Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, maio 15, 2011

Conscientização ambiental

AQUELA antiga sacola de feira de lona ou tecido, o carrinho de supermercado e as caixas de papelão voltarão a enfeitar as compras dos paulistas nos supermercados. O governo do Estado de São Paulo, seguindo a tendência mundial de combate aos resíduos plásticos no meio ambiente, acaba de assinar com a Associação Paulista de Supermercados (Apas) protocolo de cooperação para banir, até 2012, o uso das sacolas plásticas descartáveis em todas as cidades do Estado. A entidade acredita na adesão total ao projeto que já está em prática em muitas cidades como Belo Horizonte (MG), Jundiaí (SP), Monte Mor (SP) dentre outras. Após a assinatura do acordo, os supermercados terão seis meses de campanha para estimular e difundir, entre seus consumidores, o hábito de uso de outro tipo de embalagem.

UM bom instrumento de convencimento já foi pensado pelos mentores da novidade. Se o consumidor for às compras levando sacola de feira ou ecobags - feitas de material renovável e reutilizável -, carrinho de feira ou caixas de papelão, o custo do transporte das compras, logicamente, será zero para o supermercado. Mas se preferir a sacola plástica descartável do supermercado será convencido a pagar alguns centavos pelo uso dessa embalagem ecologicamente correta. Os representantes dos supermercados asseguram que os estabelecimentos não terão margem de lucro - o valor cobrado do consumidor pela sacola biodegradável ou retornável será o mesmo cobrado pelo fabricante. Os supermercados paulistas também venderão caixas de papelão novas para montagem.

AINDA em 2010, Jundiaí foi a primeira cidade paulista a banir o uso das sacolas plásticas, com adesão de 95% dos supermercados. Lá, a embalagem biodegradável, feita de amido de milho, custa R$ 0,19 e a maioria da população preferiu, assim, voltar a usar as sacolas retornáveis e carrinhos de feira. Conforme dados do município, 75% da população apoia a iniciativa, um índice significativo considerando que as sacolas plásticas já estavam incorporadas ao dia a dia dos consumidores, e eram utilizadas para outros fins, como na substituição dos sacos de lixo.

A SACOLA plástica teve seu uso mais difundido no Brasil, a partir da década de 1980. O produto é feito da resina derivada do petróleo chamada polietileno de baixa densidade e sua degradação no ambiente pode levar, no mínimo, um século. Estima-se que, no Brasil, aproximadamente 10% de todo o lixo produzido é composto por saquinhos plásticos. Nas grandes cidades, junto com as garrafas PET, esse tipo de produto se tornou uma das grandes causas de enchentes. Indevidamente deixadas nas ruas, as sacolas plásticas são levadas pelas enxurradas e entopem bueiros e bocas de lobo, provocando o refluxo das águas. Aqui em BH, em dias de grandes chuvas, cursos de água em toda a cidade se transformam em rios de plástico, cobertos de garrafas PET.

NO Brasil, são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme usadas como matéria-prima de 18 bilhões de sacolas, produto que exige alto consumo de energia para sua fabricação num processo que deixa muitos resíduos industriais.

CONTRIBUINDO para a difusão de novos hábitos de consumo, a indústria já desenvolveu a sacola biodegradável, produzida com matéria-prima renovável. O novo produto se desfaz em 180 dias em usina de compostagem e, no máximo, em dois anos quando depositado em aterro. Aqueles acostumados a usar as sacolas plásticas como sacos de lixo serão levados a substituí-las por sacos produzidos de plástico reciclável.


ESSA iniciativa do governo Geraldo Alckmin (2011-14) e da Apas trará resultados ainda mais significativos se for acompanhada por outras ações desenvolvidas para reduzir a quantidade de resíduos sólidos. A ampliação da coleta seletiva e da reciclagem nas cidades é fundamental para reduzir a quantidade de lixo nos aterros, lixões e depósitos improvisados. A regulamentação e a fiscalização rigorosa do descarte de entulho também precisa ser implementada para ajudar a livrar a cidade do assoreamento dos córregos e rios e das consequentes enchentes. A educação ambiental e a conscientização sobre melhores hábitos de consumo podem completar esse processo, já desencadeado por alguns setores mais responsáveis.