Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, julho 09, 2006

Linha de meta!


WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
TIRADENTES (MG)



O ex-governador do Estado de São Paulo (2001-6) e candidato majoritário da Oposição, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), têm como meta garantir sua presença num possível segundo turno e, lá chegando, tentar virar o jogo. A meta do vosso presidente-candidato Luiz Inácio da Silva (PT-SP), obviamente, é vencer, ainda, no primeiro as eleições presidenciais deste ano. Nas contas da coordenação de campanha do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), para haver segundo turno Alckmin precisa alcançar 35% dos votos no primeiro turno. Para a cientista política e jornalista Lúcia Hippólito (Rádio CBN/GLOBONEWS-GLOBOSAT/SKY-NET), o candidato da Oposição teria que ultrapassar os 36% e tirar pelo menos seis pontos percentuais do presidente-candidato.

Isso, mantidos os atuais percentuais de indecisos, de eleitores dispostos a votar em outros candidatos e a votar nulo ou em branco.

As últimas pesquisas realizadas e publicadas pelos institutos Datafolha e Vox Populi situaram Alckmin na casa dos 30% das intenções de voto. Crescendo mais seis pontos percentuais ele poderá chegar ao segundo turno com uma probabilidade razoável (entre 35% e 40%) de virar o jogo e ganhar. Para isso, o vosso presidente-candidato terá que perder literalmente gordura, caindo do patamar atual de aproximadamente 45% para abaixo de 40%. O Professor-Doutor e cientista político Sérgio Abranches (IUPERJ), acha que esta troca de votos entre Luiz Inácio da Silva e Geraldo Alckmin é difícil mas matematicamente possível, a depender dos esforços do candidato e sua estratégia da campanha.

Os cálculos de Abranches foram feitos a partir da análise de 121 eleições brasileiras decididas em segundo turno nos últimos 15 anos. Entre elas, as eleições presidenciais de 1989 e 2002, todas as eleições para governador decididas em segundo turno em 1994, 1998 e 2002 e as eleições municipais decididas na mesma condição em 2000 e 2004.

O levantamento mostrou que em apenas 27% dos casos (33 pleitos) o resultado se inverteu no segundo turno, com a vitória do candidato que chegou em segundo lugar. A possibilidade de que isso ocorra é ainda menor quando o mais votado chega com uma vantagem superior a 10% dos votos válidos. Das 33 viradas de segundo turno encontradas, nada menos do que 27 (ou 82% do total) ocorreram quando a diferença de votos entre os dois primeiros colocados era inferior a 10% dos votos válidos. Apenas seis viradas (18% do total) ocorreram quando a diferença ultrapassava esta margem.

Hoje a vantagem do presidente-candidato sobre o oposicionista Alckmin é, na média das pesquisas, de 18 pontos percentuais de votos válidos. Pela equação de Abranches, se Alckmin conseguisse reduzi-la a 5% no primeiro turno, suas chances de virar o jogo aumentariam de 12% para 39%.

Meu mestre e colega jornalista Márcio Moreira Alves (Jornal O GLOBO/AGÊNCIA O GLOBO) costuma me dizer que política e eleição não teriam graça se fossem regidas pela matemática. Não mesmo, mas o estudo das probabilidades ajuda os candidatos na definição de estratégias. Ademais, urna é parecida com barriga de mulher. É ruim adivinhar o que tem dentro!

Animado com as indicações desta natureza é que Alckmin trabalha agora pela ocorrência do segundo turno e para alcançar os 35%. Os cardeais do petismo também começam a admitir esta possibilidade, mas acham que mesmo assim Luiz Inácio da Silva levará mais essa. Só que seria um mandatário, institucionalmente, bem mais frágil, e que enfrentaria mais adversidades. E uma de suas obsessões é fazer um segundo mandato superior ao primeiro. A primeira palavra do novo programa de governo do presidente-candidato agora é educação, tal qual o candidato neooposicionista e ex-ministro de Estado da Educação do petismo, senador Cristóvam Buarque (PDT-DF).

Para chegar aos 35%, Alckmin aposta na propaganda de Rádio e TV, a partir de Agosto, e em seu fortalecimento nas fronteiras anti-Lula e antipetismo, como nos estados onde o agronegócio é forte e enfrenta adversidades nesse governo.

Luiz Inácio da Silva, o Partido dos Trabalhadores (PT) e aliados facilitam a tarefa de Alckmin quando escolhem para o cargo de tesoureiro o já encrencado (com o Ministério Público de São Paulo) prefeito (licenciado) do município de Diadema (SP) José de Filippi Júnior (PT-SP), para cuidar do caixa da campanha presidencial deste ano; e ainda pagam adiantado a fatura apresentada pela ala governista do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), oferecendo-lhe a fadada Diretoria da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) berço esplendido do Lulagate!
Agora, fala sério!

Em todas as nossas eleições dá-se o mesmo. A escolha do presidente da República e de governadores de Estado monopoliza as atenções, a eleição parlamentar fica em segundo plano, escolhemos mal e depois xingamos os representantes do Poder Legislativo que elegemos.

Sem a reforma política, o fortalecimento dos partidos sérios e com o quadro que temos até aqui, ainda teremos, um dia, a bancada oficiosa do narcotráfico. Pois vejam algumas distorções da eleição parlamentar em voga neste País:

Nos últimos pleitos, o voto no partido (legenda) foi inferior a 10%. Vota-se mesmo é no nome.

Descompromissado com o partido, o “dono” do mandato, quando muda de legenda, leva pelo menos 75% dos chamados votos nominais.

Os candidatos de perfil distrital são os que mais se elegem. E, com isso, discute-se a “paróquia” mas não o ente federado como um todo. Por exemplo: o vereador não discute o transporte de massas do município, o deputado estadual desconhece os problemas tributários do estado, o deputado federal ignora problemas nacionais como educação, Previdência, marcos regulatórios etc. Os legisladores são eleitos com uma plataforma e terão depois que cumprir tarefas para as quais não se prepararam.

Eleitos, viram dependentes do Executivo, de suas emendas, nomeações e favores. Têm que atender às clientelas para garantir a renovação do mandato. Daí o fisiologismo, a corrupção, a concepção do delubiovalerioduto e do mensalão empreendidos pelo petismo.

A ação política nas comunidades pobres onde o Estado ainda não chegou são as de maior retorno eleitoral. Aí se fortalece o voto evangélico. Aí o perigo de, em breve, termos até a bancada do narcotráfico.

Para completar, o sistema eleitoral não ajuda a construir a identidade entre o eleitor e seu representante. O voto em X ajuda a eleger Y. Apenas 6% dos atuais deputados alcançaram o coeficiente eleitoral. A maioria elegeu-se com as sobras eleitorais. Isso tudo para dizer que, para termos um Congresso Nacional melhor, é preciso mais foco na eleição parlamentar.

Ademais, vejam só: para uma eleição em que os candidatos deveriam ter como desafio restaurar a ética da política e reconquistar a confiança do eleitor, traumatizado por tantos escândalos, a campanha começou mal, muito mal, pelo menos por parte dos grandes partidos. Todos eles despertaram sérias suspeitas públicas, ao apresentar uma previsão de despesas que suplanta em muito a previsão de gastos na eleição de 2002: o PT, que gastou naquele ano (com Luiz Inácio da Silva) R$ 48 milhões, vai gastar hoje (também com Luiz Inácio da Silva) R$ 89 milhões; o PSDB, que gastou (com José Serra) R$ 60 milhões, está prevendo para agora R$ 85 milhões para a campanha de Geraldo Alckmin.

O ministro Gerardo Grossi, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse que levou um “susto muito grande” quando viu os números, enquanto o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ercílio Bezerra, foi mais direto: ou estavam errados os valores declarados naquela época ou os de agora foram aumentados “exatamente para encobrir e tornar oficiais as diferenças gastas no passado por meio de caixa dois”.

E isso depois que foi aprovada uma minirreforma eleitoral proibindo práticas onerosas como showmícios, outdoors, faixas, camisetas e brindes. Pergunte ao eleitor, que assistiu aos espetáculos do delubiovalerioduto, do mensalão e mais recentemente da quadrilha das sanguessugas (que desviou milhões em recursos financeiros da Saúde), o que achamos de os candidatos à Presidência da República gastarem quase R$ 280 milhões na tentativa de se elegerem. Por essas e outras é que nós brasileiros nos mostramos tão desencantados com a situação política deste País.

Tenho notado uma apatia do tamanho daquela da seleção brasileira que deu vexame ainda pouco na Copa do Mundo da Alemanha. Quando não é apatia, é irritação.

Na primeira edição da série do JORNAL NACIONAL (TV GLOBO) exibida na semana passada, sobre a agenda diária dos candidatos presidenciais, a frase da minha sábia mãe na sala de estar pareceu resumir a reação geral: “Começou a palhaçada!”.

O desinteresse e a omissão ocorrem até entre os mais críticos, os que sabem distinguir o joio do trigo. Com isso, os candidatos que têm curral eleitoral e compram eleitores são os que se beneficiam dessa visão de que “é tudo igual”. Por uma perversa ironia, o desencanto, a abstenção e o voto nulo correm o risco de eleger os piores.

Quanto à campanha presidencial, ah, se a política fosse como o futebol e de dentro da caixinha de surpresas saíssem para disputar a final, como aconteceu na Copa do Mundo deste ano, não os favoritos, mas — usando uma hipótese improvável — Cristóvam Buarque e Heloísa Helena (PSOL-AL)? Só mesmo algo assim inesperado, capaz de virar o jogo, tornaria a corrida eleitoral mais emocionante. Dificilmente haverá surpresas com Geraldo Alckmin e Luiz Inácio da Silva que estão na frente das pesquisas. Acho que a baixaria de parte a parte vai ser inevitável. Na falta de idéias e programas diferentes, eles vão apelar para quê?
É lamentável, mas, pensando bem, pode até ficar mais engraçado, porque a única verdade em campanha não é o que cada um diz de si, mas do outro, o adversário.