Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, agosto 10, 2015

Esse é o Brasil

EM New York City durante viagem de férias do meio do ano aproveitei a oportunidade para visitar minha boa amiga Caroline San Martim que, como Sarah Edward, reside num edifício de dois andares com vista para o Central Park.


NASCIDA em Boston, após dois casamentos e com um filho já adolescente, a bela amiga psicanalísta mudou-se para a Big Apple. E lá nos reencontramos após pouco mais de um ano da última visita dela ao Brasil. Quando sorvemos um Chivas Salute naquela aprazível tarde de sol do Sábado.


E o Brasil? — (indagou Caroline) — O que vocês fizeram dele?


TRISTE…(respondi decepcionado) meu país incapacitado pelo populismo e pelos conchavos movidos a incontroláveis ambições.


— DESEQUILÍBRIO em todos os setores supostamente racionais e pouco afeitos ao exercício da análise cultural. Fácil falar em remédios financeiros e fórmulas legais, pois, conforme sabemos — (continuou a doce Caroline). — a última barreira, o derradeiro inimigo, é sempre a cultura: o conjunto das opiniões e de modos de agir que comandam os nossos corações.


GANHAMOS a guerra contra a escravidão. Mas o credo igualitário até hoje tenta controlar a competição pelos mais diversos racismos. Suprima-se uma barreira, e outra logo surge, conforme dizia Lévi-Strauss.


É IMPRESSIONANTE como não temos a mais ínfima noção de conflito de interesse. E como ainda tentamos regular o conflito advindo da junção de igualdade e liberdade (acelerado pelas redes sociais que garantem um extraordinário anonimato e uma irresponsável agressão a quem quer que seja) por meio do “Você sabe com quem está falando?”: pelos elos pessoais, abandonando leis e instituições. É chocante como usamos óbvias manifestações de interesses ideológicos na tentativa de justificar atos lamentáveis. No Brasil, a “política” legitima o ilegítimo, dai a indignação relativa aos seus engravatados e gorduchos atores. O redesenho da esfera política passa pela consciência de direitos e deveres de todos para com todos. Liberdade e igualdade são incompatíveis com o favor, com aparelhamento do Estado, com a ignorância, com a má-fé e com as liturgias dos cargos que exprimem um viés hierárquico. Sem reflexão e cabedal, caímos nessa lamentável tentativa de infantilização do povo brasileiro.


— O VELHO ranço aristocrático do Brasil passou para as esquerdas no poder — (disse Caroline). — E, hoje, o terrorismo intelectual tenta equacionar a indignação diante das épicas roubalheiras com “ódio” e “retrocesso”. Retrocesso seria não ficar indignado ao ver o Brasil ser mortalmente abatido pelo governo de um partido cuja bandeira era levá-lo, com ética, à justiça social.


ME dá mais um uísque, Carol! — pedi para ser confortado no fosso. Falamos dessas coisas desagradáveis e inevitáveis, depois saimos para jantar.


AINDA neste Agosto de Deus, numa peça de publicidade do Partido dos Trabalhadores (PT), vi o grande ator (diga-se de passagem!), José de Abreu (TV GLOBO), interpretando aquele mediocre personagem.


ESSA crise do Brasil real tem como centro um grandioso personagem (o da presidente da República) massacrado por uma péssima atriz. Há teatro na política, mas política não é teatro. O que não vale é acabar também com a peça, com o teatro e com os espectadores que pagaram caro o ingresso.


TAL como a democracia não acaba com o nosso gosto de opinar, estigmatizar, caluniar e roubar o bem comum...Esse é o Brasil!!!