Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, outubro 06, 2009

Que o Redentor nos proteja!

SEM sombras de dúvida a escolha da Cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 foi uma grande vitória do povo do Rio de Janeiro, do Brasil e da América Latina. Mas é maior ainda o desafio de transformar a Cidade do Rio de Janeiro, em apenas sete anos, naquilo que ela há muito deveria ser - e está tão longe de ser - em termos de infraestrutura urbana, de transportes, de habitação e, sobretudo, de segurança pública, para sediar as Olimpíadas de 2016. Não será fácil a escalada para a Cidade Maravilha Mutante consiga, mesmo com o formidável orçamento inicialmente previsto de R$ 28 bilhões, chegar a 2016 com a qualidade correspondente ao qualificativo de Maravilhosa, decorrente de sua imbatível beleza natural. O desperdício e o desastre orçamentário que foram cometidos na organização e realização dos Jogos Pan-Americanos, o Pan-Rio’2007, trás um ceticismo que mina nossas esperanças nessa mudança. Mesmo assim, é de esperar que o compromisso mundial de sediar uma Olimpíada opere transformações profundas - inclusive no campo da ética pública.

CERTAMENTE seria insensibilidade achar que a população de um País que sediará os Jogos Olímpicos não tenha motivo de justo orgulho pela projeção de sua imagem no mundo - especialmente nestes tempos de comunicação instantânea -, afora as oportunidades abertas nos campos do turismo, do esporte e da cultura. Neste último aspecto, aliás, os grandes espetáculos apresentados na abertura e no encerramento de determinadas Olimpíadas - como aquela dos Jogos Olímpicos de Moscou e mais recentemente, dos Jogos Olímpicos de Pequim - têm se constituído em marco de exaltação das respectivas culturas nacionais.

AS OLIMPÍADAS dos tempos modernos são a representação simbólica da busca de aperfeiçoamento da espécie humana, no que o desenvolvimento das habilidades no esporte se junta ao congraçamento entre os povos, por meio da competição elevada e pacífica. Assim é que se justificou o esforço dos governos dos países onde se situam as quatro cidades que se candidataram a sediar os Jogos Olímpicos de 2016 - Rio de Janeiro, Madri, Tóquio e Chicago - para convencer a maioria dos 106 delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI) das razões e vantagens de cada uma delas.

É BEM verdade que essa competição, travada em Copenhague pelos governantes dos paises das cidades- candidatas – o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (2003-10) e o presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Houssein Obama, rei da Espanha, Juan Carlos, e o primeiro-ministro do Japão, Yukio Hatoyama -, nem sempre se mostrou muito olímpica. As articulações e conchavos com delegados - em que não faltaram críticas ácidas às cidades concorrentes -, assim como a defesa final que cada uma delas fez perante o COI, tiveram seu peso. Mas esse processo de seleção já se iniciara em Março de 2007 e a reunião de Sexta-feira, 02, foi apenas o seu desfecho.

NO PROCESSO de votação do COI, pelo sistema de eliminação, surpreendeu o fato de Chicago - por muitos considerada a favorita, especialmente depois da ida de Barack Obama a Copenhague - ter sido a primeira eliminada. Com certeza deve ter pesado a falta de adesão da população da cidade norte-americana ao projeto de torná-la sede de uma Olimpíada, diferentemente do que ocorreu com as populações das cidades finalistas, Rio de Janeiro e Madri, que externaram seu entusiasmo com o projeto de abrigar os Jogos Olímpicos de 2016. O Rio de Janeiro, afinal, levou vantagem também pelo fato de ser a primeira cidade da América do Sul a poder sediar uma Olimpíada - enquanto na Espanha já houve a Olimpíada de Barcelona e a Europa sediará a próxima, em 2012, em Londres.

DE FATO foi eficiente a defesa da candidatura do Rio de Janeiro, associando-a aos dados positivos da recuperação econômica brasileira, em relação à crise econômica mundial. De certo também funcionou o tom emocional do discurso do “CARA”, bem como a atuação do rei Pelé, que continua sendo o esportista mais prestigiado do mundo.

AGORA, obtida essa tão significativa vitória, a sociedade brasileira - e, particularmente, a sociedade carioca - sabe que serão grandes as oportunidades propiciadas pelos investimentos públicos programados. Mas sabe também, especialmente pela lembrança dos Jogos Pan-Americanos de 2007, que grandes serão as oportunidades de desperdício e de desvio de dinheiro público. Então, só lhe resta mobilizar-se para exigir austeridade administrativa e transparência em todos os gastos governamentais destinados a preparar a cidade do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016.

E QUE o Redentor proteja O Rio!