Resultados medíocres
BARRETOS (SP) – O RESULTADO da participação
do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres (UK) deste ano foi um choque de
realidade nos devaneios da administração pública federal petista. O desempenho,
medíocre diante das alardeadas expectativas positivas do governo, serviu para
mostrar que só impetuosidade patrioteira, com o consequente gasto descontrolado
de dinheiro público, não basta para pavimentar o caminho ao Olimpo esportivo.
O COMITÊ Olímpico Brasileiro (COB) obteve
R$ 331 milhões entre 2009 e 2012 para financiar a preparação dos atletas que
representaram o País em Londres. O valor é R$ 101 milhões superior ao repassado
no período entre 2005 e 2008, visando aos Jogos de Pequim (CH). O montante é
resultado da chamada Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias
federais ao comitê. Nesse total não está incluída a injeção de recursos do
governo federal, que patrocina esportistas por meio de estatais e concede a
chamada Bolsa-Atleta, ou da prefeitura do Rio, que deu R$ 10 milhões. Com isso,
a verba para os atletas brasileiros chegou a R$ 2 bilhões, mas o País ficou
apenas em 22.º lugar no quadro de medalhas. O mesmo valor foi gasto pelo
governo do Reino Unido da Grã-Bretanha (UK), anfitrião dos jogos e que ficou em
terceiro na classificação geral em 2012, com 29 medalhas de ouro, contra 3 do
Brasil.
ESSAS 17 medalhas obtidas pelos brasileiros
tornaram o desempenho do País equivalente à da competição anterior, na qual o
Brasil subiu 15 vezes ao pódio. Nossa reportagem revelou que esse resultado
gerou uma crise entre o COB, que se disse "satisfeito", e o governo Rousseff (2011-14), que esperava ao
menos 20 medalhas. Colocando-se esse desempenho em perspectiva, porém, o resultado
é ainda pior. Como mostrou a reportagem pelo Jornal Folha de S. Paulo na semana
passada se o quadro de medalhas fosse um ranking de triunfos em relação ao
número de atletas inscritos, o Brasil não seria o 22.º colocado, mas o 51.º.
Como comparação, a Rússia, quarta colocada no quadro geral, ganhou uma medalha
a cada 5,2 atletas, contra uma a cada 15,2 do Brasil. Tendo o Produto Interno
Bruto (PIB) como critério, o País aparece em 68.º lugar - Cuba, cujo PIB é
apenas 2% do brasileiro, obteve duas medalhas de ouro a mais que o Brasil e ficou
em 15.º na classificação geral.
DIANTE de tal desempenho medíocre, não se
pode esperar, como fazem crer as autoridades do esporte brasileiro, que o
desempenho melhore muito na próxima Olimpíada (2016), no Rio de Janeiro (RJ),
daqui a quatro anos. Já se fala em conquistar ao menos 30 medalhas, isto é,
praticamente o dobro do obtido em Londres e em Pequim. "O Brasil tem de ter um desempenho esportivo
compatível com o de país-sede da Olimpíada até 2016. Queremos despontar como
potência olímpica", disse em Julho o ministro de Extraordinário de
Estado do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ao embarcar para Londres para
acompanhar a delegação brasileira. Essa utopia não é nova na gestão petista
(2003-14). Em 2009, logo depois da escolha do Rio de Janeiro como sede dos
Jogos de 2016, o então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP)
disse que "o Brasil não vai chegar
na Olimpíada para disputar meia dúzia de merreca de medalhas".
MESMO considerando-se que o Brasil terá
representantes em todas as modalidades, é difícil acreditar que, de uma hora
para outra, surjam vencedores em esportes que os brasileiros nem começaram a
praticar. Ademais, o ciclo para a formação de um atleta olímpico competitivo é
de pelo menos dez anos. Como mostrou reportagem do Jornal Valor Econômico essa
semana, a maioria das empresas no Brasil prefere patrocinar atletas somente
quando estes já são razoavelmente bem-sucedidos, em vez de apostar em promessas
que só vão se cumprir - se isso acontecer - após anos de investimento.
Especialistas em marketing esportivo dizem que, em países com tradição
olímpica, como os Estados Unidos da América (EUA) – campeoníssimo em Londres
2012, empresas como Coca-Cola e McDonald's sabem que as estrelas das grandes
competições só chegam a essa condição depois de um esforço de longo prazo e
querem associar suas marcas a essa trajetória.
RESUMINDO tudo, medalhas não se compram.
Elas são fruto não de voluntarismo ufanista, que é a marca da gestão petista, nem
de oportunismo empresarial, mas de um esforço coordenado e persistente, para
que o esporte olímpico seja introjetado na vida nacional não como um apêndice
lúdico, do qual ouvimos falar de quatro em quatro anos, mas como parte da
própria educação dos brasileiros.