Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, agosto 08, 2006

Não será por falta de adeus


WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
BELO HORIZONTE

Os políticos e os jornalistas, dizem detratores perversos, temos uma norma comum: quando menos sabemos, mais falamos. O vácuo é detestável; à falta de fatos, especulamos; se tudo é escuro, interpretamos a opacidade das sombras.

É mais ou menos o que está acontecendo em relação a Cuba, desde que o agravamento clínico de Fidel Castro exigiu seu afastamento e a passagem do poder temporariamente — segundo a versão oficial — para o herdeiro ungido: Raúl Castro, irmão mais moço. Desse jovem septuagenário (tem 75) não se sabe muito. Chefia as forças armadas cubanas, é homem de família e marxista ortodoxo.

Ignora-se se o estado de Fidel é suficientemente grave para causar, a médio prazo, abdicação definitiva. Também não se sabe se Raúl tem vocação, desejo e capacidade política de exercer o poder absoluto, segundo o modelo em vigor. Igualmente importante: um governo do irmão teria traços iguais ou aproximados daqueles que têm caracterizado o governo ditatorial do primogênito?

Pelo pouco que sabemos, Raúl é absolutamente fiel à obra do irmão. O que se ignora é se ele, com muita fidelidade e escasso carisma, conseguirá se manter no poder. Não é sabido, também, quanto pesará o fato de que os cubanos mais jovens — tanto os que não puderam como os que não quiseram escapar para Miami (EUA) — não conhecem outro regime além do tipo particular de comunismo implantado há quase cinco décadas por Fidel Castro e seu finado companheiro de armas Ernesto Che Guevara. Já os bem mais velhos certamente não têm saudades da ditadura de Fugêncio Batista.

Alguma Oposição existe — mas aqueles que pensam diferentemente dos castristas fugiram ou são mantidos sob pesada vigilância e regime de exceção.

De qualquer forma, alimentada pela esperança ou pelo pessimismo, a boataria come solta. Na última Quarta-feira, 02, a reportagem do jornal Miami Herald, com larga experiência em acompanhar o que se passa na ilha caribenha e na comunidade cubana da Flórida (EUA), registrou declarações pessimistas tanto de asilados como de habitantes de Cuba. Falavam em aumento da repressão e de intensa movimentação de tropas. Mas outros moradores e diplomatas estrangeiros em Havana diziam que tudo está em plena normalidade.

Nessas horas, cada um vê o que quer. Mas esperanças são permitidas. Como a de que um possível fim do castrismo signifique um passo real em direção à democracia em Cuba.
Mas, pensando nos padrinhos conhecidos, é bom especificar: democracia de verdade, com partidos e eleições de verdade, independência real. Com certeza, não se precisa de um Iraque no Caribe.