Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 08, 2011

A desordem legitimada no parlamento nacional

RIO DE JANEIRO (RJ) – DE FATO é um falso escândalo a nomeação de um réu de um agente mensaleiro, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante Comissão da Câmara dos Deputados, assim como a indicação de um parlamentar, o palhaço Tiririca (PR-SP), que precisou provar não ser iletrado para assumir o mandato, como integrante da Comissão de Educação e Cultura, e a indicação do ex-atleta Romário (PSB-RJ), que no primeiro dia útil do ano legislativo assinou o ponto e foi jogar futevôlei na praia, para a vice-presidência da Comissão de Turismo e Desporto daquela Casa do Poder Legislativo brasileiro.

COMO também é um falso escândalo a participação na Comissão Especial de reforma política da Câmara dos Deputados, de um punhado de figuras carimbadas como o ex-prefeito municipal de São Paulo, o deputado Paulo Maluf, na lista de procurados da Polícia Internacional (Interpol); Valdemar Costa Neto (PR-SP), que renunciou de um mandato para não ser cassado por envolvimento com o Mensalão (2004-5); e José Guimarães, um assessor do qual foi preso com US$ 100 mil na cueca. A partir do momento em que foram diplomados pela Justiça Eleitoral, por terem merecido suficientes sufrágios populares, quando não votações consagradoras, para chegar (ou ficar) lá, eles se tornaram parlamentares por inteiro, com os mesmos direitos e oportunidades dos seus demais colegas.

ALÉM de não existirem meios mandatários, nenhum dos nomes que o noticiário tratou como se fossem a essência do Congresso Nacional - a instituição que os brasileiros provavelmente mais apreciam depreciar - se autonomeou para as funções que passaram a desempenhar. O petista João Paulo Cunha, por exemplo, não foi nomeado titular da CCJ, mas eleito. Recebeu para tanto 54 votos de seus pares. No discurso de posse, teve ao menos o decoro de não varrer para debaixo do tapete a sua condição de acusado no processo criminal em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) por lavagem de dinheiro, corrupção e peculato. Como não poderia deixar de ser se disse "muito atormentado" pelo processo que teria mudado a sua vida e que, "em breve, nós o resolveremos por completo".

AH, mas os políticos, em respeito à opinião pública, deveriam ter o pudor de não premiar com papéis de relevo na cena parlamentar colegas cujos currículos lembram antes folhas corridas, nem aqueles que são escancaradamente jejunos nas questões de alçada das comissões para as quais foram escolhidos. O argumento peca pela base. Respeito por respeito à sociedade, pergunte-se aos eleitores dos indigitados se acham que os seus preferidos deveriam ser "menos iguais" do que os outros ali em Brasília (DF).

E OS que pregam a moralização da política pela mudança do sistema eleitoral - como se disso, aquilo derivasse necessariamente - talvez devessem se dar conta de que a substituição do modelo proporcional pelo "distritão" (elegem-se os mais votados em cada Estado da Federação) ou pelo fatiamento dos Estados em distritos, para o mesmo fim, não reduzirá em nada as chances de sucesso de ídolos populares e populistas notórios. Talvez elas até aumentem. O problema do processo de reforma política, aliás, não está na presença de Maluf e alguns congêneres no colegiado de 41 deputados dela incumbidos. Está no fato de Senado Federal e Câmara dos Deputados terem sido incapazes, por rivalidades pueris e o personalismo de seus dirigentes, de criar uma comissão conjunta para cuidar do assunto. Formaram-se duas, com procedimentos e prazos próprios. No caso do Senado da República, 45 dias. Na Câmara dos Deputados, 180. Escândalo é isso, pelo que os partidários autênticos da reforma podem esperar de tamanho absurdo - uma irrelevância ou um monstrengo. Escândalo maior, sem dúvida, é o da morosidade do Judiciário. O Mensalão foi exposto em 2005, a denúncia acolhida em 2007 e só este ano o STF deverá iniciar o julgamento de seus 40 réus.

AQUELA mesma Corte não se empenhou o bastante para chegar a um acordo sobre a validade da Lei da Ficha Limpa já para as eleições de Outubro último. Nos votos, foram 5 pelo sim e 5 pelo não - e a matéria empacou à espera da posse do undécimo ministro, Luiz Fux, que assumiu o cargo na última Quinta-feira, 03. Funcionasse a Justiça como o País demanda, os Malufs ou teriam sido alijados da vida pública ou neles teriam assento de inequívoca legitimidade.

Desfile da Estação Primeira de Mangueira no Carnaval' 2011