Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Denúncia acatada

A RECENTE abertura de processo contra o senador Eduardo Brandão Azeredo (PSDB-MG), no Supremo Tribunal Federal (STF), por suposto envolvimento no chamado "valerioduto do PSDB mineiro", levou os peessedebistas a tentarem "desnacionalizar" o episódio. O objetivo é blindar o partido de envolvimento no escândalo e minimizar as acusações de uso de caixa 2 por parte de integrantes da legenda em Minas Gerais no ano de 1998.

NUM PRIMEIRO momento, a avaliação interna no partido é de que a sua secção regional em Minas Gerais saiu como maior prejudicada, - e indiretamente o governador do Estado, Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), um dos cotados para disputar a Presidência da República em 2010. Parece que a candidatura Aécio ficou mínima neste momento. Logo após o pronunciamento do plenário do STF, Aécio foi a público dizer que Azeredo "foi vítima do conturbado momento político pelo qual o País está passando”. Enquanto o governador mineiro defendeu publicamente o senador Azeredo, o governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), também pré-candidato à Presidência da República, não se manifestou publicamente sobre o assunto.

ALIÁS, Serra irritou-se com os pedidos para comentar a decisão do STF. "Eu não vou comentar esse assunto", afirmou o governador paulista. Questionado sobre o motivo, ele respondeu: "Porque não quero." Depois completou: "Só vou falar das coisas da região. Se ficar nesse tititi nacional, ninguém noticia o que está acontecendo aqui em São Paulo”, concluiu.

MAS, apesar da tentativa de desvincular o caso do “valerioduto” de 1998 em Minas do "mensalão petista" de 2005, quando houve o envolvimento do Partido dos Trabalhadores (PT) e de partidos da base aliada do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), num esquema de pagamento de mesada para parlamentares, a cúpula do PSDB avalia que o discurso da ética saiu chamuscado - justo no momento em que o maior aliado nacional do partido, o Democratas (DEM), está envolvido no “mensalão” brasiliense, empreendido no governo de José Roberto Arruda (DEM-DF) no Distrito Federal.

DE SEU turno, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, reconheceu problemas na prestação de contas e na arrecadação de recursos, mas disse não ter indícios de atuação direta do senador Eduardo Azeredo. O governador reconheceu que este sendo um momento difícil para a Oposição, considerando também as denúncias envolvendo o governador do DF, José Roberto Arruda. "Não foi um bom momento. Mas se me perguntarem se isso terá reflexo na eleição de 2010, não acho que terá", disse-me Aécio Neves.

O SENADOR Azeredo é acusado de uso de cargo público em benefício próprio (peculato) e lavagem de dinheiro num suposto esquema de desvio de recursos públicos para a campanha de 1998 visando a reeleição ao governo do Estado de Minas Gerais. O empresário e lobista Marcos Valério de Souza - personagem destacável do “mensalão do lullismo”, e empreendedor, ao lado do ex-poderoso Delúbio Soares, do “delubiovalerioduto do petismo”, teria operado o esquema de Minas Gerais. "Os marqueteiros do PT estão tentando confundir as coisas", me disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), para quem o caso de Azeredo é diferente do escândalo de 2005.

PROCURADO pela nossa reportagem, Azeredo não quis se pronunciar. Ele se reuniu com assessores e conversou com o presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Azeredo nega todas as acusações e diz que documentos anexados ao processo foram falsificados.

EM FORTALEZA (CE) o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) disse-me que não acredita no envolvimento de Azeredo no episódio de Minas Gerais. "Juntando a fragilidade das provas apresentadas, o documento citado contra ele é falso e, pelo que conheço de sua vida honesta, ética, tenho segurança de que ele não se envolveu de jeito nenhum", concluiu o deputado que, também, é advogado. E afirmou, ainda, que estaria disposto a ser testemunha de defesa do senador mineiro no processo criminal aberto semana passada no STF.

CIRO GOMES nos revelou ter ficado comovido com Azeredo, que tem declarado ser inocente. Segundo o deputado, estaria havendo uma confusão entre o “mensalão do PT” e caixa 2. "A acusação é de caixa 2 e nela não tem provado a participação do senador Eduardo Azeredo”.