Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, junho 05, 2010

Colchão de dólares

RECIFE (PE) - AS RESERVAS internacionais do Banco Central (BC) ultrapassaram US$ 250 bilhões, pela primeira vez, numa virada de mês. Tal valor supera o valor da dívida externa total do País (US$ 211,6 bilhões), oferecendo, deste modo, garantia total aos credores do Brasil, o que, num mercado financeiro internacional ameaçado pela insolvência de diversos países, nos ajuda na captação de recursos externos.

ENTRETANTO, a autoridade monetária do País, o Banco Central do Brasil (BC), foi criticada por deter um excesso de reservas cuja remuneração é muito baixa porque, por precaução, elas estão aplicadas predominantemente em títulos do Tesouro Norte-Americano, que pagam juros menores do que aqueles que o BC paga para captar recursos necessários às suas compras de dólares no mercado cambial e menores do que os juros de empréstimos externos.

A EQUIPE econômica do governo federal não nega esse fato, lembrando que o BC não é a única autoridade monetária no mundo que sofre esse inconveniente, e leva em conta o conceito positivo que reservas importantes proporcionam. O governo totalitário da China, por exemplo, tem mais de US$ 2 trilhões em reservas e se arrependeu de ter colocado nelas alguns euros, cujo preço em relação ao dólar caiu fortemente. O Japão tem reservas acima de US$ 1 bilhão. Os países do Ocidente têm reservas bem abaixo das dívidas externas, enfrentando dificuldades em fase de crise.

A DIRETORIA do BC, que faz compras importantes no mercado cambial, defende-se dizendo que isso favorece uma desvalorização da moeda nacional, cuja valorização é um entrave às exportações e favorece as importações. Afirma ainda que decidiu, desde 2007, constituir reservas que ofereçam garantias aos credores do Brasil, tendo como segundo objetivo evitar a excessiva volatilidade das flutuações da taxa cambial, que criam inconvenientes no comércio exterior e para as empresas com dívidas no mercado financeiro internacional.

AS INTERVENÇÕES do BC no mercado cambial nos últimos meses foram muito além do que se justificaria para anular o saldo negativo do fluxo cambial: de fato, verifica-se que as compras de dólar à vista no mercado cambial, no ano, somaram US$ 15,8 bilhões até 28 de Maio, enquanto o fluxo cambial até essa data ficou negativo em US$ 9,7 bilhões. Essa intervenção mostra que o Brasil não tem um câmbio flutuante livre. O BC, com isso, não conteve a volatilidade no mercado cambial. Devemos estar conscientes de que, sem as intervenções, a taxa cambial ficaria ainda mais valorizada, além disso as reservas oferecem mais tranquilidade diante do déficit das contas correntes externas.