Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, setembro 30, 2018

Estelionato eleitoral: em marcha a submissão do Estado e da Nação

REGIME autoritário de governo pode se instalar da maneira clássica, por meio de um golpe de Estado, ou como resultado de um paulatino processo de captura do poder por um determinado grupelho político, que assegura sua hegemonia a partir do aparelhamento do Estado. De um modo ou de outro, o resultado é sempre o mesmo: a submissão do Estado - e da Nação - aos interesses de quem o controla, o exato oposto de uma democracia. É precisamente isso o que o Partido dos Trabalhadores (PT) tentará fazer se essa facção pseudopolítica conseguir vencer a eleição presidencial deste ano no Brasil.

À AQUELES que ainda concedem ao PT o benefício da dúvida, enxergando naquele partido credenciais democráticas que a agremiação há muito perdeu - se é que um dia as teve -, recomenda-se a leitura de uma entrevista que o “companheiro” José Dirceu (PT-SP) deu ao jornal El País.

POIS bem, na entrevista, o El País pergunta ao ex-ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República (2003-05), deputado federal cassado (2005) e triplamente condenado pela justiça (a penas que somam mais de três décadas de cadeia) se ele acredita na possibilidade de que o PT seja impedido de assumir a Presidência Da República caso vença a eleição - ou seja, se pode haver um golpe. Zé Dirceu considera essa hipótese “improvável”, pois, significaria colocar o Brasil na rota do “desastre total”, uma vez que “na comunidade internacional isso não vai ser aceito”. Mas então Zé Dirceu, condenado a mais de 33 anos de prisão por corrupção no âmbito da Operação Lava Jato, deixa claro que, para o PT, as eleições, afinal, são apenas uma etapa na tomada do poder. “Dentro do País é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nos vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, explicou o condenado ex-ministro.

NÃO é preciso grande esforço para perceber o projeto antidemocrático petista nessas poucas palavras. Quando diz que “tomar o poder” é diferente de “ganhar uma eleição”, significa que o poder pode ser conquistado e consolidado à margem ou mesmo a despeito do natural processo democrático - que, justamente, tem como um de seus fundamentos a alternância de governantes, para evitar a cristalização de um determinado grupo político-partidário na máquina estatal.

AO afirmar que é apenas uma “questão de tempo” para que o PT efetivamente tome o poder, Zé Dirceu dá a entender que esse processo já está em curso. Pode-se dizer que os esquemas arquitetados pelo PT e seus associados para corromper o Congresso Nacional eram parte da estratégia, e só não foram mais longe porque houve um acidente de percurso - a Operação Lava Jato.

PORÉM, há um aspecto menos escandaloso e mais insidioso nessa ofensiva do PT, que é a construção, passo a passo, da hegemonia do pensamento e da ação petistas em diversos setores da sociedade - e, para que essa estratégia insinuada por Zé Dirceu seja bem-sucedida, é preciso contaminar de petismo também as instituições sobre as quais repousa a tarefa de garantir a democracia. Foi exatamente o que o chavismo fez na Venezuela, não à toa um modelo de “democracia” para os petistas.

NUMA resolução publicada depois da consumação do impeachment da então presidente da República Dilma Vana Rousseff (2011-16), em 2016, o PT lamentou não ter se concentrado na “construção de uma força política, social e cultural capaz de dirigir e transformar o País”, o que incluía a reforma do Estado para se contrapor ao que chamou de “sabotagem conservadora”, e disse ter falhado ao não “promover oficiais (das Forças Armadas) com compromisso democrático e nacionalista” - isto é, militares alinhados ao PT.


MAS, como constatou Zé Dirceu, nem o impeachment de Dilma Rousseff nem a prisão do líder máximo da camarilha petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), interrompeu o empreendimento autoritário do partido. Ao contrário: a autorização dada na última sexta-feira, 28, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, para que o presidiário Luiz Inácio Lula da Silva (condenado na segunda instancia da justiça federal a pena de 12 anos e um mês de prisão) possa dar entrevistas na cadeia mostra o quanto as instituições basilares da democracia continuam permeáveis ao lulopetismo.

PARA permitir que o condenado líder petista, encarcerado por corrupção e lavagem de dinheiro, dê declarações com potencial para influir na disputa presidencial, tumultuando um processo já bastante confuso, Lewandowski invocou a “liberdade de imprensa”. Ou seja, recorre-se a um dos princípios mais caros aos regimes democráticos para garantir a Luiz Inácio Lula da Silva um privilégio - situação por si só incompatível com uma democracia, mas muito coerente com a “tomada de poder” pelo PT.

GRAÇAS a recurso impetrado pelo Partido Novo, e acolhido pelo ministro do mesmo STF, Luiz Fux, a autorização para entrevistas ao encarcerado poderoso foi cancelada. A democracia agradece.