Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Previsões cinzentas

ESSE 2010 teve um início negativo tanto no que se refere aos resultados já alcançados como às previsões, levando à conclusão de que as autoridades monetárias terão de elevar a Taxa Selic provavelmente em Abril próximo.

UM indicador inicial para a inflação, até o dia 15 deste Janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor apurado pela Fundação Getúlio Vargas (INPC-FGV), acusa um aumento de 0,78%, ante 0,51% no último levantamento. Neste mês inteiro (30 dias) poderá atingir 1%. O aumento reflete reajustes sazonais deste início de ano, mas dois fatores inflaram o resultado: uma elevação dos preços no atacado decorrente dos aumentos das "commodities", que se poderão ampliar nos próximos meses, acompanhada por ligeira desvalorização do real ante o dólar, desde que o governo decidiu que o Fundo Soberano poderia comprar divisas.

AO QUE tudo indica tais fatores continuarão a pressionar os preços, ao contrário de 2009, quando os preços das commodities ficaram estáveis ou baixaram por causa da redução da demanda internacional. O prolongamento desse quadro levaria a direção do Banco Central do Brasil (BC) a elevar a Taxa Selic até o final do 1º quadrimestre.

ADEMAIS, a situação cambial é mais preocupante, mas no longo prazo, dado o nível das reservas internacionais do País.

O RESULTADO da balança comercial nas duas primeiras semanas deste Janeiro, publicados na última Segunda-feira, 18, permitem prenunciar a sua evolução ao longo do ano. Em relação ao mês anterior, registra-se queda de 24,8% das exportações, crescimento de 5,9% das importações, com um déficit de US$ 967 milhões, que representa redução de 197,3% em relação ao resultado das duas primeiras semanas de Dezembro de 2009.

MESMO antes de esses resultados serem conhecidos, a pesquisa Focus do Mercado encomendada pelo BC mostrava a expectativa de um superávit da balança comercial, neste ano, de US$ 10,75 bilhões (ante US$ 11,30 bilhões quatro semanas atrás) e um déficit das transações correntes de US$ 45,5 bilhões (ante US$ 40,3 bilhões), que poderá atingir US$ 55 bilhões em 2011.

TAIS PREVISÕES pessimistas não estão baseadas apenas nas perspectivas da balança comercial, mas também no aumento das remessas de lucros e dividendos numa economia robusta que atrai os investimentos diretos estrangeiros. Mas estes, ao contrário de 2009, não serão suficientes para cobrir o déficit das transações correntes, o que obrigará o governo a recorrer a empréstimos externos em maior quantidade, que gerarão maiores pagamentos de juros.