Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, outubro 26, 2010

Black Eyed Peas - I Gotta Feeling

A mulheres de Sérgio Porto

DEFINIDA pelos poetas contemplativos de ocasião como "fábrica de mulher bonita", a Cidade do Rio de Janeiro (RJ) é cenário e personagem do seriado As Cariocas, que estreou há uma semana, na Terça-feira, às 23 horas, na TV GLOBO. Em seu retorno à Central Globo de Produção (CGP), depois de dez anos e alguns campeões de bilheteria no Cinema com a produtora GLOBOFILMES, o diretor Daniel Filho foi buscar o charme do Rio de Janeiro capturado por Sérgio Porto no livro que dá nome à série, escrito em 1967 e assinou com o próprio nome (não seu pseudônimo famoso - Stanislaw Ponte-Preta).

MUITO embora o noticiário imprima hoje em dia uma imagem nem um pouco glamourosa e bem distante daquele Rio de Janeiro da época de Sérgio Porto, a aura dourada da cidade é resistente e ainda tem muito a ver com o humor especial de Stanislaw Ponte-Preta. "Fizemos adaptações, pois as histórias eram da década de 60. E muitas histórias, agora praticamente 50 anos depois de escritas, não eram tão intrigantes", observa Daniel Filho, em entrevista à nossa reportagem. "Mas o espírito do Sérgio Porto é intrigante, a crítica que ele faz, o jeito irreverente de tratar as histórias poderiam permanecer. Ele era gozador, irônico, irreverente".

UMA COPRODUÇÃO da Lereby Filmes (de Daniel Filho) e TV GLOBO, “As Cariocas” tem texto final do novelista Euclydes Marinho, com quem Daniel Filho trabalhou em “Malu Mulher” (TV GLOBO) nos anos 1980. São dez episódios, cada um centrado numa mulher diferente e localizado em um bairro da Cidade. O diretor escolheu com cuidado as atrizes para interpretar as dez protagonistas: Alinne Moraes, Paola Oliveira, Alessandra Negrini, Adriana Esteves, Cíntia Rosa, Grazi Massafera, Fernanda Torres, Sônia Braga, Angélica e Deborah Secco. "Não há como negar que elas são as top ten de muitos brasileiros", brinca Daniel Filho.

OS SEIS contos do livro de Porto - “A Grã-fina de Copacabana”, “A Noiva do Catete”, “A Donzela da Televisão”, “A Currada de Madureira”, “A Desquitada da Tijuca” e “A Desinibida do Grajaú” - deram origem às dez novas histórias. "A adaptação acompanha as mudanças na cidade. Temos, por exemplo, um episódio passado na Mangueira que fala sobre as lan-houses (A Internauta da Mangueira)", detalha Cris D’Amato, que dividiu a direção com Daniel Filho e Amora Mautner.

PARA o diretor Daniel Filho, é muito relevante a decisão de dividir essa série sobre mulheres com duas diretoras. "Sempre pensei que um projeto de dez episódios deveria contar com pelo menos mais dois diretores. O desafio de As Cariocas era fazer uma série com dez histórias e mulheres diferentes, mas com uma unidade, um programa só", explica. "Então, aposto na visão feminina com duas diretoras. Já fiz os seriados Mulher (2002) e Malu Mulher, já tenho uma carteirinha para falar sobre o assunto."

CONTANDO com um elenco de 120 atores, que não se repetem pelos episódios - a não ser o narrador, o próprio Sérgio Porto com a voz do próprio Daniel Filho -, “As Cariocas” é um acontecimento televisivo. Estarão em cena, por exemplo, os atores Sônia Braga e Antonio Fagundes, repetindo o casal “Júlia e Cacá”, inclusive nos nomes, da novela “Dancin’Days” (1978), que Daniel Filho dirigiu com grande sucesso. "Foi uma homenagem", resume o diretor.

ALÉM de Sônia Braga, outras atrizes do elenco voltam a ser parceiras do diretor. Regina Duarte fez o seriado “Malu Mulher” e agora está em “A Adúltera da Urca”. Deborah Secco, que era menina quando esteve no seriado “Confissões de Adolescente” (TV CULTURA, 1994), agora é “Alice”, de “A Suicida da Lapa”. A apresentadora Angélica não trabalhava com Daniel Filho desde o filme “Zoando na TV” (1998, GLOBOFILMES) e aparece como a “Maria Teresa” de “A Traída da Barra”, em que contracena com o marido legítimo, o apresentador Luciano Huck.

E MESMO rejuvenescidas, duas personagens originais de Porto permanecem. Alinne Moraes é a “Nádia” de “A Noiva do Catete”; Gazi Massafera, a “Michelle” de “A Desinibida do Grajaú”.

QUANDO Daniel Filho comprou os direitos de “As Cariocas”, em 2008, pensava em fazer um filme. "Mas nesse meio tempo, a TV Globo passou a fazer coprodução. A coprodução de produtos era um sonho meu. Eu via nisso uma coisa importante para a televisão, que é o que é feito em todos os outros países", observa.

DES SEUS 60 anos de carreira na televisão brasileira, Daniel Filho passou os últimos dez fora. Mas trabalhou tão ativamente e com tanto sucesso, que diz não encarar esse projeto como uma volta à TV. "Não considero que esteja voltando. Ainda posso ser visto como um homem da TV. E sou".