Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, junho 09, 2010

Evoluções no comércio exterior

A CHINA - o maior mercado para as exportações brasileiras - poderá ser forçada a reduzir seu ritmo de crescimento. Especialistas apontam pelo menos três problemas graves na economia do país. A atividade está muito aquecida, há uma grande bolha no setor de imóveis e os governos provinciais e locais estão muito endividados. Mesmo com a redução de 13,9% em relação a abril, a venda de 1,2 milhão de veículos em maio ainda foi 29,7% maior que a de um ano antes. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em ritmo equivalente a 11,9% ao ano.

AS AUTORIDADES têm tentado controlar a expansão dos negócios, mas com medidas suaves. Houve um aperto moderado na política monetária e, além disso, o governo anunciou a criação de um imposto anual sobre residências para conter a alta de preços dos imóveis. Mas o problema da bolha chinesa é mais grave que o problema nos Estados Unidos da América (EUA) e do Reino Unido da Grã-Bretanha, comentou o economista Li Daokui, professor da Universidade Tsinghua e membro do Comitê de Política Monetária do Banco do Povo, a autoridade monetária chinesa.

E O economista Fan Gang, professor da Universidade de Beijing e também membro do Comitê de Política Monetária da República Popular da China, chamou a atenção para o crescimento da dívida pública, resultante em grande parte dos empréstimos tomados por governos provinciais e locais.

JÁ EM 1994 uma lei proibiu esses governos de tomar empréstimos bancários ou por meio da emissão de títulos. Para enfrentar a crise de 2008, o governo central aumentou seus gastos e estimulou os demais níveis administrativos a investir em obras de infraestrutura.

E ENTRE 2008 e 2009 os créditos bancários para esses investimentos aumentaram de US$ 150 bilhões para US$ 900 bilhões e os governos provinciais e locais passaram a dever quase 20% do PIB. A situação ainda é controlável, segundo o professor Gang, mas o governo central terá de impor controles aos empréstimos.

PORÉM não só a China dá sinais, na Ásia, de crescimento econômico muito acelerado. Também a economia indiana tem-se expandido rapidamente, com risco de pressões inflacionárias. No primeiro trimestre, o PIB da Índia aumentou à taxa anualizada de 8,6%. Nos 12 meses terminados em Março último a economia daquele país acumulou um crescimento de 7,4%. Houve, portanto, uma forte aceleração no começo de 2010. Com a forte ampliação do consumo, os preços tendem a subir e a autoridade monetária indiana provavelmente será forçada a elevar os juros, segundo especialistas.

O AQUECIMENTO da economia na China e em outros países emergentes, principalmente da Ásia, tem permitido ganhos importantes para os exportadores de matérias-primas. O Brasil é um dos principais beneficiários. A China foi no ano passado a principal fonte de receita comercial do País e está mantendo essa posição em 2010. De Janeiro a Maio deste ano, as vendas para o mercado chinês, US$ 10,6 bilhões, foram 14,85% maiores que as de um ano antes e representaram 14,8% da exportação total do Brasil. Nesse período, os EUA proporcionaram 10,1% do valor faturado pelo País.

CONSIDERANDO blocos e regiões, o mercado asiático aparece como principal destino das exportações brasileiras, com participação de 26,6% no total das vendas. América Latina e Caribe ficaram em segundo lugar, de Janeiro a Maio, com 24,3%, e a União Europeia (UE) em terceiro, com 21,8% - um resultado notável, quando se considera o baixo nível de atividade na maior parte da Europa.

A ECONOMIA norte-americana cresceu no primeiro trimestre em ritmo equivalente a 3% ao ano, segundo a estimativa divulgada na última semana. Seu desempenho dificilmente será muito melhor neste ano e no próximo. A crise europeia ainda poderá estender-se por alguns anos.

OS PAISES emergentes, especialmente China e Índia, deverão continuar no pelotão de frente da economia mundial, mas com o risco de problemas causados pelo superaquecimento. Quase certamente enfrentarão problemas adiante, se não reduzirem seu ritmo de expansão nos próximos meses.

E SE o ajuste for sensível, parte do custo caberá com certeza aos fornecedores de matérias-primas, incluído o Brasil. Essa possibilidade é mais um motivo para o governo se preocupar com a evolução do comércio exterior.