No mesmo nehenhenhém altruísta

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
BELO HORIZONTE

Nesta segunda-feira, 07, o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) concedeu a sua segunda entrevista coletiva em três anos de governo. Foi para comemorar a milésima edição do programa jornalístico “Roda Viva” (TV Cultura).

Do ponto de vista de Luiz Inácio da Silva, que se recusa a dar uma entrevista ampla, aberta a vários órgãos de Imprensa, com direito a réplicas dos jornalistas, foi uma vitória.

Os entrevistadores que participaram do “Roda Viva” são todos jornalistas, profissionais experientes, mas só dois, além do âncora, estão atualmente na ativa: Augusto Nunes (Jornal do Brasil) e Heródoto Barbeiro (Rádio CBN / TV Cultura), talvez por isso mesmo os mais incisivos nas indagações.

O fato de a entrevista ter sido realizada no Palácio do Planalto também deu alguma segurança ao vosso presidente Luiz Inácio da Silva. Ademais, a entrevista foi gravada a tarde, horas antes de ir ao ar no horário nobre da faixa das 22H (habitue da programação de TV dedicada aos formadores de opinião pública) . Ou seja, ambiente conhecido, jornalistas experientes, mas compreensivelmente intimidados, a previsível reverência à figura do presidente da República.

Tudo isto parece ter dado a Luiz Inácio da Silva a esperança de enfrentar bem as perguntas delicadas sobre a crise política, relações de seu filho com empresas concessionárias de serviço público de telefonia (Telemar e Oi), corrupção em seu governo e seu Partido dos Trabalhadores (PT), utilização de caixa dois na eleição presidencial de 2002, Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) que pipocam no Congresso Nacional neste momento, cassação do mandato do deputado e ex-todo-poderoso comissário do Palácio Planalto Zé Dirceu (PT-SP).

Em suma, o cardápio da crise política que sangra o PT e o governo Luiz Inácio da Silva (2003-6) há quase seis meses.

A entrevista valeu mais pelas perguntas contumazes dos brilhantes entrevistadores que pelas respostas vagas dadas pelo entrevistado. Isto porque a maioria dos entrevistadores não hesitou em abordar os temas mais delicados com o inquilino do Palácio do Planalto.

Contudo, as respostas de Luiz Inácio da Silva deixaram muito a desejar, e não parecem ter convencido os entrevistadores. O vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva não acredita na história dos dólares cubanos internados pela coordenação de sua campanha presidencial em 2002, não considera delicada a situação de seu filho que se associou a uma concessionária de serviços públicos (o Grupo Telemar S/A em cujo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, tem participação acionária em 25% do capital controlador através da subsidiária BNDES Participações).

Luiz Inácio da Silva considera inaceitável a prática de caixa dois em campanhas eleitorais, mas o ex-tesoureiro, expulso do PT, Delúbio Soáres era o responsável. Ele, o vosso presidente da República, continua afirmando que não sabia de nada. E da mesma forma, disse aos entrevistadores que não acredita na existência do mensalão. Porém, também não acredita na absolvição de seu ex-“capitão” Zé Dirceu de processo de cassação em curso no parlamento.

Durante a entrevista, Luiz Inácio da Silva, afirmou inúmeras vezes que pode não ser candidato à reeleição presidencial em 2006. Mas que, se decidir se candidatar a um novo mandato, a Oposição terá que engoli-lo. Aqui repetindo o velho Lobo Zagalo , auxiliar-técnico da Seleção Canarinho.

Luiz Inácio da Silva irritou-se com perguntas sobre corrupção em seu governo e em seu partido, elevou a voz, mas não convenceu. Foi inseguro, negou a existência de repasse de verbas para partidos aliados através do delubiovalerioduto , coisa que até o ex- tesoureiro Delúbio Soares já reconheceu que existiu.

Na média, até que o vosso presidente não se saiu tão mal no programa. Os temas são mesmo delicados, e as investigações das CPIs estão só começando a puxar o fio da meada do monstruoso esquema de corrupção montado pelo Partido dos Trabalhadores nas entranhas máquina pública brasileira.

E o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva, que alega não saber de nada, tendo que responder a isso tudo.

Infelizmente, em matéria de entrevista e de explicação à sociedade brasileira, o cidadão Luiz Inácio da Silva continua devendo, e muito. Companheiro, chega desse nhenhenhém altruísta!