Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, outubro 18, 2010

A greve dos bancários

RIO DE JANEIRO (RJ) – ENCERRADA na última Quinta-feira, 14, a greve nacional dos bancários foi a maior dos últimos 10 anos e, como coincidiu com o primeiro turno da eleição presidencial e com a campanha eleitoral do segundo turno, seu desfecho poderia levar a uma crise na Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), uma vez que os controladores dos bancos públicos têm interesses opostos aos donos dos bancos privados.

NO ESTADO de São Paulo, onde há a maior concentração de bancos privados do País, 54% das agências bancárias impedidas de funcionar, por causa da greve, são basicamente da Caixa Econômica Federal (CEF) e do Banco do Brasil (BB). Em outras regiões, a paralisia nessas duas instituições - que atendem à clientela de menor poder aquisitivo e executam operações que não são de interesse dos bancos privados - foi ainda mais forte, prejudicando, por exemplo, quem depende de uma instituição oficial para receber aposentadoria ou pensão.

OS BANCÁRIOS estávam pedindo um reajuste de 6%, a título de reposição da inflação, mais 5% de aumento real e a concessão do 14.º salário. Eles também reivindicavam três salários, a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR), elevações dos pisos para contínuos, atendentes de telemarketing e funcionários de portaria, escritório e tesouraria e o fim de metas de produtividade, que consideram abusivas. A categoria pleiteiava ainda um reajuste automático sempre que a inflação medida com base na variação mensal do Índice do Custo de Vida do (ICV) pesquisado pelo Departamento Intersindical de Representação Parlamentar (Dieese) ultrapassar 3%.

EXTENSÃO sindical da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), a Fenaban propôs um aumento de apenas 4,29% e rejeitou quase todas as demais reivindicações dos bancários. Os bancos públicos, cujos servidores têm direito à estabilidade, são os mais afetados pela greve. Como os dias parados costumam ser compensados, as greves nessas instituições costumam ser longas. Já os bancos privados, cujos funcionários podem ser demitidos a qualquer momento e não recebem pelos dias não trabalhados, resistem às pressões e não têm pressa em chegar a um acordo. Para tentar evitar que os sindicalistas impeçam a entrada de clientes nos bancos, os bancos privados chegaram a entrar nos tribunais com um pedido de interdito proibitório - instituto jurídico que impede manifestações nas portas das agências.

PORÉM, as negociações salariais no setor bancário ocorrem numa mesa única, que define as mesmas cláusulas tanto para os bancos públicos quanto para as instituições financeiras particulares. E é por isso que a Fenaban esteve próxima de um impasse. Como quase todos os dirigentes das instituições financeiras públicas vieram dos meios sindicais, são simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (PT) ou filiados ao partido e chegaram ao cargo por indicação política, no governo do presidente Luiz Inácio da Silva (2003-10), eles tendem a ser mais sensíveis do que os diretores dos bancos privados às reivindicações dos bancários. Além disso, como as pequenas cidades das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País são servidas somente pela CEF e pelo BB, o governo temia que o descontentamento da população dessas cidades acabe prejudicando a candidata governista Dilma Rousseff (PT-RS) em regiões onde ela foi bem votada no primeiro turno eleitoral.

É POR isso que os dirigentes dos bancos públicos pressionaram a Fenaban a chegar o mais rapidamente possível a um acordo, aceitando o que estava sendo pedido pelos bancários, cujo dissídio coletivo ocorreu no mês de Setembro. Uma mostra da disposição das instituições financeiras públicas a acatar o que estava sendo reivindicado pelos bancários foi dada pelo Banco Nacional Regional de Brasília (BRB), cuja diretoria acaba de fechar um generoso acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores das Empresas de Crédito (Contec). Por meio dele, os bancários terão um aumento de 12% - ou seja, 1% a mais do que o reivindicado pela categoria - e férias de 35 dias, entre outros benefícios.

E COMO essa greve se expandiu na última semana, os dirigentes dos bancos públicos temiam que ela pudesse alastrar-se ainda mais nos próximos dias. E como os bancos privados não querem ter seus interesses pautados por razões eleitorais, isso pode provocar uma crise na Fenaban nos próximos meses. Ademais os funcionários da CEF resolveram na mesma Quinta-feira, 14, manter o movimento grevista e continuar de braços cruzados.

E A população mais carente, o!...Deixa pra lá.