Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, fevereiro 21, 2009

Sambinha de uma nota só

RIO DE JANEIRO - Alguns acreditam que os governadores Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP) disputam entre si a candidatura do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para as eleições presidenciais de 2010. Não disputam. Os dois têm um acordo. Como profissionais, farão de tudo para honrar tal acordo. Serra precisa de Aécio e Aécio precisa do governador do Estado de São Paulo, seja quem for o escolhido para ser o candidato do PSDB a Presidência da República em 2010.


O governador de Minas Gerais diz que é pré-candidato e cobra a realização de prévias. Serra, favorito nas pesquisas, concorda com as prévias, mas fica na muda. Ele teria sido convencido pelo presidente da legenda, o senador Sérgio Guerra (PSDB-CE) e pelo ex-presidente da República (1995-2002), Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), este não por acaso presidente de honra do partido, de que o melhor seria aceitar as prévias, mesmo que seja só para inglês ver, de modo a fazer um contraponto à exposição em massa na mídia da ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-RS).




É o Programa de Aceleração do Crescimento Econômico (PAC) de um lado e as prévias do tucanato, do outro. É aquele velho sambinha de uma nota só - sem qualquer improvisação.



A estratégia é uma só. Aécio finge que defende as prévias e Serra finge que concorda. Com isso, os líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) não têm um alvo para bater. É tudo o que os peessedebistas querem. Nem Serra nem Aécio querem atropelar o calendário eleitoral. O que seria de Serra se ele deixasse o Palácio dos Bandeirantes e andasse pelo País em pré-campanha eleitoral. E, de repente, com a crise financeira, estourasse um problema grave no Estado de São Paulo? Com certeza, seria crucificado. O mesmo vale se Aécio deixar o Palácio da Liberdade, a um ano e sete meses das eleições, agora que caiu a arrecadação do Estado.




Os dois temem se transformar, antes do devido tempo, em alvos dos líderes do petismo. Sabem que, no papel de estilingue, o baronato do PT é craque, tem mestrado e doutorado. Fará o que a Oposição não conseguiu fazer em seis anos de governod do vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP).





Para tentar conter os mais afoitos, Aécio declarou esta semana em entrevista a revista ISTOÉ (Editora Três): “Se o Governo federal preferiu antecipar o nome de Dilma, é uma estratégia dele. Talvez estejam até certos. Nós já temos nomes conhecidos e o que precisamos é discutir um projeto para o país”. Por isso, a ordem é despistar.


Em março, Aécio e Serra serão apresentados aos prefeitos e vereadores do Partido Popular Socialista (PPS) e dos Democratas (DEM), em Brasília (DF). Depois, Aécio vai acelerar suas viagens pelo Nordeste do País. Vai costurar apoios. Serra já conseguiu o apoio do PMDB em São Paulo (liderado pelo recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer) e em Pernambuco (liderado pelo ex-governador e senador da República Jarbas Vasconcellos). Aécio, já conquistou o apoio do PMDB do Rio Grande do Sul (através do prefeito de Porto Alegre José Fogaça). Tem o apóio PMDB do Rio, onde os líderes da legenda, o prefeito recém empossado Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral Filho são colegas fraternos do governador mineiro. E tem as costuras regionais: quem vai apoiar quem, quem vai sair para governador ou para senador. Tem muito trabalho pela frente até julho para Aécio e Serra perderem tempo disputando espaço entre si. Serra vai costurar de um lado. Aécio, do outro. Depois, no segundo semestre, eles vão se juntar, pois não sobrevivem sozinhos.



Aliás, Serra tem concordado com tudo. E tem arremedado os passos de Luiz Inácio da Silva - até lançou um clone do PAC para o Estado de São Paulo, com direito a Bolsa Família e outras cositas mas. Para os líderes PT, tudo não passa de uma reedição de propostas já anunciadas. Como se o PAC do governo Luiz Inácio da Silva fosse diferente. Mas Serra segue na cola de Luiz Inácio da Silva.Outro dia, o vosso Presidente da República leu para os prefeitos, reunidos em Brasília, números inconclusos sobre a educação em São Paulo. Para Serra, culpa do Ministério da Educação, que informou dados antigos, e não do vosso presidente. Serra também reclamou da lentidão do Banco Central (BC) em baixar as taxas de juros. Outra vez, disse que a culpa não era do presidente da República. Depois, tão logo o vosso presidente lançou o novo salário mínimo (R$ 465), Serra divulgou que, em São Paulo, o piso regional teve aumento de 12,22% e passou para R$ 505.




Agora, Serra está se cercando de nomes expressivos do marketing político: os baianos Duda Mendonça (que elegeu Luiz Inácio da Silva em 2002), Nizan Guanaes (que elegeu Fernando Henrique Cardoso em 1995 e 1998) e Fernando Barros (Propeg), que dividem contas milionárias de publicidade do Governo paulista. O tucanato pressiona Serra para convidar um marqueteiro de fora de São Paulo. Dizem que o jornalista Luiz González, responsável pelas vitórias de Serra em 2004 e 2006, funciona bem em São Paulo, mas não conhece o resto do País.