Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, abril 02, 2009

Roda da furtuna

Não dá mais para declarações genéricas e tons brandos. As conseqüências globais da crise ameaçam todos os países e mudanças radicais são necessárias e urgentes. Aí é que está o problema. Estados Unidos da América (EUA), Europa e paises emergentes pensam diferente e alguns temas vão exigir coragem e determinação para serem enfrentados.Diante da maior crise econômica do planeta, os líderes precisam apresentar propostas concretas sob o risco de saírem desmoralizados e enfraquecidos. A responsabilidade é histórica

A regulação do setor financeiro é um deles. Os norteámericanos já viram que não adianta ficar ajudando bancos e empresas se eles continuam com velhas práticas, desrespeitando a própria ajuda que recebem. É preciso ir além, e criar limites não só para os bônus milionários, mas para o próprio funcionamento do sistema.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy ameaçou levantar e ir embora se o G-20 saisse com “falsos compromissos” e não regular os mercados financeiros, aí incluídos os paraísos fiscais e fundos de hedge. Ao se encontrar com o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (2003-10), Sarkozy manifestou coincidência de interesses em torno de maior regulação, “levando em conta o desastre que representou a desregulação”.

Estabelecer princípios e moral para o capitalismo financeiro não é tarefa fácil, mas a união do Brasil, em nome dos emergentes, e da França, falando como Europa, pode vergar os EUA e a Inglaterra, mais avessos à questão.

Outro tema espinhoso, já levantado por China e Rússia, trata do fim da hegemonia do dólar. Se os EUA estão profundamente atingidos pela crise e o presidente Barack Obama diz que o País não pode ser o único motor do crescimento, por que manter o padrão dólar vigente? O presidente do Banco Central chinês, Zhou Xiaochuan, já sugeriu em artigo a criação de uma nova moeda de reserva internacional, gerenciada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para substituir o dólar. O mundo conta com as enormes reservas internacionais chinesas para sair da crise e uma posição forte do país pode pesar numa mudança das regras do jogo.

Os países ricos concordam em aumentar os recursos do FMI para ajudar os mais pobres, mas os emergentes devem aproveitar a reunião do G20 para mudar a governança da instituição, dominada por Europa e EUA. A China também já tocou na questão, que teria apoio dos emergentes representados no G-20.

Não são desafios fáceis, mas os líderes sairão derrotados se tudo permanecer como antes. Como disse Sarkozy, ao lado da chanceler alemã Ângela Merkel, esta é uma oportunidade histórica de dar uma consciência ao capitalismo. Se isso é possível, os líderes do G-20 estão com tal responsabilidade nas mãos.