Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, abril 15, 2012

Salve geral!


ESSE foi o ultimato dado pelos delinquentes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), ao espalhar atos de violência no Estado de São Paulo em 2001. Os meliantes, liderados por comandos que engendrados nos presídios do mais importante Estado da Federação, tentaram com tais atos quebrar o sistema estadual de segurança pública, espalhando o medo e caos e, ao mesmo tempo acuando e intimidando a autoridade constituída. Lembram-se?!

O MANJADO jargão da crônica política reitera que: se sabe como uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) começa, mas não como termina. De fato, a menos quando submetidos a uma rigorosa rédea curta, de difícil manejo pelas lideranças das maiorias no Poder Legislativo, os inquéritos parlamentares podem ter desfechos desconfortáveis para quem os patrocinou na expectativa de lucrar politicamente com eles, às expensas dos antagonistas. Um depoente confiável pode deixar escapar, sob pressão dos inquisidores do outro lado, verdades desastrosas para a banda que se imaginava apta a conduzir o inquérito ao destino que lhe conviesse. Surpresas inconvenientes podem resultar também de uma quebra de sigilo bancário e telefônico - o rol de incertezas é infindável.

AGORA neste caso da chamada Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Caso Carlinhos Cachoeira, em vias de ser instalada para apurar as ligações entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, e agentes públicos e privados, as dúvidas são ainda maiores. Além de não se ter a mais remota ideia de como poderá terminar, não se sabe nem como começará nem como se desenrolará; logo, de que estragos será capaz. A sua agenda é vaga e o seu trâmite dependerá de quem a controlar na liga majoritária encabeçada pelos aliados rivais do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Salvo nas raras ocasiões em que o seu objeto vai além das fronteiras partidárias, CPI e CPMI são instrumentos da Oposição. Esta tem a inédita peculiaridade de ter sido desencadeada pela liderança do partido governista no Senado Federal, com a aquiescência do governo Dilma Rousseff (2011-14) e o incentivo do ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP).

É FATO que a intenção da liderança do PT seria criar um espetáculo de longa duração para não deixar que o julgamento dos agentes petistas envolvidos com o Mensalão do Governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), previsto para ocorrer nos próximos meses no Supremo Tribunal Federal (STF), monopolize as atenções da opinião pública neste ano eleitoral. E a intenção de Luiz Inácio da Silva seria vingar-se do governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), por ter revelado ao público que o alertara para o suborno sistemático de deputados da base do governo Luiz Inácio da Silva antes que o escândalo rebentasse em 2005. O governador Perillo está sob os holofotes desde que se ouviu que a sua chefe de gabinete trocava informações com o contraventor Cachoeira sobre operações policiais naquele Estado do Brasil Central. Sem número nem poder de pressão para levar a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, muito menos ambos como agora é o caso, a elucidar os malfeitos apontados no governo da presidente da República Dilma Wana Rousseff (PT-RS), a Oposição aderiu à iniciativa petista por duas razões.

PRIMEIRO, pela impossibilidade da recusa. Afinal, o ponto de partida de tudo foi a revelação da parceria com o barão da batota do seu então baluarte e paladino da moralidade, senador Demóstenes Torres, à época filiado ao Democratas. Depois, Perillo entrou na roda. Segundo, já que a investigação viria de qualquer maneira, Oposição parece ter concluído que nem tudo redundaria em catástrofe para a sua imagem. Há um cidadão que bate ponto no Palácio do Planalto, o subchefe de Assuntos Federativos do Ministério de Relações Institucionais, Olavo Noleto, que teria tido - ou não - contatos com o "empresário de jogos ilícitos" fisgado na Operação Monte Carlo do Departamento de Polícia Federal (DPF) e preso há um mês e meio. E há, principalmente, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT-DF). Ele é suspeito de permitir que o grupo de Carlinhos Cachoeira dirigisse uma licitação milionária na administração do Distrito Federal (DF) e de ter pedido uma reunião com o poderoso chefão, no contexto de seus rolos com a Construtora Delta, cujo dono, Fernando Cavendish, teria - ou não - laços com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Numa gravação do DPF, um operador de do contraventor Cachoeira, o araponga Idalberto Matias, o Dadá, diz a um auxiliar do governador Queiroz, Marcelo Lopes, vulgo Marcelão, demitido semana passada, que a direção da Construtora Delta está furiosa por não ter recebido a contrapartida da sua contribuição à campanha do governador petista Agnelo Queiroz. Estranhamente, as escutas envolvendo o governador de Brasília só vazaram depois da iniciativa de criação desta CPMI.

LANÇANDO mão de outra pérola da crônica política, o clima que cerca a investigação é "de vaca não reconhecer bezerro". Petistas estariam fazendo ato de contrição por tê-la proposto. O presidente do Senado Federal, o senador da República José Sarney (PMDB-AP), julga os seus promotores "irresponsáveis". Já a sociedade não tem por que temer o imponderável, mas receia que um arreglo faça da CPMI uma pizza antes até de começar.