Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, maio 14, 2012

Maria Rita - Elo

Pseudo caça às bruxas


RIO DE JANEIRO (RJ) – “PSEUDOS jornalistas chapas-brancas”, donos de blogs e veículos da Imprensa que atuam como linha auxiliar de setores radicais do Partido dos Trabalhadores (PT) desfecharam uma campanha do achincalhe organizada contra a revista Veja (Editora Abril), na esteira do escândalo “Carlinhos Cachoeira

TAL empreitada tem todas as características de retaliação pelas várias reportagens publicadas pela revista Veja das quais biografias de figuras estreladas do petismo saíram manchadas, e de denúncias de esquemas de corrupção urdidos em Brasília (DF) por partidos da base aliada dos governos Luiz Inácio da Silva (2003-10) e Dilma Rousseff (2011-14). É indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorização da Imprensa como um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm tentado transformar em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso graças ao compromisso da presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), com a liberdade de expressão.


AGORA essa manobra se baseia em fragmentos de escutas telefônicas legais feitas pelo Departamento de Polícia Federal (DPF) na investigação das atividades do contraventor goiano Carlinhos Cachoeira, pela qual se descobriu a verdadeira face do, ainda, senador da República, Demóstenes Torres (sem partido-GO), outrora bastião da moralidade, e, entre outros achados, ligações espúrias de Cachoeira com a construtora Delta Engenharia Ltda. As gravações registraram vários contatos entre o diretor da Sucursal da revista Veja em Brasília, o jornalista Policarpo Júnior, e Cachoeira. O contraventor goiano municiou a reportagem da revista Veja com informações e material de vídeo/gravações sobre o baixo mundo da política, de que alguns políticos petistas e aliados do governo fazem parte.


ESSA constatação animou alas radicais do partido a dar o troco. O presidente do PT, Rui Falcão (PT-SP), chegou a declarar formalmente que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) instalada no Congresso Nacional para investigar os negócios espúrios de Carlinhos Cachoeira no setor público e privado do Cachoeira iria "desmascarar o Mensalão". Aos poucos, os blogs chapa-branca e pseudopetistas começaram a soltar notas sobre uma suposta conspiração de da revista Veja com o contraventor goiano. E, durante da semana, reportagens de televisão e na mídia impressa chapas-brancas, devidamente replicados na internet, compararam o editor Roberto Civita, diretor-presidente do conselho de administração da Editora Abril, que edita a revista Veja, ao magnata da comunicações Rupert Murdoch, o australiano-americano sob cerrada pressão no Reino Unido da Grã-Bretanha, devido aos crimes cometidos pelo seu jornal News of the World, fechado pelo próprio Murdoch.


TENTAR comparar Civita a Murdoch é tosco exercício de má-fé, pois o jornal de Murdoch invadiu, ele próprio, a privacidade alheia. Quer-se produzir um escândalo de Imprensa sobre um contato jornalista-fonte. Cada organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre este relacionamento — sem o qual não existe notícia — têm destaque, pela sua importância. Como inexiste notícia passada de forma desinteressada, é preciso extremo cuidado principalmente no tratamento de informações vazadas por fontes no anonimato. Até aqui, nenhuma das gravações divulgadas indica que o diretor de da revista Veja estivesse a serviço do contraventor goiano, como afirmam os blogs chapas-brancas e aduladores de governos, ou com ele trocasse favores espúrios. Ao contrário, numa das gravações, o contraventor se irrita com o fato de municiar o jornalista com informações e dele nada receber em troca.


NOSSA empresa recomenda em um dos itens de seus Princípios Editoriais: "(...) é altamente recomendável que a relação com a fonte, por mais próxima que seja, não se transforme em relação de amizade. A lealdade do jornalista é com a notícia". E em busca da notícia o repórter não pode escolher fontes. Mas as informações que vêm delas devem ser analisadas e confirmadas, antes da publicação. E nada pode ser oferecido em troca, com a óbvia exceção do anonimato, quando necessário.


NO início dos anos 1990, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o braço sindical do PT, durante a CPI que apurou os desvios do esquema PC Farias/Collor de Mello (e que contribuiu para o impechment do então presidente da República, Fernando Collor de Mello), abasteceu a Imprensa com informações vazadas ilegalmente, a partir da quebra do sigilo bancário e fiscal de PC Farias e outros. A reportagem do jornal norte-americano Washington Post só pôde elucidar a invasão de um escritório do Partido Democrata no conjunto Watergate, em Washington (DC-USA) porque um alto funcionário do FBI, cujo codinome "Garganta Profunda", repassou aos jornalistas, ilegalmente, informações sigilosas. Só alguém de dentro do esquema do Mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto sob o beneplácito do então todo-poderoso comissário do governo Luiz Inácio da Silva, o deputado federal cassado José Dirceu (PT-SP), poderia denunciá-lo. Coube a um então aliado governista, o deputado federal, também cassado, Roberto Jefferson (PTB-RJ) tal tarefa.


A QUESTÃO jornalística que se impõe é como processar as informações obtidas da fonte, a partir do interesse público que elas tenham. E não houve desmentidos de nenhuma das reportagens da revista Veja que tanto irritaram a cúpula e algumas alas do PT. Ao contrário, a maior parte delas resultou em atitudes firmes da presidente Rousseff, que demitiu ministros de Estado e servidores do alto escalão da administração pública federal, no que ficou conhecido já no início de seu governo (2011) como uma faxina ética.