Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, abril 09, 2009

Para inglês ver!

Rio de Janeiro - Os governadores de Estado, Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP) publicamente discordam em pelo menos dois pontos quando o assunto é a eleição presidencial do próximo ano. O primeiro é em relação às prévias internas no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O governador mineiro defende a realização da consulta até o final do ano. Já o governador de São Paulo releva, ignora e minimiza o tema. Serra diz apenas que, caso não seja possível um acordo, o partido poderia fazer algum tipo de consulta. Em relação à chapa, Aécio entende que seria inviável uma puro-sangue, entre dois filiados ao PSDB. O governador mineiro entende que o cargo de vice-presidente da República deveria ser de um outro partido para ampliar o leque de alianças. Até o momento, fechado mesmo com o PSDB estão apenas o partido Democratas (DEM) e o Partido Popular Socialista (PPS). Um aliado conservador e outro progressista. Já Serra admite uma chapa puro-sangue. Afirma que é viável discutir o assunto. A liderança do DEM, que seria o partido a oferecer o vice, aceita a chapa Aécio-Serra ou Serra-Aécio, como declarou, recentemente, o governador de Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda (DEM-DF). Para Arruda, esta chapa seria imbatível.

Ninguém, até o momento, tomou providências reais em relação às prévias, mesmo depois de a consulta ter sido autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde que respeitadas algumas regras, como ser promovida apenas entre os filiados e com propaganda restrita, embora seja possível aceitar doações financeiras. Com certeza, não se está aguardando o fim da Semana Santa. Se a Justiça Eleitoral restringe a consulta aos filiados, no mínimo o diretório estadual do PSDB mineiro deveria estar tomando as primeiras providências, entre elas um recadastramento. Mas nada tem sido feito.

A falta de iniciativa remete a duas conclusões, já abordadas aqui. A primeira, é que Aécio e Serra teriam tudo acertado, tudo combinado. Não colocam em público porque entendem que o momento não é oportuno. Preferem aguardar o final do ano - Novembro ou Dezembro - para anunciar, publicamente, o nome do pré-candidato. Teriam, inclusive, já acertado qual dos dois seria o candidato. Em consequência, essa conversa de prévia é para inglês ver para permanecer os nomes dos dois no noticiário político.

Ao contrário do neto de Tancredo Neves, aqui e ali nota-se que José Serra está tomando suas providências. Ele fechou um acordo vitorioso com o DEM ao apoiar, contra seu correligionário Geraldo Alckmin (PSDB-SP), o democrata Gilberto Kassab (DEM-SP) para prefeito da Cidade de São Paulo, vencendo, de quebra, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP). Depois, Serra chamou Alckmin para sua equipe de governo e a paz voltou ao PSDB em São Paulo.

Serra também já levou para São Paulo os principais marqueteiros políticos do País. O publicitário baiano Duda Mendonça, por exemplo, que elegeu o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) em 2002, responsável pelo slogan “Lulinha paz e amor”, trabalha hoje com o governador do Estado de São Paulo. Outro baiano, publicitário Nizan Guanaes, que estava, em 2002, do outro lado da trincheira, coordenando a campanha de Serra, que acabou derrotado pelo petismo, também está lá em São Paulo. E, para completar o time, Serra contratou Fernando Barros, publicitário da agência Propeg. Cada um deles é responsável hoje por uma conta milionária na área de transportes metropolitanos do Governo de São Paulo. Mesmo assim, Serra não abriu mão do jornalista Luiz González, responsável por sua vitória em 2004 para prefeito da Capital paulista, e em 2006 para governador do estado.

Mês passado, ao ser entrevistado pelo jornalista Roberto d’Ávila, de quem Serra foi colega na Assembléia Nacional Constituinte, o governador de São Paulo fez questão de elogiar o colega Aécio Neves - “Aécio faz excelente governo em Minas. O bom governante tem de saber escolher gente, e Aécio tem esse talento. Ele tem todos os títulos para se apresentar como candidato. (...) Tenho certeza de que não ganho de Aécio em matéria de simpatia. Nesse aspecto, ele é imbatível”. Serra deixou claro seu perfil político: “Posso ser tudo, menos conservador em termos de posições políticas”. Nas pesquisas, a melhor lembrança que o eleitor tem de Serra é o de ministro da Saúde, que criou os medicamentos genéricos e quebrou as patentes dos medicamentos para tratamento contra a Aids no País. Enquanto isso, Aécio ainda está na fase do discurso. Ou tem um trato com Serra ou o este saiu na frente nos preparativos pré-eleitorais.