes.