Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, outubro 22, 2010

Tentando levar no grito!

ENQUANTO os coordenadores da campanha da candidata governista à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-RS), se perguntam onde foi que erraram, deixando escapar a vitória dada como certa no primeiro turno eleitoral, realizado no último dia 03, e como conter o estreitamento da vantagem da candidata sobre o opositor José Serra (PSDB-SP) nas pesquisas de intenção de voto, eis que o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) reincide no comportamento belicoso que contribuiu para privar a sua afilhada dos votos que poderiam ter encerrado a contenda em 3 de Outubro.


TÍPICO efeito bumerangue. Ao investir ferozmente contra a Imprensa em três comícios sucessivos no breve período de 5 dias, decerto “O-CARA!” buscava desqualificar as revelações dos escândalos no Gabinete Civil da Presidência da República, chefiado pela mais próxima colaboradora de Rousseff, Erenice Guerra (PT-SP). Diferentemente das notícias sobre as violações do sigilo fiscal de aliados e familiares de Serra, com as quais muitos não conseguiram atinar, essas outras (sobre corrupção endêmica nas entranhas do Palácio do Planalto) repercutiram junto ao eleitorado.


MAS, em vez de cair no conto do lullismo de que as denúncias não passavam de calúnias, uma parcela dos eleitores que nas urnas se revelaria significativa entendeu que a virulência do vosso guia representava uma confissão de culpa, além de indicar uma ameaça potencial à liberdade de informar em um eventual governo Rousseff. Na reta final, informado da mudança dos ventos, “O-CARA!” bem que tentou neutralizar a traulitada com uma autocrítica. "A gente precisa de humildade para não ficar com muita raiva quando escrevem contra", penitenciou-se num comício em Porto Alegre (RS), "e nem com muito ego quando é a favor". Foi muito pouco e muito tarde. Agora, diante de uma nova situação adversa - ou "problemática", como se ouve na ponte entre o Palácio do Planalto e o QG dilmista -, vosso guia torna a reagir pavlovianamente, atacando a Oposição e a Imprensa livre com renovado rancor.


NESSES momentos, suas palavras parecem atender antes a um arraigado sentimento, ou compulsão, do que ao objetivo de promover a sua ungida. Na noite do último dia 14, num comício em Ananindeua (PA), em surto de livre-pensar, disse que as acusações a Rousseff vêm "de uma parte da elite que fazia as mesmas acusações ao Ulysses (Guimarães), ao Tancredo Neves, às Diretas Já, a mim em 1985, 1989, a mim em 1994, a mim em 1998, 2002 e 2006". E, virando-se para ela, disparou: "Estão transferindo para você o ódio que acumularam contra mim".


AO QUE se saiba, nenhum dos políticos citados foi alguma vez acusado de ser "a favor do aborto" que é o que se passou a dizer de dona Rousseff nos púlpitos, em panfletos e na internet. E ao que se saiba, os acusadores não são "uma parte da elite" - pelo menos não no sentido que “O-CARA!” dá ao termo. Mas isso é detalhe quando ele dá vazão a si mesmo, quaisquer que sejam as consequências dessas irrupções para a sorte da candidata governista no tira-teima do próximo dia 31 de Outubro. Por sinal, num evento oficial em Teresina (PI), a lava do ressentimento correu solta.


EM FASE de citar o nome de Deus a três por quatro, também, afirmou que Ele "fez a vingança que eu queria" contra os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI), e Mão Santa (PSC-PI), que votaram contra a prorrogação da (extinta) Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e não se reelegeram. De volta ao passado, atribuiu as suas três derrotas consecutivas (1989, 1994 e 1998) em eleições presidenciais às "mentiras" dos que o temiam e não à própria biografia política e sindical acometido da “sindrome de touro miúra”, como bem batizou (àquela época) o saudoso colega jornalista Márcio Moreira Alves (Jornal O GLOBO/AGẼNCIA O GLOBO) – o nosso Marcito. "Diziam que era comunista, porque tinha a barba comprida. Mas Jesus também tinha. Tiradentes também tinha", declarou “O-CARA!”, como quem se alça a uma esfera superior.


O RESTANTE foi a repetição de sempre: o elogio da falta de estudo ("a arte de governar não se aprende em universidade, senão pegavam um na Academia Brasileira de Letras para ser presidente"), a divisão dos brasileiros entre ricos e pobres ("rico não precisa de governo, quem precisa de governo é pobre") e a alusão oblíqua a dona Rousseff ("a arte de governar é como a arte de ser mãe, cuidar da família, garantir direitos e oportunidades a todos"). Descontados os "acertos de contas" sem os quais aparentemente o vosso guia não consegue passar, é isso o que entende por politizar a campanha - a seu ver, a única estratégia capaz de revitalizar a candidatura governista que vem fazendo água. A companheirada destacam a sua presença na campanha do horário eleitoral como no primeiro turno. Compreende-se: para o bem ou para o mal, Luiz Inácio da Silva é tudo que Rousseff tem. Pior sem ele, pois.