Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, março 18, 2010

Desfecho urgente e necessário

TODAS AS acusações feitas contra o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) e presidente licenciado da, João Vaccari Neto, já não se limitam aos autos da investigação em curso no Ministério Público de São Paulo sobre os malfeitos na Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo (Bancoop), que lesaram pelo menos 3 mil dos seus 8.600 mutuários. Conforme se noticiou, com base nas evidências coletadas pelo promotor da Justiça, José Carlos Blat, eles compraram imóveis na planta que ou foram entregues ainda crus ou nem sequer saíram do papel. Apenas 18 dos 46 empreendimentos foram concluídos. Segundo o promotor, os dirigentes da Bancoop - a começar de Vaccari, que a presidiu de 2005 a fevereiro passado - "sangraram os cofres da cooperativa em benefício próprio e também para fomentar campanhas políticas do PT". Ele calcula que o rombo é da ordem de R$ 100 milhões.

NESTES últimos dias, enquanto Blat reúne informações adicionais que respaldem o seu pedido de quebra do sigilo bancário de Vaccari - a Justiça negou a solicitação original e o bloqueio dos bens da Bancoop -, a revista Veja (Editora) em sua edição da última Quarta-feira, 17, voltou a publicar denúncias contra o tesoureiro petista. Desta vez foram extraídas de depoimentos ao Ministério Público Federal (MPF) do corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, que vinculam Vaccari ao mensalão empreendido pelo esquema do delubiovalerioduto no primeiro mandado do vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (2003-06). Tomados entre 2005 e 2006, incriminam também o ex-ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, e ex-deputado federal (cassado), José Dirceu (PT-SP). Acusado de remeter ilegalmente para o exterior US$ 2 milhões, Funaro fez um acordo de delação premiada quando estava para ser denunciado como réu no processo sobre o maior escândalo do lullismo. Funaro descreveu a engenharia financeira petista para abastecer o caixa 2 do partido (de onde saíam os recursos do suborno a deputados federais e do pagamento dos custos de campanhas).

ERA simples assim, a crer no que o doleiro disse em seu depoimento. Em 2003 e 2004, quando ainda era o diretor financeiro da Bancoop, Vaccari fazia a ponte entre o PT e os fundos de pensão das empresas estatais, como o Fundo de Previdência e Seguridade Social dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), o Fundo Nacional de Previdência e Seguridade Social dos Funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) e do Fundo de Previdência Seguridade Social dos Funcionários da Petrobrás (Petros). Nessa condição, ele intermediava negócios dos fundos previdenciários com bancos, vantajosos para estes, porém prejudiciais para aqueles, desde que os beneficiados pingassem nas mãos do petista comissões de até 15%, as quais ele repassava para os cofres subterrâneos do partido. Sempre segundo Funaro, o padrão seria 12%. Vaccari não era um operador solitário. Trabalhava em sintonia com o então tesoureiro petista, Delúbio Soares - ambos sincronizados com o então ministro Zé Dirceu, apontado como o cabeça da "organização criminosa" no processo do mensalão que tramita no momento no Supremo Tribunal Federal (STF). Em depoimento à Comissaõ Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou irregularidades em contratos celebrado entre empresas privadas e privados e a Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (EBCT) em Março de 2006, Funaro mencionou a participação de Vaccari no esquema, de que teria ouvido falar no mercado financeiro. Ficou por isso.

DE ZÉ Dirceu, o doleiro contou que o então ministro induziu a diretoria do Fundo de Previdência e Seguridade Social dos Trabalhadores dos Portos do Brasil (Portus) - também controlado pelo PT - ao mau negócio de vender as suas participações em dois empreendimentos imobiliários em Santa Catarina. No primeiro caso, Dirceu teria recebido "por fora", dos compradores, R$ 500 mil. No segundo, a comissão seria de R$ 5 milhões. O seu advogado, José Luis de Oliveira Lima, considera as afirmações "levianas, desprovidas de qualquer documento". Além disso, Zé Dirceu jamais teria tido contato com Funaro. Vaccari, por sua vez, assinala que, passados 5 anos do depoimento, "nunca fui chamado para prestar esclarecimentos". O MPF "não propôs ação contra mim. Nenhuma denúncia foi apresentada". De fato, há um problema tanto na história da Bancoop - calçada, embora, em indícios objetivos -, como nas outras, que se amparam apenas na palavra de um "réu colaborador da Justiça".

A RELEVÂNCIA deste problema resiste quando os procuradores da Justiça não conseguem ver os seus procedimentos transformados em processos judiciais. Segundo a reportagem publicada pela revista Veja, a parte do depoimento de Funaro que menciona Vaccari "ainda é guardada sob sigilo" no STF. Em São Paulo, vão para 3 anos as investigações sobre a Bancoop. A esta altura, de duas, uma: ou o caso já deveria ter sido encerrado ou despachado para a Justiça. Em situações do gênero, a divulgação de suspeitas ou alegações contidas em documentos a que a Imprensa tem acesso apenas acentua a urgência com que elas devem chegar a um desfecho.