Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Incompetência confirmada

RIO DE JANEIRO (RJ) – TODAS AS dificuldades enfrentadas pelos candidatos para se inscrever pela Internet no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com o objetivo de usar as notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para garantir uma vaga e matrícula na rede pública de ensino superior, constituem mais uma demonstração de incompetência da burocracia do Ministério da Educação (MEC) e das confusões causadas pela tentativa do ministro de Estado da Educação, Fernando Haddad (PT-SP), de converter a reforma dos mecanismos de avaliação em bandeira política, com vistas às eleições deste ano.

AS AUTORIDADES educacionais do País alegaram que o sistema de informática do MEC não suportou a sobrecarga de tentativas de acesso, a partir da noite de Sexta-feira, 29. Por ironia, esse foi o mesmo argumento que elas invocaram no início do segundo semestre de 2009, quando o órgão decidiu que a inscrição no Enem e a utilização das notas para substituir os exames vestibulares seriam feitas pela web. Mais de seis meses após o aparecimento do problema, fica evidente que o MEC ainda não conseguiu equacioná-lo. Em outras palavras, ele tentou reformular radicalmente o sistema de avaliação do Ensino Médio sem, como agora se vê, ter infraestrutura capaz de dar conta da empreitada.

E ALÉM dos problemas de informática, o MEC fracassou ao planejar as provas. Isso ficou evidente quando o órgão determinou que vários estudantes deveriam prestar o Enem em colégios situados a mais de 300 quilômetros das escolas em que estão matriculados, o que deixou pais e professores revoltados com tanta inépcia administrativa. Em seguida, a prova vazou dois dias antes de sua realização, em Outubro, deixando claro que as autoridades educacionais também não haviam tomado as medidas de segurança necessárias. Isso as obrigou a preparar um novo teste às pressas, a um custo superior a R$ 30 milhões, e a aplicá-lo dois meses após a data prevista, o que desorganizou o calendário de muitas universidades públicas.

E PARA confirmar a incompetência dos ocupantes do MEC, na sequência de confusões, constatou-se em seguida que várias questões da nova prova tinham nítido viés político e ideológico, tendo de ser anuladas. No dia em que a prova foi finalmente realizada, o MEC chegou ao absurdo de divulgar o gabarito errado. E agora, além de reclamar das dificuldades que enfrentaram para acessar o site das Instituições Públicas de Ensino Superior, os alunos relatam graves falhas na correção das provas do Enem - a ponto de um estudante que fez uma redação de apenas quatro linhas ter tirado boa nota.

DE ACORDO com os planos dos sindicalistas que hoje ocupam o MEC, o novo formato do Enem foi concebido como principal critério de distribuição de 47,9 mil vagas em 51 Instituições Públicas de Ensino Superior. Mas, embora a medida tenha sido bem recebida nos meios escolares, por causa de interesses políticos ela acabou sendo implementada de modo açodado e desastrado - o que converteu o Enem num enorme fiasco. Por causa das sucessivas confusões do MEC, a prova teve uma abstenção de quase 40% dos inscritos - a maior já registrada desde sua criação, em 1998.

TAL FIASCO é o retrato do governo do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (2003-10), na Educação. Esse governo já teve sete anos para tentar melhorar a qualidade da Educação Fundamental e Média. Mas, em vez de fazer o que os especialistas recomendavam nesses dois níveis de ensino, as autoridades educacionais se contentaram em agitar bandeiras mais vistosas do que eficazes.

EM SEU primeiro mandato (2003-06), por exemplo, perderam-se tempo e recursos com promessas de democratização do Ensino Superior e projetos de expansão das Universidades Públicas Federais, sem cuidar seriamente da formação básica e de fortalecer o Ensino Médio - onde estão os principais gargalos do sistema educacional do Brasil. No seu segundo mandato (2007-10), ao tentar promover reformas nos mecanismos de avaliação herdados do governo do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), cometeram tantos equívocos que acabaram pondo em risco a própria credibilidade do sistema.

APESAR de o País ter conseguido universalizar o acesso ao Ensino Fundamental, na década passada, é por isso que a Educação no Brasil continua sendo reprovada nos levantamentos comparativos dos organismos multilaterais e os estudantes continuam tendo um desempenho medíocre nos testes internacionais de avaliação do conhecimento.