Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 06, 2012

Bilateralidade que avança

OS ESTADOS Unidos da América (EUA) recuperaram a posição de principal destino das exportações brasileiras em Janeiro último, com um total de US$ 2,376 bilhões, superando a China (US$ 1,809 bilhão). Esse pode não ter sido um acontecimento episódico. Os EUA foram durante muitos anos o maior mercado para as vendas externas brasileiras, sendo suplantados pela China apenas nos últimos anos. Releva notar que, diferentemente do que ocorre com a China, para a qual o País exporta somente produtos primários, especialmente minério de ferro e soja, os EUA compram do Brasil produtos manufaturados, de elevado conteúdo tecnológico, como aviões, além de pastas químicas, ferro-ligas, petróleo em bruto e café em grão - os principais itens da pauta bilateral em Janeiro deste ano. Ao mesmo tempo, cresce a consciência, tanto nos EUA como no Brasil, da importância do intercâmbio entre os dois países, tradicionais parceiros comerciais, apesar de ocasionais discordâncias diplomáticas.


TAL como destacou Thomas Nides, vice-secretário de Estado dos EUA, o crescimento do comércio e dos investimentos bilaterais é crucial na relação Brasil-EUA. O País já é o oitavo maior parceiro comercial dos EUA, tendo gerado, em 2011, um dos raros superávits comerciais obtidos por aquele país com o resto do mundo. De fato, as importações dos EUA no ano passado alcançaram o recorde de US$ 33,962 bilhões, enquanto as vendas brasileiras para o mercado americano ficaram em US$ 25,804 bilhões, deixando um saldo favorável para os EUA de US$ 8,168 bilhões, segundo as estatísticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).


EM Janeiro de 2012, também, os EUA exportaram para o País US$ 2,936 bilhões, superando as vendas brasileiras para o seu mercado. Vale observar, no entanto, que as exportações brasileiras para os EUA tiveram um salto de 43,92% em Janeiro de 2012, em comparação com Janeiro de 2011, o que talvez seja reflexo da paulatina recuperação da economia americana. O que esses números deixam entrever é a oportunidade aberta para promover ativamente as vendas para o maior mercado do mundo, o que não é incompatível, de modo algum - como alguns setores do governo tendem a acreditar -, com a busca de mercados alternativos para os produtos nacionais.


DE FATO esta é a contrapartida natural dos esforços do governo norte-americano para expandir seu intercâmbio com o Brasil. Como disse Nides em entrevista à nossa reportagem em São Paulo, "vamos usar nossa embaixada e nossos consulados no Brasil para ajudar nossas companhias a vender seus produtos no mercado brasileiro e para criar uma atmosfera para investimento nos EUA". A política comercial brasileira deve ser orientada para atuar em sentido igual e contrário.


NA realidade constata-se uma maior abertura dos EUA para o intercâmbio com o Brasil e outros países emergentes, especialmente da América Latina (AL). A decisão do presidente da República dos EUA, Barack Houssein Obama, de facilitar a concessão de vistos para turistas brasileiros para visitar os EUA foi um reconhecimento explícito de que esse tipo de turismo cria milhares de empregos para os americanos. Os EUA acabaram também com a tarifa adicional sobre o etanol brasileiro e, por motivos fiscais, podem vir a eliminar outros subsídios, o que pode resultar em benefício para o Brasil.


POR outro lado, crescem os investimentos de empresas brasileiras nos EUA, como parte de suas estratégias de globalização, montando novas fábricas e criando novos empregos. Dadas as condições mais favoráveis de preços, depois do estouro da crise imobiliária nos EUA, tem aumentado muito também o número de brasileiros que compram imóveis em cidades norte-americanas, notadamente na Flórida, movimentando o mercado local.


TUDO isso tem sido possibilitado pela liberdade cambial que existe no Brasil. Cumpridas as obrigações tributárias, quando houver, a entrada e a saída de capitais são livres, o que, sem dúvida, concorre para maior cooperação do País não só com os EUA, mas com outros países.