Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, julho 25, 2010

Alerta máximo contra o histrião caudilhista

BOSTON (EUA) - CONFRONTADO com inúmeras e contundentes evidências da presença de 1.500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território venezuelano, apresentadas à Organização dos Estados Americanos (OEA), o presidente da República Bolivariana da Venezuela, coronel Hugo Chávez, reagiu na sua típica maneira destemperada: invocando a "dignidade" nacional, rompeu relações diplomáticas com o governo democrático da Colômbia e ordenou às Forças Armadas da Venezuela que entrassem em "alerta máximo" na fronteira entre os dois países.

DE FATO a dignidade dos venezuelanos estaria mais bem servida se, em primeiro lugar, tivesse um mandatário que não se comportasse como um histrião. Mas o coronel- paraquedista Hugo Chávez armou o cenário para o anúncio da ruptura com a participação, que acabou sendo ridícula, de seu "correligionário" argentino Diego Armando Maradona, que com ar estuporado ouviu a catadupa de impropérios que dirigiu ao presidente da República colombiana, Álvaro Uribe. Essa foi a resposta às provas exibidas na OEA de que continua dando guarida ao bando de narcotraficantes em que se transformaram as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que desgraçaram a nação vizinha antes de serem acuadas pela tenaz política de segurança adotada por Uribe. "A Venezuela deveria romper relações com as gangues que sequestram, matam e traficam drogas, e não com um governo legalmente constituído", comentou o embaixador colombiano na OEA, Luis Alfonso Hoyos. Foi na sede da OEA, aqui nos Estados Unidos da América (EUA) - em Washington – DC -, que os representantes colombianos exibiram vídeos, mapas e fotos aéreas indicando a localização dos acampamentos das Farc e do Exército de Libertação Nacional (ELN). "São ao menos 87 estruturas completamente armadas em território venezuelano", descreveu Hoyos. Os acampamentos "continuam se consolidando". Nas regiões do país onde se instalaram, geralmente em locais fronteiriços, os bandoleiros das Farc não se conduzem como se estivessem batendo em retirada ou apenas se reagrupando. Controlam com mão de ferro as desafortunadas populações, a ponto de lhes impor o toque de recolher a cada dia.

E Foi exatamente essa realidade que o governo da Colômbia buscou descortinar na reunião de emergência da OEA, convocada a seu pedido. Além disso, representantes de Bogotá exortaram Chávez a permitir que observadores estrangeiros visitassem as áreas onde se situam os santuários das Farc. Para surpresa de ninguém, a Venezuela se recusou a fazê-lo, o que dá a devida dimensão a suas tentativas de desmentir fatos que constituem uma clara violação das normas da Carta da OEA sobre a convivência pacífica dos países do Hemisfério.

ESSA última bravata do rompimento vem sendo, em geral, interpretada como a reencenação do velho truque da transmutação do agressor em vítima. A plateia a que o caudilho se dirige é a população venezuelana. Já se apontou nestas NOTAS a urgência de Chávez em fabricar inimigos internos (a Imprensa, a Igreja, o empresariado) e externos (o "Império" e a Colômbia) para mascarar o estado pré-falimentar a que as suas políticas "bolivarianas" reduziram a economia nacional, em recessão pelo segundo ano consecutivo. Ele teme o troco do povo nas eleições legislativas de Setembro.

POR outro lado, uma vez que os motivos de Chávez são claros, a motivação de Uribe suscita controvérsias. Segundo uma versão local, ele teria resolvido levar o venezuelano ao pelourinho a duas semanas da transmissão do poder ao sucessor, o presidente eleito Juan Manoel Santos, o ex-ministro a quem apoiou na campanha, para sabotar a sua anunciada política de distensão com a Venezuela. Mais convincente, talvez, parece ser a hipótese de que, tendo só agora reunido as condições para denunciar a proteção chavista às Farc, Uribe quis fechar um ciclo no contencioso bilateral e deixar o campo livre para Santos fazer nova política na matéria.

POR seu turno, o governo brasileiro, que até há pouco preferia se envolver nos conflitos do Oriente Médio em vez de se voltar para tensões na vizinhança, mais do que depressa anunciou a intenção de agir como mediador entre os governos da Colômbia e da Venezuela. Antes tarde do que nunca, seria o caso de dizer, se a oferta já não estivesse contaminada pelas manifestas simpatias do vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP), e do seu entourage pelo autocrata venezuelano.