Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, junho 18, 2010

A ema e os números

COM todo aquele ufanismo com suas próprias palavras que já se tornou um notório cacoete e com o clima festivo no Estádio Paulo Sarasate, em Fortaleza, onde, ainda outro dia, proferiu a aula inaugural do Programa ProJovem Urbano, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) sugeriu aos jornalistas presentes ao evento que, se quisessem ganhar prêmios de Jornalismo, fizessem reportagens citando os números dos programas de seu governo (2003-10) voltados para a juventude. Ele mesmo, porém, citou poucos números. Um deles foi a ampliação, para 96, dos municípios com mais de 200 mil habitantes nos quais o ProJovem foi colocado em operação. Poderia ter se referido também à meta do programa, de atendimento de 2,3 milhões de jovens até o fim de 2010. Mas poucos dados concretos adicionais sobre os programas voltados para os jovens poderia incluir no seu discurso, pois eles não são encontrados nem mesmo no Portal da Juventude, criado por seu governo para centralizar as informações a respeito desses programas.

EM nenhum portal de órgãos federais na web há balanços dos programas voltados para a juventude. O que há é um conjunto de boas intenções.

E UMA delas é o próprio ProJovem, criado por lei em 2005 como Programa Nacional de Inclusão de Jovens e que, com a incorporação de outras ações do governo voltadas para essa faixa da população, passou a ser designado como Programa Integrado de Juventude. Inicialmente, o ProJovem atendia jovens de 18 a 24 anos que não tivessem concluído o Ensino Fundamental, mas tivessem cursado pelo menos até a 4ª série, e que não tivessem emprego regular. Com a inclusão de novos programas, os jovens atendidos pelo ProJovem - que, além do ProJovem Urbano, tem também as modalidades Adolescente, Campo e Trabalhador - podem ter idade de 15 a 29 anos, aos quais é oferecida educação complementar que os habilite a ingressar no Ensino Médio e também qualificação profissional. O curso inclui disciplinas do Ensino Fundamental, inglês, informática, aprendizado profissional e aulas sobre ações comunitárias de interesse público. Como incentivo, cada aluno que tiver frequência mínima de 75% às aulas recebe um auxílio de R$ 100 por mês.

PARA coordenar o ProJovem, o governo criou a Secretaria Nacional de Juventude, que também articula as iniciativas federais que tenham como base as diretrizes da Política Nacional da Juventude. Além do ProJovem, há outras 18 ações do governo federal voltadas para os jovens, entre elas as de apoio a atletas que não tenham patrocínio, a de alfabetização de jovens acima de 15 anos e até o programa de estímulo ao primeiro emprego, de que o governo nem fala mais, por causa de seus pífios resultados.

INFELISMENTE a grande quantidade de iniciativas não tem produzido resultados notáveis, pelos menos até onde se pode saber pelas informações disponíveis do próprio governo. O governo fixou como meta atender metade dos 4,5 milhões de jovens considerados em situação de risco. Em dois anos, porém, o programa atendeu 1 milhão de jovens e, para atingir a meta, deveria atender, em 2010, o restante 1,3 milhão, número que os técnicos da Secretaria da Juventude reconhecem não ser possível alcançar.

E OUTRAS iniciativas do governo federal para a juventude estão em situação ainda pior. Anunciado há quase um ano e meio, o Projeto de Lei (PL) que estende para o setor público a obrigatoriedade já existente para o setor privado de contratação de menores aprendizes está parado no Gabinete Civil da Presidência da República.

O CRAQUE Raí Oliveira, ex-jogador de futebol, campeão mundial pela Seleção Brasileira e pelo São Paulo Futebol Clube, e que preside a Organização Não-Governamental (ONG) Atletas pela Cidadania, disse a nossa reportagem a pouco que já pediu audiência com a ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Erenice Guerra (PT-RS), para pedir ao governo que envie o PL ao Congresso Nacional. Aprovado o PL, a administração pública poderá contratar 400 mil aprendizes, prevê Raí Oliveira.

TAMBÉM nas ações voltadas para o atendimento dos jovens em situação de risco - sem escolaridade mínima, sem preparação profissional e sem emprego -, o discurso do “CARA!” é muito mais otimista do que os resultados concretos.