Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

De quem é a conta?

RIO DE JANEIRO (RJ) - COM a elevação em 6,6% no preço do litro de gasolina e de 5,4% do óleo diesel, o governo Rousseff (2011-14) piorou as perspectivas de inflação sem resolver o problema de caixa da companhia Petróleo do Brasil S/A (Petrobrás). Na semana, as ações ordinárias da estatal caíram 7,5% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), porque os investidores logo perceberam a insuficiência do aumento. As perdas da companhia pública passarão de cerca de R$ 2 bilhões por mês para cerca de R$ 1,2 bilhão, porque os valores serão insuficientes para eliminar o desajuste acumulado.



AO MESMO tempo, especialistas começaram a calcular o impacto inflacionário dos novos preços e a confrontá-lo com o provável benefício da redução das contas de eletricidade. Para o consumidor, o resultado será um empate, segundo o economista Salomão Quadros, um dos responsáveis pela área de índices da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A resultante dos dois efeitos, positivo e negativo, será de aproximadamente 0,2 ponto porcentual e sua influência combinada nos índices de preços ao consumidor será praticamente nula.



A TENTATIVA de atenuar o impacto do aumento dos combustíveis afetará as contas públicas. O prefeito municipal de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), confirmou o compromisso, acertado há semanas com o ministro de Estado da Fazenda, Guido Mantega (PT-SP), de manter as tarifas de ônibus urbanos sem reajuste até o próximo mês de Junho. O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) havia prometido adiar a elevação dos bilhetes de metrô. Autoridades federais haviam pedido ajuda também ao prefeito municipal carioca e ao governador fluminense. Além disso, a própria administração federal será duplamente afetada pela manutenção dos subsídios ao consumo de combustíveis - pelo custo da operação e pelo atraso da agenda energética, por causa da perda de capacidade financeira da Petrobrás S/A.



MAIS uma vez, portanto, a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS) e os ministros de Estado da área econômica embolam objetivos e instrumentos de política e agravam os problemas do próprio governo Rousseff. Ao insistir nesse caminho, as autoridades negam o próprio discurso, prolongando e agravando a disparidade entre ações e palavras.



AINDA neste Fevereiro ensolarado, o ministro Mantega negou o uso do câmbio no combate à inflação. Só a política monetária é adequada para conter a alta de preços, disse o ministro de Estado da Fazenda, mencionando como exemplo os juros e referindo-se genericamente a outros mecanismos do Banco Central do Brasil (BC), como alteração dos depósitos compulsórios e outras medidas para regulação da oferta de dinheiro. Poderia ter acrescentado a austeridade fiscal como fator favorável à estabilidade de preços. A afirmação sobre o papel da política monetária é sensata, mas as palavras sobre a atuação efetiva das autoridades são obviamente falsas.



EM vez de combater a inflação pelos meios adequados, a presidente Rousseff e sua equipe ministerial tentam administrar os índices, adiando politicamente os aumentos de preços dos combustíveis, pedindo ajuda a governos estaduais e municipais para adiar o ajuste de tarifas e reduzindo de forma voluntarista a conta de luz, sem levar em conta as necessidades financeiras da Petrobrás S/A, da Eletrobrás S/A e de outras empresas do setor energético brasileiro.



NÃO se trata de defender a lucratividade dessas empresas, mas de levar em conta os custos efetivos e as necessidades de investimento para destravar uma economia emperrada. A administração Luiz Inácio da Silva (2003-10) prejudicou fortemente a saúde financeira da Petrobrás S/A e sua capacidade de elaboração e de execução de projetos ao usá-la em benefício de sua imagem popular e de seu prestígio internacional. Também comprometeu a gestão do setor elétrico loteando seus postos mais importantes e liquidando os restos de sua capacidade de planejamento. Os apagões e miniapagões frequentes são parte da herança maldita deixada na área da infraestrutura.



DONA Rousseff mostrou-se consciente dos danos causados à companhia Petrobrás S/A por seu antecessor (e inventor). Mas é incapaz de renegar essa herança e de mudar de rumo, porque ela mesma carrega o vírus do populismo voluntarista. São características evidenciadas quando ela controla os preços dos combustíveis, barateia bens duráveis pela redução temporária de impostos e, ao mesmo tempo, força a baixa dos juros.