Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Um novo comando para elevar a produtividade

CAMBURIÚ (SC) – ESSA anunciada substituição de José Sérgio Gabrielli (PT-BA), pela engenheira Maria da Graça Silva Foster (PT-RJ) na presidência da Companhia Petróleo do Brasil (Petrobrás S/A), a ser referendado pelo Conselho de Administração da empresa pública, foi recebido com alta das cotações das ações da companhia nas Bolsas de Valores no Brasil e no exterior. Confirma-se, assim, a intenção da presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS) de alterar o comando da maior empresa do País e uma das mais importantes companhias de petróleo do mundo, indicando pessoa de suas relações mais próximas e com perfil técnico para a tarefa.

CONFORME a versão, difundida por fontes próximas ao governo Rousseff, de que a substituição está sendo feita para que a presidente da República possa melhor controlar a empresa, Gabrielli repetiu o que vem dizendo há tempos: o governo sempre teve o controle da Petrobrás S/A. Por ser o seu acionista majoritário, determina as suas políticas.

A PETROBRÁS S/A sofreu alguns reveses, nos últimos anos, como a demora na entrega das plataformas de exploração em águas profundas e o não cumprimento das metas de produção de petróleo. Ocorreu, ainda, uma desvalorização das ações da empresa no mercado financeiro, pois os investidores reagiram com desconfiança à maneira como foi feita, em 2010, a capitalização de US$ 120 bilhões da Petrobrás S/A. O valor da companhia pública em Bolsa de Valores caiu de seu nível mais alto, de R$ 429 bilhões, em 2007, para R$ 291 bilhões, em 2011.

ALÉM de ser detentora de um currículo respeitável - engenheira química pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com Mestrado em engenharia de fluidos, Pós-Graduada em Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com MBA em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) -, Graça Foster (como é conhecida publicamente) é um caso exemplar de ascensão social por esforço próprio. Dos 8 aos 12 anos de idade morou no Morro do Adeus, no Complexo do Alemão (Região Norte do Rio de Janeiro), catando papel e vendendo latas e garrafas para custear seus estudos.

NÃO bastam, evidentemente, a coragem, a qualificação técnica e o apoio irrestrito da presidente Rousseff para Foster corrigir os vícios administrativos dentro da Petrobrás S/A, aparelhada principalmente, mas não exclusivamente, pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Já se anuncia que terão de ser trocados outros diretores, entre os quais são citados os diretores de Finanças, de Abastecimento, de Serviços e Exploração, e de Produção.

A TROCA do comando da companhia pública foi informada no último dia 05 por dona Rousseff a um dos patronos políticos de Sérgio Gabrielli, o governador do Estado da Bahia, Jacques Wagner (PT-BA), que se apressou a anunciar que o presidente da Petrobrás S/A tem convite para ser secretário de Estado (e já é visto como um dos pré-candidatos ao governo baiano, em 2014). As intenções políticas de Gabrielli são a explicação ideal para sua saída da presidência da Petrobrás S/A.

A POSIÇÃO hegemônica da Petrobrás S/A na exploração da camada do pré-sal é o maior dos desafios da companhia, pois a Petrobrás S/A terá de participar de todas as companhias ou consórcios formados para extrair o óleo das profundezas oceânicas.

CONTUDO não é esse o único problema, pois a queda de Gabrielli chega depois da morosidade da licitação, suspensa no mês passado, para contratar 21 sondas de perfuração da camada do pré-sal. Dona Rousseff quer que as sondas sejam produzidas no Brasil. Mas não há certeza de que possam, de fato, ser produzidas no País, no prazo previsto.

OUTRA questão é a do preço final de venda dos combustíveis, em especial, gasolina e diesel, cuja fixação tem impacto direto sobre a inflação. O governo tem preferido subsidiar o consumidor de gasolina, via redução tributária, enquanto a Petrobrás importa volumes crescentes de gasolina - e de álcool - para atender à demanda interna.

DONA Graça Foster tem fama de durona no trato profissional e de rigidez na exigência de cumprimento de missões gerenciais. Trabalha com prazos e metas e seus projetos só ganham vida com orçamento aprovado. Segundo apurou nossa reportagem no Rio de Janeiro, Foster trás consigo um calendário de marcos. "É a forma mais primitiva de gestão, a mais simples, você saber o que tem que fazer", revelou ela outro dia. "Todos os gerentes sabem o que precisam fazer, e os coordenadores dos projetos sabem todos os marcos".

PORÉM, o maior desafio do novo comando da Petrobrás S/A será aumentar a produção atual de pouco mais de 2 milhões de barris/dia para 3 milhões de barris, até 2015.