Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, outubro 21, 2012

Foram tantas emoções!

NADA surge do acaso! João Emanuel Carneiro, novelista que criou a história e passou 178 capítulos flertando com o ritmo de seriado televisivo, ao conceber situações com início, meio e quase fim em cada episódio, o 179.º capítulo não deixou dúvidas de que sua “Avenida Brasil” (TV GLOBO, 2012) é obra feita do mais clássico folhetim.



PARA provar que é amante do gênero, Carneiro usou um recurso usado na telenovela "Mulheres de Areia" (versão produzida pela TV GLOBO), estrelada pela grande atriz Glorinha Pires, em que um dos vilões da trama - Wanderley, um pilantra trapaceiro (brilhantemente interpretado pelo ótimo ator Paulo Beti) -, é assassinado. Mas, como em "Avenida Brasil", a vítima antes de morrer sofre a agressão de vários personagens suspeitos, todos com inúmeros pretextos para cometer o crime: ódio, vingança, desforra, justiça...E o público apostando ser a personagem da antagonista "Raquel" a assassina, o que seria óbvio. Contudo, Wanderley não morre do tiro que o atingiu e sim de uma garrafada desferida por uma de suas amantes (personagem até então secundário na trama).




AGORA, repete-se em "Avenida Brasil". Max odiado e ferido por tantos outros personagens desde que surtou no lixão, acabou vitimado pela comparsa e amante de uma vida inteira - a própria Carminha, numa catarse redentora do personagem antagônico defendido com maestria pela atriz Adriana Esteves. Sua Carmem Lúcia nivela-se à Flora Pereira da Silva (na interpretação memorável da belíssima e talentosíssima Patricia Pilar) em "A Favorita" (TV GLOBO, 2008 - também, escrita por Carneiro).




VILÃ que assegurou uma vaga na galeria das maiores antagonista do gênero, Carminha teve um surto de justiça, como pediria qualquer epílogo de telenovela. "Gente como a gente tem de pagar pelo que fez", disse a inescrupulosa arrependida Carminha ao pai, Santiago (outra grande interpretação do veterano ator Juca de Oliveira).





CARMINHA salvou a ex-enteada, Nina (outra excelente interpretação da bela atriz belorizontina Débora Falabella), encerrando o duelo traçado ao longo de oito meses, e admitiu a Tufão (Murilo Benício) que o amou, a seu modo. E dá-lhe solo de violino, casamento e gravidez, tudo cena de epílogo. Carminha, que por várias ocasiões jurou que não desiste nunca, colocou-se à disposição das algemas e confessou a autoria do assassinato de amante Max (interpretação brilhante do ator Marcello Novaes).



TAL revelação de que o pai de Carminha era o monstro maior, até então oculto aos olhos do espectador, deu uma pitada a mais a “Avenida Brasil”, e reforçou os méritos que fazem desta trama uma referência para a inovação do gênero. No lugar dos inverossímeis jograis que antes exigiam que cada ator esperasse a sua vez de falar, essa telenovela aproximou a sala de estar da ficção da sala de estar da vida real. Todos falam ao mesmo tempo e, mesmo assim, são compreendidos pelo espectador.



O “DIVINO” bairro fictício do subúrbio carioca além do protagonismo relegou a Zona Sul do Rio de Janeiro ao posto da chacota. Embora muito se diga que o sucesso desta telenovela está na identificação do “Divino” com a nova classe C brasileira, foi no segmento social A-B que “Avenida Brasil” levou pequena vantagem sobre a antecessora, “Fina Estampa” (de Agnaldo Silva, TV GLOBO, 2011). A fatia de classe C na audiência foi a mesma, da “Barra da Tijuca” estrelada pelo personagem Tereza Cristina (inesquecível na interpretação da veterana Christiane Torloni) ao “Divino” da vez.



E A trilha sonora fez jus ao gosto popular, ousando sofisticação na trilha incidental. E o elenco, protagonista absoluto da produção, há de causar crise de abstinência em quem se acostumou a ver o Leleco (outra grande interpretação do ator Marcos Caruso), Carminha, Adauto (Juliano Cazarré), Zezé (Cacau Protásio) e todo aquela “grande família” às 21 horas, de 2ª a Sábado na telinha da Globo...