Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, março 26, 2010

A conta e o risco de cada um

A SAÚDE da nossa economia depende, fundamentalmente, de um controle da demanda doméstica, cujo ritmo atual de crescimento a indústria nacional não tem plenas condições de atender. Isso gera pressões sobre os preços e obriga o País a recorrer demasiadamente a artigos e produtos importados, que, por sua vez, contribuem para a deterioração da balança comercial e do déficit das transações correntes do balanço de pagamentos.

NESTE nosso contexto atual da economia brasileira há dois fatores contribuindo para favorecer a aceleração da demanda: as transferências governamentais, que se fazem acompanhar pelo déficit primário das contas públicas, e a expansão do crédito sob todas as formas. A publicação pelo Banco Central do Brasil (BC) dos dados relativos ao crédito no mês de Fevereiro nos dá uma visão mais abrangente dos problemas.

NOS 12 meses, o total das operações de crédito cresceu 16,6%, muito acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Costuma-se destacar o fato de que o crédito representa uma porção reduzida do PIB: 44,9%, ante 45% no final do ano passado, enquanto em outros países ultrapassa 100% do PIB. Convém, entretanto, levar em conta que estamos num país em construção e que a profunda desigualdade na distribuição de renda não permite ainda que uma grande parte da população tenha acesso ao crédito bancário.

TAMBÉM É preciso verificar que existe entre nós uma estrutura de crédito totalmente diferente da de outros países. As pessoas físicas recebem créditos equivalentes a 15,05% do PIB, ante apenas 13,5% para as pessoas jurídicas. Os créditos destinados à habitação, que em 12 meses aumentaram 46,4%, representam, no entanto, apenas 20,5% dos outros créditos destinados às famílias, que no mesmo período aumentaram 17,8%. Existe, como se vê, um desequilíbrio no financiamento familiar, com preponderância para o consumo, sem falar ainda do uso dos cartões de crédito, que permite realizar compras financiadas por um ano ou mais.

OUTRAS anomalias emergem quando se leva em conta a taxa de juros: uma empresa paga um juro de 29,1% ao ano para capital de giro, mas seu empregado consegue crédito consignado a taxa de 27,5%. Todas as operações de crédito no Brasil são excessivamente caras, mas não se justifica o estímulo que foi dado aos consumidores em detrimento das atividades produtivas. Essa política creditícia se podia explicar num período de crise para estimular a economia. Hoje é tempo e hora de se pensar na sua revisão e forçar a população a comprar com parte da sua própria poupança.