Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, agosto 20, 2012

Resultados medíocres


BARRETOS (SP) – O RESULTADO da participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres (UK) deste ano foi um choque de realidade nos devaneios da administração pública federal petista. O desempenho, medíocre diante das alardeadas expectativas positivas do governo, serviu para mostrar que só impetuosidade patrioteira, com o consequente gasto descontrolado de dinheiro público, não basta para pavimentar o caminho ao Olimpo esportivo.

O COMITÊ Olímpico Brasileiro (COB) obteve R$ 331 milhões entre 2009 e 2012 para financiar a preparação dos atletas que representaram o País em Londres. O valor é R$ 101 milhões superior ao repassado no período entre 2005 e 2008, visando aos Jogos de Pequim (CH). O montante é resultado da chamada Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias federais ao comitê. Nesse total não está incluída a injeção de recursos do governo federal, que patrocina esportistas por meio de estatais e concede a chamada Bolsa-Atleta, ou da prefeitura do Rio, que deu R$ 10 milhões. Com isso, a verba para os atletas brasileiros chegou a R$ 2 bilhões, mas o País ficou apenas em 22.º lugar no quadro de medalhas. O mesmo valor foi gasto pelo governo do Reino Unido da Grã-Bretanha (UK), anfitrião dos jogos e que ficou em terceiro na classificação geral em 2012, com 29 medalhas de ouro, contra 3 do Brasil.

ESSAS 17 medalhas obtidas pelos brasileiros tornaram o desempenho do País equivalente à da competição anterior, na qual o Brasil subiu 15 vezes ao pódio. Nossa reportagem revelou que esse resultado gerou uma crise entre o COB, que se disse "satisfeito", e o governo Rousseff (2011-14), que esperava ao menos 20 medalhas. Colocando-se esse desempenho em perspectiva, porém, o resultado é ainda pior. Como mostrou a reportagem pelo Jornal Folha de S. Paulo na semana passada se o quadro de medalhas fosse um ranking de triunfos em relação ao número de atletas inscritos, o Brasil não seria o 22.º colocado, mas o 51.º. Como comparação, a Rússia, quarta colocada no quadro geral, ganhou uma medalha a cada 5,2 atletas, contra uma a cada 15,2 do Brasil. Tendo o Produto Interno Bruto (PIB) como critério, o País aparece em 68.º lugar - Cuba, cujo PIB é apenas 2% do brasileiro, obteve duas medalhas de ouro a mais que o Brasil e ficou em 15.º na classificação geral.

DIANTE de tal desempenho medíocre, não se pode esperar, como fazem crer as autoridades do esporte brasileiro, que o desempenho melhore muito na próxima Olimpíada (2016), no Rio de Janeiro (RJ), daqui a quatro anos. Já se fala em conquistar ao menos 30 medalhas, isto é, praticamente o dobro do obtido em Londres e em Pequim. "O Brasil tem de ter um desempenho esportivo compatível com o de país-sede da Olimpíada até 2016. Queremos despontar como potência olímpica", disse em Julho o ministro de Extraordinário de Estado do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ao embarcar para Londres para acompanhar a delegação brasileira. Essa utopia não é nova na gestão petista (2003-14). Em 2009, logo depois da escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016, o então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) disse que "o Brasil não vai chegar na Olimpíada para disputar meia dúzia de merreca de medalhas".

MESMO considerando-se que o Brasil terá representantes em todas as modalidades, é difícil acreditar que, de uma hora para outra, surjam vencedores em esportes que os brasileiros nem começaram a praticar. Ademais, o ciclo para a formação de um atleta olímpico competitivo é de pelo menos dez anos. Como mostrou reportagem do Jornal Valor Econômico essa semana, a maioria das empresas no Brasil prefere patrocinar atletas somente quando estes já são razoavelmente bem-sucedidos, em vez de apostar em promessas que só vão se cumprir - se isso acontecer - após anos de investimento. Especialistas em marketing esportivo dizem que, em países com tradição olímpica, como os Estados Unidos da América (EUA) – campeoníssimo em Londres 2012, empresas como Coca-Cola e McDonald's sabem que as estrelas das grandes competições só chegam a essa condição depois de um esforço de longo prazo e querem associar suas marcas a essa trajetória.

RESUMINDO tudo, medalhas não se compram. Elas são fruto não de voluntarismo ufanista, que é a marca da gestão petista, nem de oportunismo empresarial, mas de um esforço coordenado e persistente, para que o esporte olímpico seja introjetado na vida nacional não como um apêndice lúdico, do qual ouvimos falar de quatro em quatro anos, mas como parte da própria educação dos brasileiros.