Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, fevereiro 07, 2012

A sinuca do MST

políticos no poder, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) continua a reclamar da falta de reforma agrária, de “avanços sociais” no campo. As invasões de propriedades particulares continuam, e a vida segue sem aparentemente grandes mudanças.


PODERIA ser que tudo não passasse de tática de organizações políticas que se alimentam da contestação e da cobrança constantes. Porém, parece haver algo mais, e de extrema gravidade para a organização. Sintomático que um dos dirigentes nacionais do MST, Joaquim Pinheiro, tenha reconhecido um “descenso” nas atividades do movimento, e culpe como responsáveis pelo mau momento da organização o crescimento do emprego e programas sociais, em que se destaca o programa Bolsa Família. Tem lógica a análise, mas ela não explica tudo.



OUTRO aspecto a se destacar é que, se o MST não conseguiu a reforma agrária dos sonhos no governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), será impossível materializá-la numa outra conjuntura política, a não ser que se rompa o estado de direito, como alguns demonstram desejar.


DENTRO do modelo de puro fisiologismo pelo qual o lullopetismo montou equipes de governo nestes últimos nove anos, afinal coube ao MST o privilégio de atuar dentro da máquina do Estado, em aparelhos montados no Instituto Nacional de Infraestrutura para a reforma Agrária (Incra) e no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).


E COM todas as benesses disso derivadas, como a fartura de dinheiro público para financiar, inclusive, ações de atropelamento da própria Constituição Federal do Brasil (CFB). Cenas de Luiz Inácio da Silva (PT-SP) com o chapéu daquela organização e a bandeira do MST desfraldada no gabinete presidencial eram mais que um símbolo no governo anterior. Retratavam uma situação real: o MST, em alguma medida, estava no poder.


PORÉM, a reforma agrária não andou, denunciam os militantes do MST. Mas não foi apenas devido a efeitos colaterais de uma conjuntura de virtual pleno emprego vivida até há pouco tempo pelo Brasil, nem pela conhecida generosidade do assistencialismo público. A própria modernização da agricultura subtraiu do MST e seus satélites áreas de “latifúndios improdutivos”, e com isso começou a erodir a razão de ser da proposta de reforma agrária, tema cativo de programas de sucessivos governo há décadas.



AGORA faltam terras para o MST — que radicalizou ao se voltar contra propriedades produtivas — e a escassear massa de manobra. O próprio esvaziamento do campo, decorrente da modernização da economia, atua contra o MST. Restou-lhe mobilizar o lumpesinato de cidades pequenas e médias. Mas a ampliação da oferta de empregos e os programas assistenciais oficiais completaram o cerco à organização, cuja razão de viver é a crise social. E para alimentar ainda mais os pesadelos de dirigentes do MST, o crescimento da classe média, conhecida por rejeitar rupturas, conspira contra projetos de poder mais ambiciosos da organização política.



ENTÃO, o MST defronta-se com um dilema: insiste num projeto de tinturas revolucionárias e antidemocráticas, de execução impossível, e para o qual depende de ter amigos no Palácio do Planalto; ou se assume como uma força política legal, sai da semiclandestinidade consentida e tenta obter apoio para seu modelo de Brasil junto ao eleitor. A terceira hipótese é a marginalização, em vários sentidos.