Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, janeiro 31, 2012

Significativos sinais

FLORIANÓPOLIS (SC) – NA MESMA proporção em que demonstra enorme dificuldade, ou falta de disposição, para corrigir os efeitos negativos provocados na gestão governamental pela política licenciosa de alianças implantada por seu antecessor no cargo, a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), permanece firme na clara intenção de recolocar a diplomacia brasileira no rumo da cautelosa distância dos regimes totalitários cortejados pelo governo Luiz Inácio da Silva (2003-10) e seu séquito de denodados "anti-imperialistas". Sem alarde, Rousseff e a nova equipe do Itamaraty têm agido pontualmente para corrigir a lambança do lullismo na política externa brasileira, por meio de manifestações explícitas e reiteradas de que agora o Brasil está atento à preservação dos princípios democráticos como parâmetro para a orientação de seu relacionamento com a comunidade internacional e que não mais transige quando estão em jogo os direitos humanos.

RECENTEMENTE em louvável exemplo dessa nova realidade tivemos a decisão tomada pela presidente da República de conceder visto de entrada para que a dissidente cubana Yoani Sánchez possa visitar o País. A decisão de dona Rousseff, que não significa hostilidade com o regime totalitário castrista, mas apenas um exercício de coerência, contrasta fortemente com as atitudes assumidas pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), em sua última visita ao domínio dos irmãos Castro, quando meteu os pés pelas mãos em manifestações explícitas de vassalagem aos ditadores que há meio século se adonaram daquela Ilha. Entre outras barbaridades, “O-CARA!” comparou a criminosos comuns um dissidente cubano que acabara de morrer em consequência de uma greve de fome.
ONTEM dona Rousseff iniciou sua primeira visita oficial a Cuba como chefe de Estado. Nem por isso hesitou, poucos dias antes, em conceder o visto, mesmo podendo causar constrangimento ao regime de castrista, que já negou 18 pedidos de Yoani Sánchez para viajar ao exterior.

A JORNALISTA Yoani Sánchez tentou três outras vezes visitar o Brasil, sempre atendendo a convites. Uma delas, para o lançamento de seu livro “De Cuba, com carinho”. Jamais obteve permissão para sair da ilha. Desta vez, convidada para o lançamento de um documentário cinematográfico do qual participa, enviou carta a presidente Dilma Rousseff solicitando visto de entrada, o que é uma das condições que o regime cubano impõe para conceder autorização de saída. Sua intenção clara era exercer pressão sobre o governo cubano. É improvável que tenha êxito, até porque a presidente da República do Brasil com toda certeza não fará pressão sobre o presidente cubano, Raúl Castro. Nem se pode exigir isso de dona Rousseff, em termos diplomáticos, até porque seu recado já foi claramente dado.

O MESMO comportamento observado nas relações com o castrismo, o governo Rousseff (2011-14) tem aplicado a outros regimes antidemocráticos antes cortejados pela diplomacia à época do lullismo. O iraniano Mahmoud Ahmadinejad não tem feito segredo de seu descontentamento com a nova postura do governo brasileiro. Ele não engole o fato de o Brasil, logo no início do governo Rousseff, ter votado na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a favor da resolução que abriu caminho para a investigação de casos de violação de direitos humanos pelo regime islâmico iraniano. Em Caracas, o presidente-coronel venezuelano, Hugo Chávez, remói queixas parecidas, que repercutem na órbita bolivariana.

COM todas as críticas que possam ser feitas pelo que o governo de dona Rousseff ainda não mostrou em termos de política interna, é inegável que no plano externo se registraram avanços significativos, traduzidos por esse claro rompimento com o alinhamento automático a tudo o que fosse antiamericano, adotado pelo governo Luiz Inácio da Silva. Não significa, é claro, que os interesses nacionais recomendem uma política externa radicalmente oposta, de alinhamento automático com as posições do governo dos Estados Unidos da América (EUA). Até pelo seu expressivo desenvolvimento econômico, o Brasil assumiu um papel de potência emergente que exige, no limite do possível, um relacionamento externo pautado pela defesa aguerrida dos interesses nacionais, em frequente dissídio com os das potências estrangeiras.

POIS é com alívio que o País acolhe mais uma demonstração de que a diplomacia brasileira deixou de estar a serviço do exibicionismo populista do amigão dos Castros, Ahmadinejad, Chávez, Morales, Correa e adjacências.