Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, agosto 18, 2006

Retrocesso

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
TIRADENTES (MG)
Todos os candidatos à Presidência da República parecem estar cometendo um erro histórico pelo que se viu na primeira semana de campanha eleitoral eletrônica. Na telinha do primeiro debate ou dos programas gratuitos de rádio e TV, o público viu um espetáculo pausterizado, repleto de clichês, com frases vazias e bordões idem.

Os candidatos, mesmo o vosso presidente da república Luiz Inácio da Silva (PT-SP), líder nas pesquisas de intenção de voto até aqui, puseram no ar uma campanha que aparenta ter sido desenhada para o Brasil pré-mensalão. Será possível um erro de cálculo tão grande? Quem pode comprar um carro usado de um candidato que promete na telinha ser duro contra o crime organizado, ou que vai acabar com a corrupção quando São Paulo segue sitiada e uma grande parte dos corruptos do congresso renunciou antes de ser punido e é candidato a um novo mandato.

Mesmo as candidaturas mais radicais parecem sofrer de total miopia midiática. Alguém acha que depois do fracasso do Partido dos Trabalhadores (PT) em representar a esquerda no poder (só para constar, o PT fez um governo de centro com viés social, nada mais do que isso) uma candidata que prega a ruptura radical com todos os conceitos básicos da economia moderna vai conseguir se eleger?

Por que o público brasileiro precisa aturar um candidato que só fala de educação sabendo que na condição de ministro de Estado da Educação ele foi incapaz de promover sequer parte das mudanças que hoje promete?

Na prática, a crítica não merece ser individual porque todos os candidatos apresentaram um programa eleitoral caduco e falso. A receita padrão onde consta um perfil do candidato reforçando o espírito de família, mania de trabalho e a disposição de resolver, nas palavras, todos o problema do País parece simplesmente ridícula no vídeo.

Nesta primeira semana de programas gratuitos nenhuma idéia nova sequer foi veiculada e no primeiro debate os candidatos que compareceram não tiveram nem a coragem de polemizar como estímulo mínimo ao tal "debate democrático". Isso sem falar na estúpida idéia de colocar músicas de inspiração nordestina em todos os programas só para tentar falar mais ao coração das camadas menos privilegiadas da população.

A campanha já está morna pelo fato de muitos resultados, inclusive o da disputa presidencial, parecerem definidos para vitórias no primeiro turno. O discurso ultrapassado e os programas idem transformaram a campanha eleitoral em um simples martírio.

Falta inteligência, bom senso e respeito aos eleitores em todas as campanhas. Falta a constatação elementar de que o eleitor brasileiro depois de tudo que passou durante o primeiro mandato do vosso presidente-candidato (2003-6) merece dos candidatos uma profunda análise do que aconteceu e do que está por vir.

O Brasil não passa por nenhum momento de transição, é verdade, as pesquisas indicam satisfação do eleitorado com o atual governo e uma evidente tendência à reeleição. O momento portanto seria propício para um debate mais intenso e profundo sobre quais os caminhos ideais para o País.

Os candidatos porém preferem jogar na retranca e montam uma campanha nula em inteligência e imune ao debate construtivo.
A democracia brasileira, ainda jovem porém vigorosa, merecia mais de seus políticos. Vamos todos torcer para que a campanha cresça em criatividade e apareça em propostas sérias.