Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, maio 15, 2009

Faxina na Infraero

A LIDERANÇA do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) não esperneia porque o irmão e a cunhada do líder do Governo no Senado Federal, senador Romero Jucá (PMDB-PB), e a ex-mulher do líder do partido na Câmara dos Deputados, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-PE), perderam seus empregos na Companhia Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero), como deve acontecer com a imensa maioria da centena de funcionários comissionados da estatal, cujos salários variam de R$ 4 mil a R$ 14 mil. Deles, nada menos de 81 chegaram lá por serem correligionários, amigos ou parentes de políticos de vários partidos. A liderança do PMDB decerto protesta porque as demissões privam os padrinhos de algo mais substancioso do que a paga mensal perdida pelos apadrinhados. Numa palavra, oportunidades.

A INFRAERO, que administra 67 aeroportos com um orçamento anual de cerca de R$ 1,3 bilhão, é um manancial de contratos de obras e de cessão de espaços nos terminais para publicidade. Empregos como aqueles, portanto, credenciam os seus ocupantes a participar de decisões que envolvem grandes interesses. Quando as coisas saem a seu gosto, a sua comprovada influência acrescenta poder e prestígio aos que os indicaram. Desse mecanismo dependem o patrimônio político dos caciques partidários e o financiamento de suas campanhas eleitorais. É assim que o sistema funciona, mesmo quando os diretamente envolvidos são insuspeitos de ilicitudes no manuseio dos recursos públicos.

PORTANTO, faz todo o sentido a demanda peemedebista por um lugar no grupo da coordenação política sob a Presidência de “O-CARA”, integrado pelos chamados "ministros da casa", todos eles petistas (salvo o titular da Secretaria de Comunicação do governo, jornalista Franklin Martins, sem filiação partidária). Com acesso assegurado a esse grupo especial de interlocutores do vosso presidente da República, que com ele se reúne no mínimo uma vez por semana, a legenda poderia, se não impedir que se concretizem decisões lesivas às suas mais caras aspirações, a exemplo do que aconteceu com os cargos na Infraero, ao menos ser indenizada com nomeações também proveitosas em outras áreas da administração.

O ÁS na mão da liderança do PMDB, é evidentemente o seu decantado - quem sabe inflado - cacife para a sucessão de 2010. Diferentemente da maioria dos observadores, que apostam na divisão da sigla entre os candidatos governistas e da Oposição, “O-CARA” parece acreditar que os recursos de poder ao seu alcance poderão arrebanhá-la para fazer par com a sua escolhida, a hoje convalescente Dilma Rousseff ou, conforme a evolução do seu estado de saúde, para respaldar um ainda nebuloso "plano B". E disso se valem os cortejados para demandar, sem a menor preocupação de disfarçar os seus apetites, parceria "na construção e elaboração" desse ano e meio de governo que o líder emérito do petismo tem pela frente.

O DEPUTADO Ciro Gomes (PSB-CE), descontados os presumíveis interesses que o levaram a se manifestar - ele novamente quer ser "uma alternativa" ao Palácio do Planalto -, desta vez disse a coisa certa, ao advertir para o risco que correria o vosso presidente da República se as concessões que fizer ao PMDB incluírem um recuo na decisão de apoiar o afastamento dos protegidos políticos dos quadros da Infraero. "Uma volta aí seria a desmoralização", adverte. De fato, o que está acontecendo na estatal dos aeroportos é algo literalmente excepcional na era da república sindicalista do petismo. Com o aval do ministro de Estado da Defesa, Nelson Jobim (PMDB-RS), o presidente da empresa, brigadeiro Cleonilson Nicácio, implantou na sua estrutura um processo de profissionalização que é a antítese dos padrões dominantes na administração federal engendrada pelo petismo no poder.

DOS 109 CARGOS em comissão da Infraero (chegaram a ser 240!) serão reduzidos a 12. Isso atinge em cheio o esquema de loteamento que ali prevalecia: dos 109, 81 estavam ocupados por membros de patotas políticas (28 deles já demitidos). E, dos 5 diretores, 4 terão de ser necessariamente funcionários de carreira. A reestruturação, que há pouco menos de um mês se tornou norma estatutária, deixará a estatal em condições de atender aos padrões requeridos das empresas de capital aberto - no que ela poderá se transformar. As pressões por um retrocesso são o cúmulo do descaramento, mas não deixam de ser comensuráveis com o alcance da mudança em curso. Mas não se vê como o vosso presidente da República possa dar o dito pelo não dito. Se o fizesse, afrontaria o seu ministro da Defesa, o dirigente da empresa - e ainda a corporação dos seus empregados.