Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, junho 16, 2010

A marionete e seu guia

DONA Dilma Rousseff (PT-RS), estabeleceu o vosso guia Luiz Inácio da Silva (PT-SP), será apenas um nome para preencher o que chamou de "vazio" na cédula eleitoral eletrônica de 03 de Outubro próximo. "Eu mudei de nome e vou colocar a Dilma lá", discursou “O-CARA!” na convenção nacional do petismo que homologou a candidatura governista. Que outro governante, a não ser “O-CARA!”, teria a caradura de reduzir à absoluta insignificância a fiel seguidora a quem escolheu solitariamente para lhe suceder? Só mesmo um político que ama a si mesmo sobre todas as coisas e se tosta ao sol de uma superlativa popularidade poderia dizer com desprevenida franqueza o que desde sempre era óbvio a todos quantos acompanham a operação eleitoral lullista: a sua decisão de disputar, por interposta pessoa, o terceiro mandato que a Lei lhe veda.

“O-CARA!” não se pejou de humilhar a sua criatura, cuja incapacidade de respirar politicamente por si rivaliza com uma falta de apelo e carisma que resiste aos esforços dos melhores marqueteiros. Nem os 1.800 convencionais petistas reunidos em Brasília (DF), no último dia 13, tiveram algum momento de genuína empolgação ao longo do seu discurso de 50 minutos - salvo quando dona Rousseff se desmanchava em louvações ao patrono, o que fazia com patética insistência. Mas, para ele, a dignidade da candidata, para não falar em autonomia, é o que menos importa. Já se sabe que, tão logo termine a Copa do Mundo da Fifa, “O-CARA!” mergulhará ainda mais fundo do que até aqui na operação de sair pedindo votos para si sob outro nome.

O TEATRO do absurdo começou na própria convenção, concebida para exaltar a condição feminina de dona Rousseff. Nas pesquisas de intenção de voto, como se sabe, a maioria das mulheres prefere o adversário José Serra (PSDB-SP). O artificialismo da montagem ao menos foi coerente com o confronto postiço armado pelo lullismo entre "nós e eles, pão, pão, queijo, queijo", como se os aspirantes à Presidência da República fossem de fato ele e o antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). À candidata em carne e osso resta falar em "seguir mudando", mas "com alma e coração de mulher". Pode-se contar, durante a campanha, com uma proliferação de platitudes do gênero, testando a paciência daquela parcela do eleitorado que ainda acredita que os candidatos devem lhe oferecer "pão, pão, queijo, queijo", como sinônimo de propostas e prioridades.

PARA o candidato oposicionista Zé Serra, trata-se de um desafio. Não, evidentemente, porque lhe faltem uma coisa ou outra. Mas porque, nesta campanha presidencial que se avizinha, o lullismo fará tudo para manter engessada no molde plebiscitário, será pouco para o ex-governador de São Paulo (2007-10) contrapor o noviciado de sua oponente com a sua indesmentível experiência, como tornou a assinalar no último dia 12, em Salvador (BA), na convenção do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) que ratificou a sua indicação. "Não comecei ontem e não caí de paraquedas", disse então o candidato oposicionista. Zé Serra terá de se haver com “O-CARA!” que não se cansará de dizer que estará na cédula eleitoral eletrônica com outro nome. Até a convenção, Serra parecia pensar duas vezes antes de não criticá-lo. Chegou a afirmar, numa espécie de fuga para frente, que "está acima do bem e do mal".

E BEM diverso foi o seu tom na festa da Oposição na Bahia. Dessa vez, atacou a presidência imperial de Luiz Inácio da Silva, a sua convivência com a corrupção, o aparelhamento do Estado, as afinidades do “CARA!” com ditadores mundo afora. Duas passagens de sua fala foram especialmente pontudas. Na primeira, lembrou que "o tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para trás há mais de 300 anos", para emendar: "Luís XIV achava o que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim”. Na segunda, pregou "o repúdio da sociedade" a quem "justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que outros fizeram ou que foi levado a isso pelas circunstâncias". Estes "são os neocorruptos".

ZÉ SERRA teria decepcionado os 8 mil militantes presentes no evento que abre a temporada eleitoral propriamente dita se não fizesse as suas críticas mais pertinentes ao petismo e ao lullismo - ainda mais sob o impacto da revelação de que arapongas aparentemente a serviço da campanha de dona Dilma Rousseff quebraram o sigilo fiscal do vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira (PSDB-SP).

PORÉM, perante o eleitorado, Zé Serra não poderá transformar o incensado “CARA!” em alvo nem fingir que ele não existe.