O “golaço” de Obama na ONU
ACHO que não se pode dizer que a questão das sanções ao Irã roubou a cena da Cúpula de Segurança Nuclear, que nesta semana (Segunda e Terça-feira, 12 e 13 últimos) reuniu em Washington (DC) dirigentes e outros representantes de 47 países, porque o próprio promotor do evento, o presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Houssein Obama, se valeu dele para insistir na "rápida e agressiva" adoção, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, de uma nova bateria de penalidades contra o governo iraniano por suas recorrentes transgressões do Tratado de Não-Proliferação (TNP). Mas Obama foi mais bem-sucedido na conferência em si - o maior encontro de líderes estrangeiros em solo norte-americano desde aquele que criou a ONU, em 1945 -, do que nas suas exortações sobre o Irã.
UM RELEVANTE obstáculo às sanções, como se sabe, é a China. Um dos 5 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas com poder de veto, o país compra de Teerã 12% dos seus suprimentos de petróleo e gás - e não está especialmente ansioso em pavimentar o caminho para a renovada afirmação da liderança mundial dos EUA. À margem da cúpula, Obama se reuniu com o presidente Hu Jintao, e os porta-vozes da Casa Branca se apressaram a espalhar que a China havia enfim anunciado o seu apoio ao pleito norte-americano. Aparentemente, a versão não se sustém. A chancelaria chinesa logo fez saber que Pequim continua a preferir "o diálogo e o entendimento às sanções e pressões". É também a posição do Brasil e da Turquia, membros temporários do Conselho.
PORÉM, se continua incerto o desfecho da demanda norte-americana - cujo principal objetivo é o de confrontar o Irã com uma crescente coesão da comunidade internacional para que cumpra as suas obrigações como signatário do TNP -, o resultado da cúpula propriamente dita representou um progresso notável. Obama fez da não-proliferação e do controle dos arsenais atômicos o carro-chefe da sua política externa. Há um ano, em Praga, numa fala que contribuiu para ser contemplado, prematuramente, com o Prêmio Nobel da Paz, pregou o desarmamento nuclear, embora, realista, tenha admitido que não viverá para ver essa meta alcançada.
SUA PRIORIDADE imediata, em todo caso, era neutralizar agora o risco de uma organização terrorista como a Al-Qaeda ter acesso à bomba ou aos materiais (urânio altamente enriquecido ou plutônio) que lhe permitiriam montá-la. Na abertura da cúpula, cuja realização ele havia anunciado em Praga, Obama declarou essa eventualidade "a maior ameaça singular à segurança dos Estados Unidos, no curto, médio e longo prazos". É uma hipótese improvável, porém não impossível. Existem, disseminados por meia centena de países, cerca de 1.600 toneladas de urânio fortemente enriquecido e 500 toneladas de plutônio, o suficiente para a produção de umas 100 mil bombas. Bastam 50 quilos de urânio para fazer uma réplica daquelas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
EM SUMA, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), tem razão quando diz que "o modo mais eficaz de reduzir os riscos de que agentes não-estatais utilizem explosivos nucleares é a eliminação total e irreversível de todos os arsenais". Na prática, equivale a dizer que a melhor solução para o contrabando de armas é a eliminação da indústria bélica. Com os pés no chão, Obama conseguiu que 47 países assumissem o compromisso voluntário de participar de um plano internacional para a salvaguarda de materiais atômicos em um prazo de 4 anos. O plano deverá desembocar numa série de medidas relacionadas com o armazenamento, uso, transporte e contabilização de substâncias radioativas, especialmente urânio e plutônio.
ISSO não é pouca coisa quando se tem em mente, por exemplo, que o Paquistão, infestado de terroristas, se recusa a abandonar a produção de plutônio para a sua segunda geração de armas nucleares. Guardadas as proporções, a corrida armamentista entre o Paquistão e a Índia substituiu a que os EUA travavam com a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Os líderes dos EUA e da Rússia, por sinal, assinaram na semana passada um tratado de desarmamento que prevê a redução em 30% dos respectivos arsenais estratégicos. Significa mais, na diplomacia nuclear global, do que "jogar fora remédios vencidos", como comparou um desavisado Luiz Inácio da Silva.
UM RELEVANTE obstáculo às sanções, como se sabe, é a China. Um dos 5 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas com poder de veto, o país compra de Teerã 12% dos seus suprimentos de petróleo e gás - e não está especialmente ansioso em pavimentar o caminho para a renovada afirmação da liderança mundial dos EUA. À margem da cúpula, Obama se reuniu com o presidente Hu Jintao, e os porta-vozes da Casa Branca se apressaram a espalhar que a China havia enfim anunciado o seu apoio ao pleito norte-americano. Aparentemente, a versão não se sustém. A chancelaria chinesa logo fez saber que Pequim continua a preferir "o diálogo e o entendimento às sanções e pressões". É também a posição do Brasil e da Turquia, membros temporários do Conselho.
PORÉM, se continua incerto o desfecho da demanda norte-americana - cujo principal objetivo é o de confrontar o Irã com uma crescente coesão da comunidade internacional para que cumpra as suas obrigações como signatário do TNP -, o resultado da cúpula propriamente dita representou um progresso notável. Obama fez da não-proliferação e do controle dos arsenais atômicos o carro-chefe da sua política externa. Há um ano, em Praga, numa fala que contribuiu para ser contemplado, prematuramente, com o Prêmio Nobel da Paz, pregou o desarmamento nuclear, embora, realista, tenha admitido que não viverá para ver essa meta alcançada.
SUA PRIORIDADE imediata, em todo caso, era neutralizar agora o risco de uma organização terrorista como a Al-Qaeda ter acesso à bomba ou aos materiais (urânio altamente enriquecido ou plutônio) que lhe permitiriam montá-la. Na abertura da cúpula, cuja realização ele havia anunciado em Praga, Obama declarou essa eventualidade "a maior ameaça singular à segurança dos Estados Unidos, no curto, médio e longo prazos". É uma hipótese improvável, porém não impossível. Existem, disseminados por meia centena de países, cerca de 1.600 toneladas de urânio fortemente enriquecido e 500 toneladas de plutônio, o suficiente para a produção de umas 100 mil bombas. Bastam 50 quilos de urânio para fazer uma réplica daquelas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
EM SUMA, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), tem razão quando diz que "o modo mais eficaz de reduzir os riscos de que agentes não-estatais utilizem explosivos nucleares é a eliminação total e irreversível de todos os arsenais". Na prática, equivale a dizer que a melhor solução para o contrabando de armas é a eliminação da indústria bélica. Com os pés no chão, Obama conseguiu que 47 países assumissem o compromisso voluntário de participar de um plano internacional para a salvaguarda de materiais atômicos em um prazo de 4 anos. O plano deverá desembocar numa série de medidas relacionadas com o armazenamento, uso, transporte e contabilização de substâncias radioativas, especialmente urânio e plutônio.
ISSO não é pouca coisa quando se tem em mente, por exemplo, que o Paquistão, infestado de terroristas, se recusa a abandonar a produção de plutônio para a sua segunda geração de armas nucleares. Guardadas as proporções, a corrida armamentista entre o Paquistão e a Índia substituiu a que os EUA travavam com a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Os líderes dos EUA e da Rússia, por sinal, assinaram na semana passada um tratado de desarmamento que prevê a redução em 30% dos respectivos arsenais estratégicos. Significa mais, na diplomacia nuclear global, do que "jogar fora remédios vencidos", como comparou um desavisado Luiz Inácio da Silva.