Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Ainda sob o efeito do “custo Brasil”

AQUELE medíocre comportamento da indústria no ano passado, quando o setor cresceu apenas 0,3% , serve para alimentar conhecidas teses sobre os efeitos maléficos da valorização do real na produção interna. O mau resultado ajuda a mobilizar caravanas de lobbies rumo ao Distrito Federal (DF), em busca de ajuda estatal a este ou àquele segmento. Continua a haver em ambos os lados, escritórios do setor privado e gabinetes no governo, uma espécie de recusa a uma abordagem mais ampla, e correta, das dificuldades da indústria.

POR suposto não se discute que uma moeda valorizada desincentiva exportações e turbina importações. E é verdade que as compras no exterior, assim como gastos do turismo fora do país, cresceram bastante. O déficit comercial verificado em janeiro — certamente a ser superado no decorrer do ano — é um retrato desta situação: a média diária exportada no mês (US$ 733,7 milhões) foi apenas 1,3% superior à de janeiro de 2011, enquanto nas importações (US$ 792 milhões) ocorreu uma elevação de 12,3%. Não se pode esquecer, é certo, o efeito no déficit da queda no embarque de commodities importantes para o comércio externo do País, causada pela crise econômica mundial.

JÁ deveria estar longe o tempo em que todos os problemas de competitividade do País no exterior seriam resolvidos pelo câmbio. No ciclo de política econômica autárquica, na Ditadura Militar (1964-85), a moeda nacional sofria minidesvalorizações diárias. Tempos que não voltarão mais, devido ao tamanho da economia brasileira, sua interconexão com o exterior e a consagração do modelo de câmbio flutuante, metas de inflação e busca por equilíbrio fiscal. A abordagem abrangente das dificuldades nacionais de competir tem de considerar todos os itens de composição do chamado “custo Brasil”. Como é ilusório imaginar um câmbio muito desvalorizado, dada a atratividade da economia para investimentos externos diretos e financeiros, a única alternativa consistente é atacar os pontos frágeis do ambiente de negócios no país com uma política efetiva, com metas de curto, médio e longo prazos.

PORTANTO, é imprescindível voltarem com força à agenda nacional aquelas reformas que reduzem custos excessivos sobre a produção: a da questão tributária, o anacronismo da legislação trabalhista, a burocracia impenetrável, a precária infraestrutura de transporte, para citar itens-chave desta agenda. Brasília tem a tendência de baixar medidas tópicas, para aliviar pressões localizadas. Impostos são baixados setorialmente, simplificações na burocracia valem apenas para empresas menores, e assim por diante. Tudo acontece ao sabor dos lobbies. E assim o conjunto dessas medidas não chega a constituir uma política. Ao contrário, costuma criar distorções na economia como um todo, cujos efeitos, quando atacados, o são também no varejo. É assim que o país conseguiu criar um emaranhado de normas, regulamentos e leis no campo tributário, por exemplo. A conjuntura mundial não deve alimentar ilusões. Por isso, cortar de fato o custo Brasil é assunto estratégico.