Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, setembro 22, 2010

O “new play” comercial e econômico no mundo globalizado

O MERCADO brasileiro deve preparar-se para uma nova onda de importações de produtos norte-americanos. O presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Houssein Obama, tem um plano para duplicar as exportações norte-americanas até 2015 e o mercado brasileiro é um dos alvos principais. Outros alvos prioritários são, naturalmente, a Rússia, a Índia e a China, ou seja, os demais países do bloco econômico alcunhado de Brics. As economias brasileira, indiana e chinesa atravessaram a crise com danos limitados e começaram a recuperar-se rapidamente. A economia da Rússia foi a exceção, por causa de seu sistema financeiro muito vulnerável, mas também já voltou ao crescimento, graças, principalmente, às exportações de petróleo.

COM a produção industrial crescendo cerca de 7% em 2010 e o consumo em alta, o Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, é um campo de caça atraente para empresas de todo o mundo. A atração se torna mais forte quando os países desenvolvidos permanecem, como agora, atolados na recessão ou apenas começaram a sair da maior crise financeira desde a dos anos 1930.

ESTE plano enviado pelo presidente Barack Obama ao Congresso Nacional dos EUA contém uma ampla bateria de medidas para fortalecer as vendas externas de bens e serviços. Obama propõe a concessão de benefícios fiscais a exportadores, o aumento do crédito, estímulos especiais a empresas pequenas e médias, um esforço maior de promoção comercial e um trabalho especial de advocacia para remover barreiras nos demais países.

O COMÉRCIO exterior é poderoso criador de empregos e os salários das empresas exportadoras são em média 15% maiores que os demais, segundo afirmou Barack Obama ao apresentar seu plano.

ESSA idéia de dobrar as exportações até 2015 havia sido lançada há seis meses. Iniciativa concebida como um esforço a mais para tirar da recessão a economia norte-americana, ainda com desemprego acima de 9%. A extensão da pobreza é a maior desde 1995: 14,3% de pessoas abaixo da linha divisória traçada pelo Escritório do Censo.

OBAMA foi o primeiro governante do mundo rico a adotar uma política especial de estímulo à exportação. O primeiro, portanto, a se preparar para o jogo recomendado há cerca de um ano pelo Grupo dos 20 (G-20) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse novo jogo, os países normalmente superavitários devem basear seu crescimento econômico, sobretudo no mercado interno, estimulando o consumo e importando mais. A ideia é reequilibrar a economia global. Os países deficitários devem fazer o oposto - aumentar a poupança interna e ampliar as exportações.

EM sua versão mais simples, o jogo tem dois grandes participantes - a China, maior exportadora e detentora do maior superávit externo, e os EUA, maior potência global e também a principal economia deficitária. A disputa entre EUA e China por causa da moeda chinesa subvalorizada é, há vários anos, parte importante desse quadro.

CONTUDO o jogo real é mais complexo e envolve outros emergentes, incluído o Brasil. Mas a posição brasileira é diferente da chinesa em vários aspectos importantes. Há dois anos o País acumula déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. O superávit comercial diminui rapidamente, porque a expansão da demanda interna, muito maior que a da maior parte dos demais países, faz a importação crescer muito mais que a exportação. Além disso, o real, ao contrário do yuan, está sensivelmente valorizado.

ESTA deterioração das contas externas brasileiras deve continuar em 2011, mas o resultado poderá ser pior que o previsto, se o esforço exportador norte-americano for bem-sucedido. A contribuição do Brasil à recuperação do mundo rico poderá ser muito cara para os brasileiros, em termos de emprego e de enfraquecimento da posição externa. O risco é ampliado pela perspectiva de aumento do ingresso de dólares, com maior valorização do real. O governo deveria pensar com urgência nas condições de competitividade do País. O governo Luiz Inácio da Silva (2003-10) menosprezou o mercado norte-americano quando sabotou a concepção da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Mas os norte-americanos não menosprezam o mercado brasileiro.