Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, março 30, 2009

Sonho dos desesperados

Cada dia fica mais difícil para os imigrantes entrarem de maneira ilegal nos Estados Unidos da América (EUA) pela fronteira sul. O reforço de policiais e agentes de fronteira do Serviço de Imigração Norte-americano está quase tornando inviável o ingresso de ilegais no País.

Na tentativa de superar este forte esquema de segurança, há somente três alternativas: arriscar-se pelo deserto à noite e tentar fugir dos agentes e policiais bem equipados, com armas e tecnologia; subornar algum (ou alguns) agente(s) da fronteira ou se aventurar pelo mar.

Uma travessia marítima já vem sendo usada no Estreito da Flórida – tanto por cubanos, que usam a política dos pés secos/pés molhados, como por outros ilegais que cruzam a partir das Bahamas em lanchas dissimuladas que levam a bordo pessoas ocultas para enganar a Guarda Costeira Norte-americana.

Porém, no momento, o artifício passou a ser utilizado na Costa Oeste, com os contrabandistas de pessoas – conhecidos como coiotes – cobrando entre quatro e cinco mil dólares por pessoa para cruzar ilegais do México para os EUA.

É desnecessário revelar que as chances de sucesso são diminutas, porque os agentes e policiais norte-americanos dispõem de equipamentos e tecnologia bem mais avançados do que os dos infratores. E o número de detenção de ilegais vem aumentando consideravelmente, com os mais ousados atirando-se ao mar na tentativa de fugir dos oficiais norte-americanos. Infelizmente, muitos acabam se afogando.

O que não dá para entender é porque os latino-americanos – incluindo brasileiros - continuam a insistir nesta aventura perigosa. Os EUA vivem uma crise sem precedentes, com um elevado índice de desemprego, crise no mercado imobiliário, que absorve bastante empregados no setor da construção civil, e um forte esquema de perseguição aos ilegais, além de todo tipo de dificuldade, tais como proibição de tirar carteira de motorista e outros documentos que são mais utilizados pelos cidadãos norte-americanos.

Ademais, os imigrantes ilegais acabam sendo levados para um terreno extremamente perigoso, na fronteira entre México e EUA, onde se trava uma verdadeira guerra entre policiais dos dois países e os narcotraficantes mexicanos e contrabandistas de armas norte-americanos.

Este conflito provocou mais de sete mil mortes ligadas ao tráfico de drogas somente no ano passado e este ano a insegurança continua inalterada, apesar da Iniciativa Merida, uma ação conjunta entre os dois países para combater o poderio dos narcotraficantes, que conta com uma verba de US$ 1,5 bilhão.

Em recente visita a Cidade do México e Acapuco, a secretária de Estado Norte-Americano, Hillary Clinton, reuniu-se com autoridades mexicanas para reforçar o sistema de repressão às quadrilhas e admitiu que os consumidores de drogas norte-americanos também têm culpa em manter o esquema dos narcotraficantes, por causa da lei da oferta e da procura – se não houvesse consumidores, não haveria fornecedores. Simples assim.

Diante dessa situação, um conselho para os brasileiros que ainda pensam ser a vida nos EUA a realização do tal sonho americano: esqueçam! A situação por lá está bastante difícil, e deve demorar um bom tempo para melhorar. Portanto, não é o melhor momento para abandonar família e se lançar numa aventura que tem poucas chances de dar certo.