Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, julho 17, 2011

Eficiência continua longe da agenda federal

EXISTEM algumas boas novidades na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada pelo Congresso Nacional, mas o conjunto é uma colcha de retalhos mal recortados e mal costurados. A emenda mais audaciosa propõe a eliminação total do déficit público em 2014 e indica metas intermediárias. Mas a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), segundo fontes do governo federal, deverá vetar esse dispositivo - e poderá alegar razões ponderáveis para justificar essa decisão. Outra emenda bem-intencionada obriga o Poder Executivo a incluir no Orçamento Geral da União (OGU) e a submeter ao Congresso Nacional toda emissão de títulos para transferir dinheiro a instituições federais de crédito, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas o texto inclui também propostas perigosas para as finanças públicas. Uma delas autoriza a concessão de aumento real para quem recebe aposentadoria acima de um Salário Mínimo. Outra limita o prazo para o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendar a paralisação de obras com indícios de irregularidades.

A LDO fixa as linhas gerais para a elaboração da proposta orçamentária. Todo ano essa proposta é enviada ao Congresso Nacional até o fim do mês de Agosto. Raramente, no entanto, a tramitação da LDO é aproveitada para a introdução de melhoras na política fiscal e na gestão dos programas de governo federal. Desta vez, houve algumas tentativas interessantes, mas de resultados incertos. A proposta mais bem elaborada, de autoria do senador da República, Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), servirá - se escapar do veto presidencial - para disciplinar a participação do Tesouro Nacional (TN) nas operações dos bancos públicos federais. Não é preciso gastar muitas palavras em defesa dessa emenda, depois da estapafúrdia tentativa de envolver o BNDES na fusão do Grupo Pão de Açúcar com a rede francesa de Supermercados Carrefour. Mas a proposta do senador mineiro é importante também por tornar obrigatório um registro mais claro do endividamento público.

A PROPOSTA de eliminação total do déficit público até 2014, apresentada pelo deputado federal Cláudio Cajado (PP-SP), serve a um bom propósito, mas é deficiente na formulação. É uma boa ideia fixar a meta fiscal em termos nominais, isto é, levando em conta o pagamento dos juros da dívida pública. Mas o equilíbrio total só será alcançado, por definição, quando o superávit primário for suficiente para o pagamento dos juros. É preciso, portanto, traçar um roteiro para a obtenção desse resultado primário. Isso envolve a fixação de critérios para a evolução dos gastos públicos.

NÃO basta vincular a evolução do custeio da máquina pública à expansão dos investimentos, até porque o governo investe uma parcela muito pequena do orçamento. O valor investido pode aumentar consideravelmente de um ano para outro, sem um esforço excepcional, e isso legitimaria a expansão do custeio. Serão necessárias soluções muito mais complexas e mais sofisticadas para se impor uma disciplina maior às despesas correntes.

INEXISTE prática e preparo para a apresentação de emendas construtivas, mas sobra experiência para a formulação de ideias contrárias à boa gestão das finanças públicas. A proposta de negociação de aumento real para aposentadorias superiores ao salário mínimo, de autoria do senador da República, Paulo Paim (PT-RS), é um exemplo de inconveniência. Iniciativas desse tipo atraem a simpatia de muita gente, mas muito raramente se discute de onde sairá o dinheiro. Da receita da Previdência e Seguridade Social?

SOBRAM prática e talento, também, para propor a destinação de recursos do Ministério da Cultura (MinC) para a realização de festas e espetáculos por entidades privadas - desde que se trate de eventos promovidos sem interrupção há cinco anos, no mínimo. Só com uma boa vontade quase inimaginável é possível considerar essa ressalva um sinal de seriedade.

ESSA mesma LDO autoriza, também, o governo federal a continuar descontando da meta de superávit primário o dinheiro investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esse expediente, em uso há alguns anos, é evidentemente uma forma de enfeitar as contas públicas e de disfarçar o rombo fiscal. Para investir mais sem aumentar o desequilíbrio de suas finanças o governo deve simplesmente poupar mais. Mas a ideia de gastar melhor e de aumentar a poupança pública permanece fora da agenda oficial.