Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Sem surpresas!

Sem surpresas, sem novidades! Assim cumpriu-se o que estava escrito. Com um pouco de calor, ao contrário da votação na Câmara dos Deputados, o senador José Sarney (PMDB-AP) elegeu-se pela terceira vez presidente do Senado da República na última 2ª Feira, 02 e, por conseguinte, do Congresso Nacional. Emocionado, o ex-presidente da República (1985-90) lembrou que exatamente há 50 anos, num dia 02 de Fevereiro, pisava pela primeira vez na Câmara dos Deputados, na inauguração de sua vida parlamentar. Sarney era da “Banda de Música” da UDN, um fragmento da velha legenda que batia bumbo, isto é, botava a boca no mundo para azucrinar os adversários - em todo o caso, era melhor do que a “UDN da Calúnia”, que vivia de caluniar os outros, como o nome indica.



Sarney colheu o que plantou. Por longo tempo ele sempre disse que não queria ser novamente presidente do Senado, nem aceitaria disputar eleição com qualquer dos seus pares. Em consequência, sua vitória, ontem, não foi das mais brilhantes. A começar por disputar o que dizia que não disputaria. Depois, porque a soma dos votos que obteve (49) foi menor do que a que proclamava obter (55), disputando com o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), senador Tião Viana (PT-AC), que, por força dos arranjos próprios da política, não pode ter a força do Governo do seu lado, até porque Sarney também é da base governista. E o resultado foi o que se viu: Viana com 32 votos e Sarney com 49, pouco mais do que o necessário para a conta do chá.
Vitória de Sarney, honras para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Com efeito, a despeito da longa tradição do ex-presidente, foi o senador Renan Calheiros o seu principal cabo eleitoral e o grande articulador de sua eleição. Foi Renan quem estimulou o então presidente daquela Casa, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) a se lançar candidato contra o mesmo Viana, e foi o mesmo Calheiros quem tirou Garibaldi e apresentou o nome de Sarney como alternativa imbatível para o PMDB voltar ao comando daquela Casa. E ainda de quebra vingou-se de Viana, que se manteve como magistrado no processo que culminou com a renúncia de Calheiros da presidência do Senado, no rumoroso caso envolvendo uma empreiteira e a jornalista Mônica Veloso (SBT/TV ALTEROSA).


De forma que Sarney na presidência do Senado levou junto Calheiros, que deve assumir a liderança do PMDB naquela Casa do Legislativo Federal. É evidente que a ascensão dos dois, mais a vitória, também ontem, do deputado Michel Temer (PMDB-SP) na Câmara dos Deputados, não deixa de fortalecer o PMDB, ainda que tanto Temer quanto Sarney tenha feito novas manifestações de lealdade ao vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) e ao seu Governo - apesar das restrições ao excesso de Medidas Provisórias. Por falar em Temer, sua eleição para a presidência da Câmara dos Deputados se deu de maneira muito mais tranqüila do que a de Sarney para a presidência do Senado. Temer não teve os votos que imaginava ter, cerca de 340, mas ficou bem acima do mínimo necessário para vencer no primeiro turno, disputando com outros dois candidatos - Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Ciro Nogueira (PTB-SP).



Com Temer subiram três mineiros. (O deputado Rafael Guerra (PSDB-MG) na Primeira Secretaria, num acordo com o PSDB paulista costurado pelo governador Aécio Neves (PSDB-MG); o deputado Edmar Moreira (DEM-MG)) na segunda Vice-Presidência e o deputado Odair Cunha (PT-MG) na Terceira Secretaria. Nada mal. É de observar a intensa participação do deputado mineiro Fábio Ramalho (PV-MG), a quem os amigos chamam de Fabinho Liderança, nas articulações levadas a termo pelo deputado Michel Temer. Fábio Ramalho era visto a um só tempo ora na residência de Temer ora na do ministro Extraordinário da Articulação Institucional do Governo, José Múcio (PMDB-GO). Na casa de Temer, como se fosse um prócer peemedebista, Fábio, que é do Partido Verde (PV), entra e sai como se fosse de copa e cozinha.


Por fim, as vitórias de Temer e de Sarney não deixam de ser também uma vitória do Governo. Não apenas porque ambos pertencem à base de apoio governista, mas porque em nenhum momento suas candidaturas foram colocadas como de Oposição ao Governo. Não bastasse isso, tanto Temer como Sarney manifestaram em seus discursos de posse o desejo de continuarem apoiando o Governo.


Pode ser. Mas não se deve esquecer que tanto um como o outro são do PMDB e o partido é cortejado tanto pelo Governo como pela Oposição com vistas às eleições presidenciais do ano que vem.