Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, julho 01, 2009

“Diplomacia” do desemprego

DESDE Fevereiro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, houve em todo o País um saldo líquido de contratações com carteira assinada, mas com salários menores do que os das vagas que se fecharam. Esse comportamento contradiz as afirmações do ministro de Estado do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi (PDT-SP), de que o saldo positivo de emprego, em Maio, "é a prova de que a recuperação está ocorrendo de forma coerente, permanente e segura".

INFORMAÇÕES mais esclarecedoras foram divulgadas pela reportagem do jornal VALOR ECONÔMICO, Segunda-feira, 22: entre Janeiro e Abril, os empregos criados, além de insuficientes, foram de baixa qualidade. No período analisado, foram abertas 48,4 mil vagas, mas, na quase totalidade, a remuneração foi baixa: na faixa de até um salário mínimo, houve saldo líquido positivo de 57,5 mil empregos; de um a um e meio salário mínimo, de 83,9 mil; e na faixa de um e meio a dois salários mínimos, de 12,3 mil. Já nas faixas de dois a três mínimos, o saldo líquido foi negativo em 17,7 mil vagas; de três a cinco mínimos, em 14,9 mil; e, acima de cinco salários mínimos, negativo em 15 mil postos.

ENTRE OS problemas que afetam o mercado de mão de obra desponta a elevada rotatividade dos empregos. No primeiro quadrimestre, foram criadas 332,4 mil vagas com remuneração de até um e meio salário mínimo e fechadas 221,6 mil vagas com remuneração de um e meio a cinco salários mínimos. As empresas aproveitaram a rotatividade para contratar com salários mais baixos e exigir mais qualificação. Entre janeiro e abril, o saldo de empregados sem alfabetização foi reduzido em 16,2 mil, ante a redução de 9,7 mil pessoas no mesmo período de 2008. Situação semelhante ocorreu com os trabalhadores que cursaram o fundamental, completo ou incompleto.

REEMPREGAR-SE foi possível para 89,2% dos trabalhadores com diploma de Curso Superior de Ensino. Mas não tiveram tanta facilidade para encontrar novo emprego os trabalhadores que têm diploma de Ensino Médio (70%), Ensino Fundamental (82,2%) e os analfabetos (57%).

"Essa é a lógica da alta rotatividade no Brasil", notou o economista do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho da Unicamp, Anselmo Luís dos Santos. "Nos momentos em que o nível de desemprego aumenta, as empresas conseguem encontrar mais pessoas desempregadas com qualificação, dispostas a trabalhar por um salário mais baixo".

OS DADOS do Caged relativos a Maio confirmam a piora da qualidade dos cargos. No Brasil, em todas as atividades, houve saldo líquido de contratações de 131,5 mil pessoas. Mas na indústria, onde estão as melhores ocupações, o saldo de contratações foi de apenas 700 pessoas, em maio - e é negativo em 146,4 mil, nos primeiros cinco meses do ano. Nos últimos 12 meses, o saldo é negativo em 233,4 mil.

POUQUÍSSIMOS setores da indústria de transformação, como alimentos e bebidas (13,3 mil vagas) e têxtil (2,1 mil), abriram empregos. Continuaram em forte queda as áreas de metalurgia (5,4 mil), mecânica (2,9 mil), calçados (1,9 mil), minerais não metálicos (1,5 mil), material elétrico e comunicações (1,5 mil) e madeira e mobiliário (1,4 mil).

EM FASE de colheita, foram abertas 52,9 mil vagas no setor agrícola; outras 44 mil foram abertas em serviços e 17,4 mil na construção civil - nos três casos, com salário médio inferior ao pago pela indústria. Além do mais, a criação de vagas foi concentrada, com destaque para os Estados de São Paulo (44,5 mil), Minas Gerais (37,5 mil), Paraná (11,6 mil), Espírito Santo (10 mil) e Bahia (9 mil). Foi ínfima a geração de vagas formais nas Regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste.

NOS ÚLTIMOS 12 meses, até maio, o saldo líquido de vagas abertas foi de apenas 580 mil, ante 2,09 milhões nos 12 meses terminados em setembro de 2008. Ou seja, reduziu-se em mais de 1 milhão e meio o saldo de trabalhadores contratados, com carteira.

POR TER havido saldo positivo de vagas, analistas acreditam que ficou para trás o pior momento do mercado de trabalho. Mas a recuperação não será rápida, sobretudo na indústria de transformação, que depende de exportações e da recuperação da economia global.

A vaca e o brejo

NA ECONOMINA e na política. O Brasil está todo errado. Política e economia. O Brasil continua todo errado. Na política, o momento é de se fazer campanha por um "novo modo de votar". Na economia, continua sendo necessária uma nova maneira - inédita por aqui, mas velha no resto do mundo, claro - de fugir da marolinha que mostrou que era, mesmo, crise.

NÂO HÁ dúvida de que, do jeito que as coisas andam, não tardaremos a ver o fundo do poço político. A quase completa ausência de transparência, de ética, de moralidade, de bom senso, do interesse pelo bem comum, da proteção coletiva e consciente do que pertence a todos nós, no jogo político atual do fazendão, turva toda uma visão de sociedade que precisamos ter para avançar e deixar para trás, de uma vez, os grilhões do atraso lusitano que ainda perduram por aqui, de maneira pouco ou muito visível.

O "NOVO modo de votar", agora, pressupõe a utilização de uma certa "lista fechada" de candidatos. A metodologia, segundo se informa, é a mais comum entre os países que adotam o sistema proporcional. Ótimo. Mas se vamos buscar um "novo modo de votar", por que não partimos logo para o voto distrital, em que cada candidato representa um distrito (uma pequena porção de seu estado) e presta contas diretamente a esse eleitorado a cada eleição? Dessa forma, o deputado gasta sua sola de sapato apenas naquela região, conhece e é conhecido de cada um dos que votam naquele distrito. Certamente os custos de uma eleição vão diminuir, dessa forma.

AINDA QUE se descarte o sistema distrital por ser muito pouco ou nada lusitano (afinal, este é um país que prefere regras frouxas no futebol para poder xingar a mãe do juiz), sabe-se que este país é, também, um importador pela metade por excelência de processos estrangeiros. No caso das "listas fechadas", apesar de todo o barulho em torno e a favor delas, não se explica o básico: quem forma essas listas? De que maneira elas são formadas? Quais os critérios utilizados para a sua formação? Os critérios para a formação dessas listas vai poder variar de partido para partido? Vai haver reunião de convencionais de cada partido para que eles, pelo voto, montem suas listas? O preto no branco nunca aparece, mas isso não importa no fazendão. Quando o assunto virar lei, o bordão vai se repetir: "é assim mesmo", agora não tem jeito de consertar.

NA ECONOMIA em tempos de marolinha que se revelou crise, busca-se também um novo paradigma no País - um novo modo de se fazer dinheiro (honestamente, diga-se de antemão). Como fazer dinheiro em qualquer época, seja ela de crise ou não? Comprando e vendendo produtos, contratando e oferecendo serviços. Trabalhando ainda mais, trabalhando ainda melhor. E qual é a melhor hora para fazer esse tipo de coisa? Nos fins de semana, nos feriados, antes ou depois do expediente.

NO BRASIL, as famosas, obsoletas, provocadoras de falência e intocáveis leis trabalhistas (também blindadas, é claro, pelo espesso véu de chumbo de uma cultura lusitana ainda enraizada, que a tudo obscurece) dão o recado: lojas, oficinas, bancos, etc todos fechados nos fins de semana, nos feriados, em todas as horas onde se tem gente andando pelas ruas e disposta a fazer negócio, ou seja, comprar, vender, contratar, ser contratada. A bola de neve da economia não rola bem desse jeito, e quem sai perdendo? Todos nós: o consumidor não tem ou não consegue achar o que precisa porque a loja está fechada; o dono da loja não fatura, o empregado não ganha; o (des)governo não arrecada; o Estado não investe; o País não vai pra frente. Com menos dinheiro circulando, escasseiam os empregos, reduz-se a produção, diminui-se o consumo. A roda da economia quase pára, ou gira ao contrário.

ESSA CIRANDA de ineficiência econômica (e de uma subliminar subjugação ao que há de pior em nossas origens) é velha. Anos atrás, quando eu frequentava a escola fundamental, uma rima era muito popular entre a garotada: "O Brasil é um País que vai pra frente; cortaram o pinto do índio pra fazer cachorro-quente!".