Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, janeiro 01, 2011

Estórias inspiradas nos versos de Hollanda

RECIFE (PE) – NA região central da Cidade de São Paulo (SP), o intenso vai-e-vem de carros e pessoas já foi incorporado ao cenário do Viaduto Major Quedinho. Mas naquela noite de Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010, os transeuntes não conseguiram cumprir seu destino no tempo habitual.

AFINAL, veículos, câmeras e funcionários da Central Globo de Produção (CGP-TV GLOBO) davam indícios de que alguma coisa estava na iminência de acontecer bem ali, em cima do viaduto. Foi o que bastou para que curiosos começassem a se aglomerar atrás dos cordões de isolamento.

E DE repente, o excelente ator baiano, Vladimir Brichta, despontou de dentro de uma tenda improvisada numa das calçadas e foi ao encontro do diretor Bruno Barreto, em busca das últimas orientações de cena. Enquanto isso, no outro lado da rua, a bela e competente atriz Alinne Moraes aguardava pacientemente o comando de “gravando!” - ora retocando a maquiagem, ora sentada com os fones de ouvido ligados em seu iPod. “Eu estava ouvindo rock pauleira”, confessou Alinne à nossa reportagem, depois.

ALINNE Moraes gosta que a trilha sonora de seus momentos de concentração tenha relação com o papel que está vivendo. “Vera é uma personagem forte. Então, eu precisava ouvir muito rock”, disse ela, referindo-se à prostituta Vera que ela interpreta na nova microssérie da TV GLOBO, “Amor em 4 Atos”, inspirada na obra do cantor, compositor, poeta e romancista, Chico Buarque de Hollanda e que vai ao ar de 11 a 14 deste Janeiro de 2011.

“OLHA: é aquela que fazia a Luciana (da novela ‘Viver a Vida’)? Ela é bonita, né?”, perguntou uma senhora à sua amiga, ao avistar Alinne Moraes ao longe, enquanto tentava conseguir, entre as cabeças de outros curiosos, uma visão melhor dos atores famosos. Naquele momento, Moraes, de casaco prateado, saia preta e botas de cano alto, preparava sua personagem para ser admirada pela primeira vez por Ary, (interpretado por Brichta).

NESSA mesma cena, Ary acabara de sair transtornado de casa, após uma briga feia com a esposa, Selma (interpretada pela atriz Camila Morgado). Ele resolve caminhar sozinho pelo viaduto, quando um tumulto no meio da rua lhe tira a atenção das próprias agruras. Um homem havia sido morto num crime passional e seu corpo ainda estava estendido no chão, coberto por um plástico. Uma roda de pessoas se forma em torno do falecido. Vera se junta aos curiosos. Ary mira a confusão, mas seu olhar recai direto sobre a bela jovem.
“ELA é uma personagem iluminada, que lhe rouba a atenção naquele primeiro momento que ele a vê. Mas nada entre os dois acontece ali”, destaca Brichta. A cabeça de Ary está cheia demais para flertes. A madrugada avança. Vera encontra Ary num bar, o aborda e ele, assustado, foge. Mas o destino os coloca frente a frente de novo, horas mais tarde: bêbado, Ary se mete numa briga, é colocado a pontapés para fora de uma boate e é resgatado da sarjeta por Vera.

“ELE não sabe que ela é garota de programa. Acha que tirou a sorte grande”, conta Brichta. Eles passam a noite juntos, mas no dia seguinte ela lhe cobra dinheiro por seus serviços. “Vera é uma mulher marcada por grandes desilusões amorosas”, diz Moraes. Não quer saber de ninguém. Ela é prostituta por opção. É “dessas mulheres que só dizem sim”, como traz a letra da música “Folhetim”, de Chico Buarque, que serve de inspiração para o primeiro episódio protagonizado por Alinne Moraes e Vladimir Brichta.

COM isso, o coração de Ary fica esfacelado. Mas essa história não acaba no episódio “Folhetim”. Continua em “As Vitrines”, outra música de Chico Buarque mostrada em “Amor em 4 Atos”. Também dirigido por Barreto, “As Vitrines” mostra Ary obcecado por Vera, ao ponto de pedir a permissão dela para admirá-la à distância.

“O ARY está seduzido por aquela imagem”, diz o ator. Aos poucos, a prostituta vai baixando a guarda. “Quando Vera vê o Ary na vida dela, não quer acreditar. Mas eles acabam ficando mais próximos e ela dá uma segunda chance à vida”, conta Moraes, que já havia trabalhado com Brichta na telenovela “Coração de Estudante” (2002, TV GLOBO) e no filme “Fica Comigo Esta Noite” (2006, GLOBOFILMES).

“AMOR em 4 Atos” faz parte de um projeto idealizado por Rodrigo Teixeira, que comprou os direitos autorais de dez canções de Chico Buarque de Hollanda. Para a série produzida e exibida pela TV Globo (faixa nobre das 22:30h), cinco delas vão abastecer um total de quatro episódios: as já citadas “Folhetim” e “As Vitrines” (sob a batuta de Bruno Barreto), além de “Construção” e “Ela Faz Cinema” (que, juntas, vão ajudar a construir a narrativa de um único episódio, com direção de Tadeu Jungle), e “Mil Perdões”, que será dirigido por Roberto Talma, responsável também pela direção-geral da microssérie produzida e exibida pela TV GLOBO. “É fácil usar uma canção de Chico para contar uma história”, acredita Rodrigo Teixeira.

ESTA produção também marca a estreia do cineasta Bruno Barreto na direção de dramaturgia em numa televisão aberta. “Há muito tempo, eu estava querendo fazer algo na TV. Sou fã de televisão desde a década de 70, da primeira versão da telenovela Selva de Pedra, Pecado Capital...”, destaca Barreto. Para ele, hoje existem produções televisivas que buscam a inovação, mas pecam ao deixar de lado a tradição de contar uma boa história. “Tenho um grande respeito pelo melodrama. É um gênero muito bom”. É o que Barreto pretende preservar nos dois episódios que pilota em “Amor em 4 Atos” (a partir do próximo dia 11, de Terça a Sexta-feira, 22:30h, na telinha da TV GLOBO).