Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, julho 04, 2010

Pertinentes reflexões do ex-presidente da República

CAMPOS DO JORDÃO (SP) - REPUBLICAMOS aqui o artigo mensal (publicado neste Domingo, 04, pelos jornais O GLOBO, O Estado de S. Paulo e Zero Hora e suas respectivas agências de notícias) escrito por Fernando Henrique Cardoso - Professor Emérito da Universidade de São Paulo (USP), sociólogo, PhD em Ciências Humanas e Sociais, ex-senador da República (1987-94), ex-ministro de Estado das Relações Exteriores e ex-ministro de Estado da Fazenda (Governo Itamar Franco, 1992-94) e ex-presidente da República do Brasil (1995-2002). Avaliem sem paixões ou pré-conceitos. Indispensável na antevéspera da corrida sucessória.

"O MUNDO continua se contorcendo sem encontrar caminhos seguros para superar as consequências da crise desencadeada no sistema financeiro. Até a ideia (que eu defendi nos anos 1990 e parecia uma heresia) de impor taxas à movimentação financeira reapareceu na voz dos mais ortodoxos defensores do rigor dos bancos centrais e da intocabilidade das leis de mercado. No afã de estancar a sangria produzida pelas exacerbações irracionais dos mercados, outros tantos ortodoxos passaram a usar e até a abusar de incentivos fiscais e benesses de todo tipo para salvar os bancos e o consumo.

PAUL Krugman, mais recentemente, lamentou a resistência europeia à frouxidão fiscal. Ele pensa que o corte aos estímulos pode levar a economia mundial a algo semelhante ao que ocorreu em 1929. Quando a crise parecia acalmada, em 1933, suspenderam-se estímulos e medidas facilitadoras do crédito, devolvendo a recessão ao mundo. Será isso mesmo? É cedo para saber. Mas, barbas de molho, as notícias que vêm do exterior, e não só da Europa, mas também da zigue-zagueante economia americana e da letárgica economia japonesa, afora as dúvidas sobre a economia chinesa, não são sinais de uma retomada alentadora.

ENQUANTO isso, vive-se no Brasil oficial como se nos tivéssemos transformado numa Noruega tropical, na feliz ironia deste jornal em editorial recente. E em tão curto intervalo que estamos todos atônitos com tanto dinheiro e tantas realizações. Basta ler o último artigo presidencial no Financial Times. A pobreza existia na época da "estagnação". Agora assistimos ao espetáculo do crescimento, sem travas, dispensando reformas e desautorizando preocupações. Se no governo Geisel se dizia que éramos uma ilha de prosperidade num mundo em crise, hoje a retórica oficial nos dá a impressão de que somos um mundo de prosperidade e o mundo, uma distante ilha em crise. Baixo investimento em infraestrutura? Ora, o PAC resolve. Receio com o aumento do endividamento público e o crescente déficit previdenciário? Ora, preocupação com isso é lá na Europa. Aqui, não. Afinal, Deus é brasileiro.

SÓ que a realidade existe. A prosperidade de uns depende da de outros no mundo globalizado. Por mais que estejamos relativamente bem em comparação com os países de economia mais madura, se estes estagnarem ou crescerem a taxas baixas, haverá problemas. A queda nos preços das matérias-primas prejudicará as nossas exportações, grande parte delas composta de commodities. A ausência de crescimento complicará a solução dos desequilíbrios monetários e fiscais dos países ricos e isso significará menos recursos disponíveis para o Brasil no mercado financeiro global. Não devemos ser pessimistas, mas não nos podemos deixar embalar em devaneios quase infantis, que nos distraem de discutir os verdadeiros desafios do País.

INFELIZMENTE, estamos às voltas com distrações. Um cântico de louvor às nossas grandezas, de uma falta de realismo assustador. Embarcamos na antiga tese do Brasil potência e, sem olhar em volta, propomo-nos a dar saltos sem saber com que recursos: trem-bala de custos desconhecidos, pré-sal sem atenção ao impacto do desastre no Golfo do México sobre os custos futuros da extração do petróleo, capitalização da Petrobrás de proporções gigantescas, uma Petro-Sal de propósitos incertos e tamanho imprevisível. Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz. E o que se faz é graças a transferências maciças do bolso dos contribuintes para o caixa das grandes empresas amigas do Estado, por meio de empréstimos subsidiados do BNDES, que de quebra engordam a dívida bruta do Tesouro.

A ENCENAÇÃO para a eleição de Outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que diga, especialmente o que o "mercado" e os parceiros internacionais querem ouvir. Mas a própria candidata já alertou: não é um poste. E não é mesmo, espero. Tem uma história, que não bate com o que se quer que ela diga. Cumprirá o que disse?

NO México do PRI(Partido Revolucionário Institucional), cujo domínio durou décadas, o presidente apontava sozinho o candidato a suceder-lhe, num processo vedado ao olhar e às influências da opinião pública. No entanto, quando a escolha era revelada ao público - "el destape del tapado" -, o escolhido via-se obrigado a dizer o que pensava. Aqui, o "dedazo" de Lula apontou a candidata. Só que ela não pode dizer o que pensa para não pôr em risco a eleição. Estamos diante de uma personagem a ser moldada pelos marqueteiros. Antigamente, no linguajar que já foi da candidata, se chamava isso de "alienação".

ESCONDE-SE, assim, o que realmente está em jogo. Queremos aperfeiçoar nossa democracia ou aceitaremos como normais os grandes delitos de aloprados e as pequenas infrações sistemáticas, como as de um presidente que dá de ombros diante de seis multas a ele aplicadas por desrespeito à legislação eleitoral? Queremos um Estado partidariamente neutro ou capturado por interesses partidários? Que dialogue com a sociedade ou se feche para tomar decisões baseadas em pretensa superioridade estratégica para escolher o que é melhor para o País? Que confunda a Nação com o Estado e o Estado com empresas e corporações estatais, em aliança com poucos grandes grupos privados, ou saiba distinguir uma coisa da outra em nome do interesse público? Que aposte no desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo, para a cidadania e para o trabalho, ou veja o povo como massa e a si próprio como benfeitor? Que enxergue no meio ambiente uma dimensão essencial ou um obstáculo ao desenvolvimento?

ESTÁ na hora de cada candidato, com a alma aberta e a cara lavada, dizer ao País o que pensa". FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.

Mais recente pesquisa do Ibope aponta disputa acirrada

CAMPOS DO JORDÃO (SP) – COM a proximidade do início oficial das campanhas eleitorais, a pré-candidata governista Dilma Rousseff (PT-RS) e o pré-candidato oposicionista José Serra (PSDB-SP) aparecem tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial deste ano. Ambos tem 39% das intenções de voto, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa Estatística (Ibope) encomendada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

ESSA pesquisa foi realizada após Serra ganhar destaque em 20 anúncios de 30 segundos do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), exibidos em rede nacional de Rádio e Televisão, confirma o cenário captado nos últimos dias pelo Instituto Datafolha, que também apontou um empate técnico: Serra com 39% e Dilma com 38%.

INTERESSANTE é que pouco mais de uma semana, o Ibope havia divulgado uma primeira pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em que a pré-candidata do petismo aparecia como líder isolada, com cinco pontos porcentuais de vantagem em relação ao adversário oposicionista. Desde então, Zé Serra subiu quatro pontos porcentuais, e Rousseff oscilou negativamente um ponto. A pré-candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva (AC), oscilou de 9% para 10%.

O EMPATE entre os dois persiste na simulação de segundo turno - ambos aparecem com 43%. Rousseff aparece à frente, porém, no quesito expectativa de vitória. Para 45% dos entrevistados, ela será a eleita. Outros 34% preveem que Serra será o vencedor desse embate eleitoral.

O PRÉ-CANDIDATO do PSDB voltou a se distanciar de Rousseff no eleitorado feminino - nesse segmento, lidera por 46% a 39%. A pesquisa Ibope anterior feita entre os dias 18 e 21 de Junho último mostrava, pela primeira vez, um empate entre os dois principais adversários entre as mulheres. Entre os homens, é a pré-candidata governista quem leva vantagem, por 48% a 39%.

ZÉ SERRA também se descolou da adversária na região Sudeste, onde voltou a ocupar a liderança isolada, com 41% a 34%. No Norte/Centro-Oeste, Serra virou o jogo: perdia por 40% a 34%, e agora lidera por 43% a 35%. No Sul, o Serra vence por 45% a 37%. Rousseff está à frente apenas no Nordeste (50% a 30%). Oscilações significativas nos resultados regionais não são incomuns. Como o número de entrevistas é relativamente pequeno em cada região, as margens de erro são grandes.


O IBOPE mediu o impacto da propaganda partidária exibida recentemente, e que foi utilizada pelos pré-candidatos como plataforma para se promover. Um terço dos entrevistados lembrou ter visto propagandas de Serra nas duas semanas anteriores ao levantamento. No caso de Rousseff, esse índice foi de 27%.


TODOS esses dados se referem ao cenário em que são apresentados aos entrevistados apenas os nomes dos três principais pré-candidatos. Quando os chamados "candidatos nanicos" são incluídos no levantamento, Serra e Rousseff empatam em 36%, e Marina Silva fica com 8%.

ESSA rodada de pesquisa ainda incluiu os nomes de Ciro Moura (PTC) e Mário de Oliveira (PT do B), que desistiram de concorrer às vésperas do prazo final para as convenções partidárias. Sexta-feira, 02, a liderança do minúsculo Partido Social Liberal (PSL) anunciou que Américo de Souza também não será mais candidato, o que reduziu o número de candidatos presidenciais para dez.

JÁ NA pesquisa espontânea, aquela em que os eleitores manifestam sua preferência antes de ler a lista de candidatos, Roussef lidera com 22% das intenções de voto. Serra vem a seguir, com 17%. Ainda há 12% de eleitores que citam o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) como seu nome favorito, apesar de ele não poder mais ser candidato nesse pleito.

HÁ EXATOS três meses do primeiro turno das eleições presidenciais, pouco mais da metade da população afirma ter "muito interesse" ou "interesse médio" pelas eleições. Nada menos que 44% admitem ter pouco ou nenhum interesse pela questão.

OS PESQUISADORES do Ibope ouviram 2.002 eleitores em 140 municípios de todo o País entre os dias 27 e 30 de Junho último. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número 17.245/2010. A margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.