Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, março 21, 2010

Dura queda de braço

INCLUINDO o Brasil, os dezenove membros do Grupo dos 20 Paises mais Ricos do Mundo (G-20) gostariam de ver a moeda chinesa (yuan) valorizar-se pelo menos uns 20%. O vigésimo membro do G-20 é a China. Seu governo continua resistindo à pressão, cada vez mais forte, pela valorização do yuan. O câmbio certamente ajuda o fabricante chinês a inundar os mercados com produtos baratos. Não é o único fator de competitividade, mas é importante e incomoda a maior parte do mundo. A campanha é liderada pelo governo dos Estados Unidos da América (EUA), com apoio de muitos congressistas e de grande parte do empresariado. Os dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird) participam do coro. Reduzir o desequilíbrio entre EUA e China é indispensável para a boa saúde da economia global, dizem economistas de renome.


CONTUDO a economia norte-americana será de fato tão beneficiada por uma valorização do yuan? Dois economistas, Dan Newman e Frank Newman, deram uma resposta negativa, num artigo publicado na revista Foreign Policy. Encarecer os produtos chineses, segundo eles, prejudicará os consumidores e não aumentará a produção nem criará empregos nos EUA. Essa tese é discutível, mas abre uma perspectiva interessante para a discussão do tema.


OS GOVERNANTES da China teem sido acusados há anos de manipular o câmbio para manter o yuan desvalorizado, apesar dos enormes superávits nas contas externas do país. A China tem hoje reservas cambiais equivalentes a US$ 2,3 trilhões, formadas em grande parte por títulos públicos norte-americanos. Senadores dos EUA propuseram classificar a China como um país manipulador do câmbio para obter vantagens comerciais. Isso dará a deixa para o governo federal impor sobretaxas à importação de produtos chineses.


UM AVALANCHE de atritos entre os governos norte-americano e chinês têm-se multiplicado recentemente, tanto por motivos comerciais como por divergências políticas. A imposição de mais uma barreira aos produtos da China aumentará a tensão entre os dois países.


SERÁ que valerá a pena? Segundo os economistas Dan Newman e Frank Newman, será um lance inútil. Segundo eles, a China tomou o espaço do Japão e de outras economias da Ásia ao ampliar suas exportações para o mercado americano. Os EUA já eram amplamente deficitários e o aumento da presença chinesa não foi a grande causa de perdas para a indústria local.


ENTRE OS anos 1995 e 2007, a participação japonesa na produção mundial de bens diminuiu 6 pontos porcentuais, enquanto a chinesa aumentou 7 pontos, de acordo com a argumentação. Dan Newman é um pesquisador econômico em Seattle. Frank Newman é o executivo principal do Banco de Desenvolvimento de Shenzen, uma instituição chinesa, e ex-secretário adjunto do Tesouro Norte-Americano.


É QUASE impossível essa argumentação mudar o ponto de vista do governo norte-americano. A administração dos EUA tem amplo apoio internacional em sua tentativa de persuadir as autoridades chinesas a deixar o yuan valorizar-se. Nos últimos dias, economistas do Bird sugeriram polidamente uma alta de juros e uma política de câmbio mais flexível para o controle da inflação; um problema ainda não muito grave.


UM DIRETOR do FMI, Dominique Strauss-Kahn, tem defendido a adoção, pelo governo chinês, de uma estratégia de crescimento mais voltada para dentro e menos dependente de exportações. Uma inovação completa envolveria a alteração do câmbio, mas Strauss-Kahn não precisaria repetir o recado com todas as palavras.


A VALORIZAÇÃO do yuan acabará ocorrendo, têm dito as autoridades chinesas, mas sem dar prazo. A mudança ocorrerá (respondem aos norte-americanos) na hora escolhida pelo governo chinês. Por enquanto, o yuan continua oscilando juntamente com o dólar e neutralizando os movimentos da moeda norte-americana.


É BEM provável que os economistas e pesquisadores, Dan Newman e Frank Newman, estejam certos em relação aos Estados Unidos. Mas outros países ganharão, sem dúvida, se os chineses deixarem valorizar-se o yuan. O Brasil será um dos beneficiários. Mas o poder de competição da indústria chinesa não depende só do câmbio. Quem acreditar nisso cometerá um erro grave e perigoso.