Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, agosto 24, 2011

Infinita saudade do poder

LUIZ Inácio da Silva (PT-SP) esteve em Belo Horizonte (MG), na última Quarta-feira, 17, para um almoço com lideranças petistas onde, fazendo política 24 horas por dia segundo suas próprias palavras, mais uma vez deixou claro - não expressamente por palavras, mas pelas mesmas óbvias conclusões a que levam sempre texto e contexto de suas declarações - que é candidatíssimo à Presidência da República em 2014. Com sua habitual verborragia, o chefão do Partido dos Trabalhadores (PT) classificou de "imbecilidade" as especulações sobre sucessão presidencial mais de três anos antes do pleito. E insistiu no chavão ardiloso: "Em 2014, eu não sei da oposição, mas o governo, o Brasil, já têm candidato, que é a Dilma Rousseff. Eu vou dizer pela última vez: a Dilma só não será candidata se ela não quiser".

MANDAM as conveniências que o ex-presidente da República (2003-10) fique repetindo o chavão - e pouco se lhe dá se as pessoas acreditem ou não. Afinal, uma eventual candidatura de Rousseff a um segundo mandato (2015-18) está, pelo menos por enquanto, muito longe de depender da vontade dela. E, apesar de todo o jogo de cena, é de uma clareza cristalina que a lógica do pragmático e ambicioso político falastrão aponta na direção de sua recondução ao Palácio do Planalto a partir de 2015, para, quem sabe, mais oito anos de proezas nunca antes vistas na história deste grande e bobo País. E - dado fundamental - esta é também a lógica do PT & associados, cujo projeto de desfrute do poder por longo prazo não permitirá arriscar com quem quer que seja numa eleição que, ao que tudo parece indicar hoje, seriam favas contadas para Luiz Inácio da Silva. Em se tratando de política, tudo pode acontecer até o momento da definição da candidatura governista. Até mesmo dona Rousseff conquistar uma popularidade que torne sua própria candidatura, além de natural, inevitável. Mas não é para isso que seu antecessor está trabalhando.

AFINAL, como explicar, por exemplo, a declaração do ministro de Estado das Comunicações, Paulo Bernardo (PT-SC), de que a candidatura do PT em 2014 será definida "em conversa entre Luiz Inácio da Silva e a presidente da República, Dilma Rousseff"? Quer dizer que até para um ministro do atual governo a candidatura da presidente da República à reeleição não é ponto pacífico? Com que propósito um político experiente como Bernardo teria fugido da declaração protocolar que dele se podia esperar para acenar com a possibilidade de Rousseff não ser candidata a Presidência da República outra vez? Interpelado aqui na Capital de Minas Gerais sobre essa declaração de Bernardo, Luiz Inácio da Silva saiu pela tangente, partindo para o ataque a um de seus alvos preferenciais, que até então não tinha entrado na conversa: "Primeiro, é inaceitável um oposicionista como o Serra dizer que sou candidato em 2014". Depois, passou a elogiar Rousseff, "que vai fazer um governo extraordinário" e "só não será candidata se não quiser".

DISSE ainda que falar de sucessão agora, mais de três anos antes da eleição, é "imbecilidade", no que está absolutamente certo. Para qualquer cidadão comum, que não é político profissional, de fato é. Mas não para este ex-presidente da República, que jamais desceu do palanque, antes ou depois de ter sido eleito em 2002. Instalado no Palácio do Planalto, uma de suas primeiras providências foi transformar o projeto de campanha Fome Zero em Programa Bolsa-Família, politizando e tornando a iniciativa muito mais eficiente em termos eleitorais, com a inclusão das prefeituras municipais no processo de distribuição dos recursos aos necessitados, o que acabou lhe custando o afastamento de conhecidos colaboradores mais idealistas. Mas, na ocasião, o então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, José Dirceu (PT-SP) teria dito que o Programa Bolsa-Família traria "milhões de votos" que garantiriam a reeleição de Luiz Inácio da Silva, segundo testemunho do ex-fundador do PT, professor Hélio Bicudo prestado à nossa reportagem no ano passado. Foi um lance decisivo que permitiu a Luiz Inácio da Silva superar, em 2005, os percalços do "Mensalão" (empreendido pelo delubiovalerioduto sob o comando do então comissário Zé Dirceu) e reeleger-se um ano depois. Ainda na primeira metade de seu segundo mandato, em Janeiro de 2007, quando lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Luiz Inácio da Silva colocou sua então ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Wana Rousseff, à frente da iniciativa, com a clara intenção de prepará-la como candidata a sua própria sucessão quase quatro anos depois.

POR fim, agora, a pouco mais de três anos do próximo pleito presidencial, Luiz Inácio da Silva não quer nem ouvir falar, em público, das eleições de 2014. Por enquanto, é trabalhar nos bastidores, 24 horas por dia.