Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, setembro 30, 2012

O lullopestimo contra a parede

E ENTÃO Luiz Inácio da Silva (PT-SP) sente-se ameaçado. De fato, está. Seu governo (2003-10) corre o risco de receber diploma de improbidade com o julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E seu Partido dos Trabalhadores (PT) pode levar uma surra histórica nas urnas nestas eleições municipais - como mostram todos os números aferidos pelos institutos de pesquisas. São as razões do desespero que levou o ex-presidente da República a pedir socorro a alguns dos partidos da base do governo Dilma Rousseff (2011-14), constrangendo-os a subscrever uma nota dirigida "à sociedade brasileira" na qual se tenta colocar o chefão do PT a salvo das suspeitas a respeito de seu verdadeiro papel no escândalo do Mensalão.



COMO não pegaria bem taxar diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF) de injusto, ou o eleitorado ingrato, a nota volta-se contra os partidos da Oposição, que tiveram a ousadia de sugerir ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da trama criminosa do Mensalão, conforme informações atribuídas ao lobista Marcos Valério de Souza pela reportagem da Revista Veja (Editora Abril).



A PROPÓSITO dessa suspeita natural que a Oposição não teve interesse ou coragem de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente da República no episódio merece, de fato, algum "refresco de memória". Quando o escândalo estourou, Luiz Inácio da Silva declarou que se sentia traído e que o PT devia pedir desculpas ao País; depois, em entrevista à uma equipe de reportagem de TV em Paris, garantiu, cinicamente, que seu partido político havia feito apenas o que todos fazem - caixa 2 de campanha eleitoral; finalmente, já reeleito em 2006, lançou a tese que até hoje sustenta: tudo não passou de uma "farsa" urdida pelas "elites" para "barrar e reverter o processo de mudanças" por ele iniciado, como afirma a nota.



POR ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio foi apresentada pelo presidente do PT, o iracundo deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), a um grupo selecionado de aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o Partido da República (PR), do deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de Roberto Jefferson (PTB-RJ), ambos sendo julgados pelo STF. O documento leva a assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras legendas: Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Comunista do Brasil (PC do B), Partido Democrático Trabalhista (PDT) e Partido Republicano Brasileiro (PRB). Seus termos obedecem ao mais rigoroso figurino da hipocrisia política. Iniciam por repudiar a nota dizendo que o Partido da Social democracia Brasileira (PSDB), o Democratas (DEM) e o Partido Popular Socialista (PPS), "forças conservadoras", "tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio da Silva". E a classificam como "fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro".



PARA PT e partidos aliados, numa velada referência ao processo do Mensalão, a Oposição "tenta fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados". Nenhuma referência, é claro, ao fato de que, no momento, os interesses que estão sendo contrariados são exatamente os de Luiz Inácio da Silva e do próprio PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho, acusando os adversários exatamente daquilo que ele próprio faz, o lullopetismo superou-se em alusão explícita ao julgamento do Mensalão: "Os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam o STF, estão preocupados em fazer da Ação Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Luiz Inácio da Silva".



NOS últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lullopetistas traduziram-se em despautérios de importantes personalidades do partido. O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), acusou o ministro do STF, Joaquim Barbosa, de ser falacioso ao denunciar a compra de apoio parlamentar pela quadrilha mensaleira que, segundo a denúncia da Ação Penal 470, era chefiada pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, e ex-deputado federal (cassado), José Dirceu (PT-SP). O senador Jorge Viana (PT-AC), ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela suspeita de compra de votos, voltou ao tema do "golpe contra o PT". E o deputado federal André Vargas (PT-PR), chefe da equipe nacional de Comunicação do PT, revelou sua peculiar concepção de transparência da vida pública ao condenar a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF como "uma ameaça à democracia". São esses os combatentes da "batalha do tamanho do Brasil" convocada pelo desespero de Lula & Cia. Convocação atendida também pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em esfuziante entrevista à reportagem do Jornal Valor Econômico publicada no último dia 21.