Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, março 11, 2011

Turnê desnecessária

BÚZIOS (RJ) – A PRESIDENTE da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), em sua primeira viagem para fora da América Latina (AL), visitará a China. De fato tem lógica a escolha, pois hoje os chineses já têm a segunda economia de mercado no mundo – rumando aceleradamente para ser a primeira. Por outro lado, a China é o maior mercado importador das commodities brasileiras.

DONA Rousseff embarca em Abril para o gigante asiático. Na agenda estão previstas reuniões com representantes do empresariado chinês. O ministro de Estado das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirma que serão feitos esforços para reduzir os danos causados pelas importações de produtos chineses no mercado nacional.

UMA das propostas na bagagem é negociar parcerias para ampliar as exportações de minério de ferro e aço do Brasil para a China. Para isso não haveria a necessidade da viagem dessa comitiva cara, uma vez que os chineses necessitam comprar nossa soja e nosso minério de ferro, entre outras commodities, para alimentar sua enorme população e ter acesso à matéria-prima essencial para seu gigantesco parque industrial. Vale salientar que a população da China teve um ganho enorme de renda e agora passa a demandar mais comida, item escasso num país com pouca área cultivável.

DO MESMO modo, o crescimento de seu parque industrial demanda mais e mais matérias-primas básicas, também indisponíveis naquele país. Ou seja, o Brasil passa a ser uma das alternativas mais viáveis ao abastecimento de commodities à China. Os chineses necessitam comprar aqui, não dependendo de nenhuma viagem para promover nossas vendas.

OUTRA explicação para essa viagem de dona Rousseff e sua comitiva à China é atender aos apelos do empresariado nacional para evitar que os produtos chineses prejudiquem, ainda mais, o mercado brasileiro, levando à maior desindustrialização.

PORÉM, em 2005, foi exatamente a mesma coisa. O Ministério da Indústria da China convidou o governo brasileiro e representantes dos inúmeros setores industriais nacionais - que já naquela época se sentiam altamente prejudicados pelo surto de importação de produtos chineses - a organizarem uma missão de alto nível a China. Na ocasião, seriam negociadas formas de autorregulamentação, por parte dos chineses, em suas exportações ao Brasil de diversos produtos, como forma de conciliar os interesses comerciais de chineses e brasileiros.

INÚMEROS dirigentes de setores industriais brasileiros sentiram-se aliviados e juntaram-se à missão, como forma de resolver esse grave problema. Tinham, com o governo brasileiro, a esperança de conseguir negociar uma solução viável para todos. O governo brasileiro esteve representado, naquela oportunidade, por inúmeros integrantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), inclusive com a participação do então ministro Luiz Fernando Furlan (PP-SP).